MUDANÇAS SINISTRAS
Reduzir a burocracia nas questões de trânsito, onerar menos o cidadão com multas e confiar na autonomia dos motoristas para tomar decisões sensatas são, em suma, as principais justificativas para as propostas de mudanças no Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
O aumento do número de pontos para a perda da carteira de habilitação (CNH), duplicação do intervalo de tempo de realização do exame médico para a renovação da carteira, sem a obrigação que seja feita por um médico especialista na área, punições mais brandas para motociclistas nos usos dos itens de segurança, fim das multas pelo não uso do dispositivo de retenção (cadeirinhas) no transporte de crianças, retirada dos redutores de velocidade, enfim, é preciso ser muito fantasioso para imaginar essa série de incoerências.
O aumento do número de pontos da CNH para 40, ou 60, se fosse pela vontade do capitão-regente brasileiro, fará com que as pessoas entendam que a legislação está mais frouxa e que podem abusar mais.
A ampliação do intervalo do exame médico para dez anos esquece que somos portadores de cardiopatias, epilepsia, diabetes, demência, hipertensão, controle de ametropias para correção óptica, enfim, doenças que afetam a direção veicular e que são as causadoras de 12% dos acidentes de trânsito.
Também propõe o fim dos exames toxicológicos para motoristas profissionais das categorias C,D,E, apesar de que um dos maiores problemas de nossas longas estradas, neste País de dimensões continentais, é o uso de anfetaminas (rebite), cocaína e outras drogas psicotrópicas para ficar acordado.
Mas a utópica PL chegou ao clímax ao trocar a punição para quem transportar crianças indevidamente por uma advertência por escrito. Em 2017, um total de 279 crianças perderam a vida e 579 foram internadas em estado grave no SUS em razão de acidentes de trânsito.
Para que a criança esteja de fato protegida em caso de acidente de trânsito, é essencial que ela utilize o equipamento correto para sua idade, peso e altura. Estes dispositivos, quando usados corretamente, reduzem em até 71% o risco de morte em colisão.
Condutas como a intenção de pôr uma arma na mão de cada cidadão brasileiro e mudanças num trânsito que mata cerca de 40 mil pessoas ao ano, não podem ficar à mercê de quem transforma crenças, convicções pessoais e opiniões em Políticas de Estado.
Propostas como estas estão muito próximas da sinistralidade.
Jack Szymanski – Presidente da Associação Internacional de Medicina de Tráfego