Afetada nos últimos meses por um escândalo vinculado à inspeção de seus veículos no Japão, a montadora japonesa Nissan anunciou nesta sexta-feira (7) que descobriu novos problemas e divulgou um recall de 150.000 veículos.

Esta é mais uma notícia ruim para a Nissan, que enfrenta um momento difícil com a detenção em 19 de novembro de Carlos Ghosn. Alguns dias depois, ele foi destituído da presidência do conselho de administração do grupo, por suspeitas de sonegação fiscal.

Este número se soma ao 1,15 milhão de automóveis já convocados desde a revelação, no último trimestre de 2017, de más práticas nos controles feitos nas fábricas do arquipélago.

O recall, que será divulgado em 13 de dezembro, “está limitado ao Japão”, informou a empresa em um comunicado.

Hiroto Saikawa, presidente da Nissan, durante coletiva à imprensa, após prisão de Carlos Ghosn. Foto: Issei_Kato_Reuters

Desde novembro de 2017, a Nissan apresentou “contramedidas” para resolver essa situação. Mas isso não foi suficiente e, no verão passado, teve de admitir a falsificação de valores nesses testes, cujo objetivo é medir a economia de combustível e as emissões de gases poluentes.

– ‘Problemas eliminados’ –

A Nissan assegura que, desta vez, “todos os problemas foram eliminados”, declarou o vice-presidente do grupo, Seiji Honda, durante uma coletiva de imprensa na sede da companhia em Yokohama, perto de Tóquio.

A montadora japonesa, que é associada ao grupo francês Renault e à Mitsubishi Motors, destacou a “grande importância da implementação de 77 medidas” detalhadas em setembro passado como parte de um investimento de até 180 bilhões de ienes (mais de 1,3 bilhão de euros), especialmente para modernizar suas fábricas e centros.

Na ocasião, o diretor de competitividade da montadora, Yasuhiro Yamauchi, lamentou “a pouca consciência da gravidade da violação das normas de controle” e acusou a obsessão com a “redução de custos” em detrimento da “segurança, qualidade e (respeito) ao meio ambiente”.

Questionado nesta sexta-feira sobre a eventual responsabilidade neste caso do agora ex-chefe da Nissan Carlos Ghosn, conhecido como “cost killer” (“cortador de gastos”), a Honda respondeu: “de alguma forma, é possível”. Mas acrescentou que “nenhuma ligação direta foi estabelecida”.

Diante de perguntas sobre a governança da Nissan, cheias de dúvidas após o caso Ghosn, a Honda afirmou que o grupo “está revisando todos os seus procedimentos”, e não apenas em seus centros de produção.

Sobre Ghosn, a Promotoria de Tóquio decidiu acusá-lo, bem como o grupo Nissan, por sonegação fiscal, de acordo com o jornal econômico Nikkei.

A denúncia deve ser apresentada na próxima segunda-feira, quando acaba o período de detenção provisória do ex-presidente da Nissan, detido em Tóquio por sonegar 5 bilhões de ienes (44 milhões de dólares) em renda durante cinco anos, segundo investigadores japoneses.

Ghosn, que nega as acusações, permanece como presidente da fabricante de veículos francesa Renault, mas foi destituído da presidência dos conselhos de administração da Nissan e da Mitsubishi Motors.

Greg Kelly, braço direito de Ghosn e também detido, deve ser denunciado no mesmo dia, segundo o jornal Nikkei, que não cita suas fontes.

De acordo com o jornal, a promotoria investigará a Nissan por considerar que a empresa também tem responsabilidade na sonegação fiscal.

Contactada pela AFP, a Promotoria não comentou a notícia.

Já a Nissan recordou que “coopera plenamente” com a Promotoria, que iniciou suas investigações após receber um relatório interno da montadora sobre o caso.

Além da denúncia, os promotores pedirão uma nova ordem de detenção contra Ghosn, pela sonegação de mais 4 bilhões de ienes em três anos, segundo vários meios de comunicação.

Caso seja acatado, o pedido prorrogará a atual prisão provisória por 22 dias, a partir de segunda-feira.

Fonte: Jornal Estado de Minas