Em fevereiro de 2007, a cabeleireira Neusa de Oliveira, de

Sertãozinho, irá completar 60 anos. É uma pessoa cheia de

saúde, sacudida e esbanja energia. Sua diversão predileta é

viajar, seja para visitar parentes ou fazer passeios

turísticos. Adora andar de ônibus. Não faz questão de parar

no meio do caminho. Quer chegar logo ao destino. Não fica

impaciente e nem apresenta problemas de circulação nas

pernas, mesmo ficando muito tempo sentada.

Da mesma sorte não desfruta seu esposo, dois anos mais

velho. Ele teve um derrame cerebral, se recuperou fazendo

fisioterapia, mas não consegue viajar sem fazer algumas

paradas. Necessita esticar o corpo e ativar a circulação.

“Quando viajo com ele, escolhemos ônibus com paradas. Mas

quando vou a São Paulo sozinha, por exemplo, prefiro pegar o

ônibus direto. Chega mais rápido”, comenta Neusa.

Assim como ela, muitos passageiros preferem fazer o trajeto

sem paradas. Mas a maioria ainda gosta de dar aquela

tradicional esticada no esqueleto, mesmo sem ter problemas

de saúde. É o que constatou a equipe de reportagem do jornal

A Cidade, no trajeto de ida e volta entre Ribeirão Preto e

São Paulo no último dia 1º.

Ida sem parada

No trajeto de ida, o ônibus partiu às 14h15 com destino à

Capital, sem direito a parar em algum restaurante próximo à

rodovia Anhangüera. Chegou na Estação Rodoviária de São

Paulo às 18h40. Foram 4 horas e 25 minutos de viagem.
Poderia ser mais rápido, se não fossem duas paradas à beira

da rodovia Anhangüera, para embarque e desembarque de

passageiros, uma em Cravinhos e outra em Campinas. A

cabeleireira Neusa iria gostar.

Mas o gerente de loja Sérgio Ferreira Santos, que estava no

mesmo ônibus, não gostou, assim como vários outros

passageiros.

“Viagem com qualidade é viagem com parada para descanso.

Encarar o horário de pico dentro de São Paulo é desgastante

tanto para o passageiro quanto para o motorista. Quinze ou

20 minutos a mais podem proporcionar mais tranqüilidade a

ambos na reta final”, observou.

Do fim da rodovia Anhangüera até a Estação Rodoviária de São

Paulo, o ônibus demorou 40 minutos.

Nesse período, o sintoma de cansaço e impaciência dos

passageiros era visível. Muitos levantavam nos corredores e

outros iam ao toalete. “Ufa. Chegou. Parece que andar dentro

de São Paulo demora mais que andar na rodovia”, disse o

comerciante Pedro de Andrade Neto.

Volta com parada

No trajeto de volta, o ônibus partiu de São Paulo às 20h30,

com direito a parada de 20 minutos em um restaurante próximo

à Limeira. Chegou na Estação Rodoviária de Ribeirão Preto à

0h50. Foram 4 horas e 20 minutos de viagem, tempo menor que

o trajeto de ida para São Paulo.

Cerca de 90% dos passageiros desceram no restaurante na hora

da parada, entre eles o gerente de crédito Amauri Tavares

Fonseca. “Desci para ‘circular as veias’. Sempre fiz a opção

pelo ônibus com parada. Nem se for para esperar um pouco

mais antes de embarcar. É uma qualidade a mais no

atendimento ao usuário”, afirmou.
Durante toda a viagem de volta nenhum passageiro demonstrou

cansaço ou impaciência, mesmo com outras duas paradas à

beira da rodovia, nos municípios de Limeira e Cravinhos.

“Tranqüilo, sem estresse, tanto para nós quanto para o

motorista. Viagem perfeita”, avaliou o representante

comercial Antônio José Silveira.


REGULAMENTAÇÃO
Portaria obriga parada para viagens acima de 170 km

Cerca de 70% das viagens de ônibus no trecho entre Ribeirão

Preto e São Paulo são feitas sem paradas.
As empresas de transporte que atuam nesse trecho estão

descumprindo a Portaria número 9, da Artesp (Agência

Reguladora de Transportes do Estado de São Paulo).

A portaria, publicada no Diário Oficial do Estado do dia 13

de maio do ano passado, estabelece que todas as empresas de

ônibus que realizam viagens acima de 170 quilômetros são

obrigadas a fazer paradas para descanso do motorista e dos

passageiros.

Segundo o texto da portaria, o objetivo da parada é

“garantir a segurança, conforto dos passageiros e descanso

mínimo na jornada de trabalho para os condutores”.
Os motoristas preferem não se pronunciar sobre o assunto

para evitar “perseguições”.

Fiscalização
De acordo com a Artesp, o órgão regulador não tem pessoal

suficiente para fiscalizar todos os trajetos, mas vem

atuando com rigor e, até o momento, já aplicou mais de 50

multas nos trechos considerados mais críticos, entre eles

Ribeirão Preto/São Paulo.

A multa para a empresa que infringe a norma da parada

obrigatória é de apenas R$ 12,50 por veículo.