O consórcio SPMar, formado por duas empresas do Grupo Bertin (Contern e Cibe), foi o grande vencedor do leilão de concessão do Rodoanel de São Paulo, realizado ontem pelo governo paulista. Com deságio de 63,35%, o grupo desbancou gigantes do setor de transportes e abocanhou os dois trechos licitados: o sul, pronto para instalar as praças de pedágio, e o leste, que terá de ser construído do zero.

De acordo com a proposta do grupo, a tarifa que será cobrada no trecho sul será de R$ 2,1991. O valor ficou bem abaixo do apresentado pelos consórcios Serramar (Serveng, Laboratório EMS e Encalso), de R$ 5,28, e Rodoanel Sul Leste (Odebrecht, Ecorodovias, Invepar e Queiroz Galvão), de R$ 5,69. A CCR, detentora da concessão do trecho oeste do Rodoanel, não participou do leilão por considerar o projeto arriscado e com baixa taxa de retorno.

O resultado de ontem ainda não é definitivo. Por se tratar de um leilão com fases reversas, as propostas abertas passarão pelo processo de análise das metodologias e execução da obra. “Essa é apenas a fase inicial do leilão. Agora toda documentação terá de passar por uma análise da agência reguladora (Artesp)”, afirmou o governador de São Paulo, Alberto Goldman.

A precaução do governador está baseada na última licitação das rodovias estaduais, em que a Triunfo Participações perdeu a concessão na fase de habilitação, após a abertura das propostas, por não apresentar as garantias exigidas no edital. De qualquer forma, o governador acredita que, se tudo der certo, o contrato – de 35 anos – será assinado até dezembro.

Seis meses depois, a empresa poderá iniciar a cobrança de pedágio no trecho sul. As obras do trecho leste, cujas tarifas também serão reduzidas em 63,35% conforme a regra do edital, deverão ser concluídas em 30 meses. O volume total de investimentos será de R$ 5 bilhões, sendo R$ 4 bilhões nos primeiros quatro anos.

Lance. A proposta dada pelo consórcio SPMar foi considerada muito arrojada pelo mercado. Segundo um analista, que prefere não se identificar e que estudou o projeto, é difícil entender a estratégia do grupo vencedor, já que os números iniciais mostravam taxas de retorno muito baixas. Para ele, a explicação pode estar na construção do empreendimento, o que poderia turbinar a construtora Contern no mercado. Os analistas apostavam em descontos entre 25% e 35%, já que a construção do trecho Leste tem alguns problemas delicados, como a questão ambiental e o custo de desapropriação das áreas.

Em nota, o Bertin afirma que a proposta dada no ontem no leilão faz parte de uma estratégia de se tornar, no curto prazo, um dos grupos mais importantes do setor de concessões, “e o Rodoanel paulista, pelas características, é sua maior prioridade”.

Para isso, diz a empresa, formou uma equipe de consultores e especialistas que se dedicou por mais de 18 meses para chegar a uma proposta com um modelo fortemente competitivo. Além disso, o grupo lembra que contará com a linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A instituição vai financiar até 70% do investimento.

Rodoanel norte. Terminado o processo de licitação dos trechos sul e leste, o governo já começa a focar os trabalhos do trecho norte, que deve ser o mais complicado por questões ambientais. “Já temos o traçado, mas com os estudos de impacto ambiental poderá haver mudanças. Em breve iniciaremos o processo de audiências públicas”, afirmou o secretário de Transportes do Estado, Mauro Arce.

Ele conta que o empreendimento terá 12 túneis, sendo 6 por pista. O trecho deverá ser licitado nos mesmos moldes do leilão ocorrido ontem.

PROJETOS DO GRUPO BERTIN

Belo Monte
A empresa se tornou sócia da terceira maior hidrelétrica do mundo, que será construída no Rio Xingu, no Pará. O Bertin é sócia da usina por meio das subsidiárias Gaia, classificada como autoprodutora, e da construtora Contern. A participação da holding no empreendimento é de 10,25%

TAV
A empresa é uma das parceiras do consórcio coreano KTX, que pretende disputar a licitação do Trem de Alta Velocidade (TAV), entre Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas. O volume de investimentos, nesse caso, pode variar entre R$ 33 bilhões e R$ 50 bilhões, conforme cálculo do mercado.

Rodoanel
O Grupo Bertin, por meio das subsidiárias Contern e Cibe, arrematou ontem os trechos Sul e Leste do Rodoanel paulista. Juntos, os dois trechos exigirão investimentos da ordem de R$ 5 bilhões durante o contrato de concessão. Além disso, a empresa terá de pagar R$ 370 milhões de outorga