Ela foi criada para dar segurança na travessia dos pedestres em vias muito movimentadas. No entanto, muita gente ignora o propósito das passarelas e passa, muitas vezes, até por baixo delas

As desculpas são inúmeras. Perda de tempo, medo de assalto, preguiça. Para fugir das passarelas, essas são as principais razões apontadas por pedestres. Construídas para dar mais segurança na travessia, nem todo mundo usa. Muitos preferem se arriscar correndo entre os carros a gastar uns minutos a mais para atravessar de forma segura. Tanto na avenida Washington Soares, como nas BRs 116 e 222, é muito fácil observar exemplos de quem prefere uma passagem mais perigosa.

Para se ter uma idéia, a diferença entre atravessar a avenida Washington Soares pela passarela em frente à Universidade de Fortaleza (Unifor) e pela via é de menos de um minuto. A passos normais, sem pressa, a travessia por cima da avenida dura aproximadamente dois minutos e 45 segundos. Por baixo da passarela, o percurso leva um tempo de cerca de um minuto e 40 segundos. “A maioria das pessoas acaba passando por baixo. Eu sou um. Dá mais trabalho passar pela passarela. Além disso, com os semáforos ficou muito mais fácil”, afirma o estudante Pedro Eduardo Silveira, aluno de Administração da Unifor.

Já Thiago Barbosa, aluno de Engenharia Civil, ainda utiliza a passarela, mas somente nos horários mais congestionados. “Quando o trânsito está mais tranqüilo, como no meio da manhã, eu passo por baixo mesmo. Mas nas horas de pico, tenho medo. Prefiro ir pela passarela. Um professor meu já morreu atropelado e eu prefiro não arriscar”. Na passarela em frente ao Fórum Clóvis Beviláqua, também na Washington Soares, a travessia fora da passarela é um pouco mais difícil. Por esta razão, a técnica em enfermagem Juliana Pinto prefere não arriscar. “Sempre passo por cima, tenho medo dos carros, que não respeitam ninguém”.

No entanto, Juliana teme outro problema: os assaltos. Problema relatado por muitos outros pedestres, especialmente na BR-116. O medo do frentista Jenilson Rocha de ser assaltado é maior do que o de ser atropelado. Então, ele só passa pela pista. “Por baixo eu ainda posso correr, e por cima, se eu for assaltado, o que é que eu posso fazer?”, questiona. Para Carlos Henrique Pires, diretor de trânsito da Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e Cidadania (AMC), o desrespeito à passarela não depende de instrução ou condição social. “Não há um estudo que comprove, mas muitas pessoas preferem passar por baixo”.

Ele destaca que uma solução, pelo menos nos locais onde não há problemas de assalto, é a restrição física. “É coibir com algum obstáculo físico. Assim, as pessoas ficam impedidas de atravessar por baixo”, explica. Conforme a Polícia Rodoviária Federal (PRF), foram 155 atropelamentos somente nas BRs 116 e 222 em 2007, sendo 24 e 20 mortes em cada um, respectivamente. De janeiro a abril deste ano, já foram registrados 47 acidentes deste tipo, sendo sete mortes na BR-116 e quatro, na 222.

Danilo Lima, assessor de comunicação da PRF, afirma que a maioria dos atropelamentos ocorre no trecho urbano das rodovias. “O que a gente encontra é imprudência das pessoas. Elas alegam medo de assalto, mas correm um risco em dobro abaixo, de ser assaltado e de ser atropelado”, conclui. Na Washington Soares, de acordo com a Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania de Fortaleza (AMC), foram registrados 48 atropelamentos em 2007. Uma pessoa morreu.

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O QUE DIZ A LEI

Segundo o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), os pedestres que se põem em risco, deixando de usar faixas, passagens subterrâneas e passarelas a eles destinadas, estão infringindo o artigo nº 254 da lei.

A penalidade é multa de 50% do valor de uma infração leve (ou seja, metade de R$ 53,20).

ATROPELAMENTOS NAS BRS
2007
185 atropelamentos, sendo 59 mortes
BR 116 – 76 (24 mortes)
BR 222 – 79 (20 mortes)
Outras – 30 (15 mortes)

De janeiro a abril 2008
58 atropelamentos, sendo 13 mortes
BR 116 – 32 (7 mortes)
BR 222 – 15 (4 mortes)
Outras – 11 (2 mortes)


Fonte: Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e Polícia Rodoviária Federal (PRF).