Depois de passar 48 dias em greve — 27 deles após a lei de tolerância zero à combinação álcool e direção entrar em vigor —, a equipe da Polícia Rodoviária Federal (PRF) volta nesta sexta-feira (18/07) às estradas. A prioridade será fiscalizar o consumo de bebidas alcoólicas por motoristas de caminhões e de ônibus. “Sabemos que muitos bebem cerveja ou cachaça nos intervalos das refeições”, afirmou o chefe substituto do Núcleo de Policiamento e Fiscalização da PRF, Laerte Maurício da Silva.
Os policiais rodoviários esperam realizar os flagrantes durante blitzes diárias, feitas de surpresa nas nove rodovias que cortam o Distrito Federal. Em princípio, será uma BR por dia. Mas a estratégia pode ser revista de acordo com o número de condutores alcoolizados abordados. “Também vamos fiscalizar outros delitos de trânsito e crimes como tráfico de drogas e contrabando”, comentou o inspetor Laerte Silva. Uma ação educativa está marcada para as 11h de domingo (20/07), no posto da PRF na BR-040, onde haverá estandes do Departamento de Trânsito do Distrito Federal e do Exército. Cerca de mil motociclistas participarão de um passeio pela rodovia.
No período em que os agentes da PRF estiveram paralisados, exigindo melhor remuneração, 12 pessoas perderam a vida em nove acidentes registrados nas rodovias federais que cruzam o Distrito Federal. Em entrevista ao Correio, o presidente do Sindicato dos Policiais Rodoviários Federais do DF, inspetor José Nivaldino Rodrigues, admitiu que a ausência de fiscalização pode ter contribuído para a ocorrência de tragédias. “A greve pode até ter contribuído, mas a responsabilidade se dá em um contexto mais amplo. Tem que se levar em conta também que os períodos analisados são posteriores ao início do nosso movimento”, completou.
Tragédias
Um dos desafios da PRF será fiscalizar com rigor os 900km de rodovias federais que cortam o DF. A unidade de Brasília conta com 132 agentes — divididos em turnos de 24 horas de trabalho por 72 horas de folga—, 10 carros e cinco bafômetros. A estrutura é inversamente proporcional aos problemas. Para o inspetor Laerte Silva, seriam necessários uma equipe quatro vezes maior e pelo menos um bafômetro por carro. Uma licitação realizada em Minas Gerais pode dar um pouco mais de fôlego à corporação, com a compra dos cinco bafômetros adicionais com que sonha o inspetor.
“Temos um problema maior aqui que em outras cidades. Nossas rodovias são praticamente urbanas e a circulação de veículos é muito grande”, disse Laerte. Talvez por isso, os acidentes nas rodovias federais da região têm sido mais graves do que os registrados em vias urbanas. A média é de uma morte por ocorrência na cidade e de 1,2 por acidente em estrada.
A BR-020, por exemplo, tem freqüentado os noticiários por causa de violentos acidentes. Em um deles, três irmãos perderam a vida. Um Palio prata capotou próximo à entrada da Embrapa Cerrados, no sentido Sobradinho—Planaltina. Evanio Rodrigues da Silva, 18 anos; Evanessa, 18; e Gleicia, 16, não resistiram ao acidente. O motorista do carro, Pedro Andriak Soares da Silva, 24, admitiu ter bebido oito latas de cerveja antes da tragédia. Laudo preliminar do Instituto de Medicina Legal (IML) comprovou a embriaguez.
Prisão
Sem a ajuda dos policiais rodoviários, a Polícia Militar tem assumido a responsabilidade de fiscalizar algumas rodovias locais. Na madrugada de ontem, um bloqueio da corporação na BR-450, sentido Plano Piloto—Sobradinho, flagrou um condutor embriagado. Detalhe: o motorista era o policial militar reformado pelo estado de Goiás Washinton de Souza Borges, 45 anos.
Segundo informações do sargento Valdeni Pereira da Silva, comandante do posto do Batalhão da Polícia Militar instalado no local, o Marea placa GYZ 8348–DF, conduzido por Washinton, foi parado às 2h. Como ele apresentava sinais de embriaguez, acabou submetido ao teste do bafômetro, que detectou 0.88 miligrama de álcool por litro de ar expelido dos pulmões. Segundo a Lei Federal nº 11.705/08, que instituiu a tolerância zero de álcool ao volante, o motorista responde criminalmente se o teste der acima de 0,3 miligrama de álcool por litro de ar expelido.
Assim, depois de comprovada a direção perigosa, Washinton foi autuado em flagrante e encaminhado para a 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho), onde pagou fiança de R$ 1,5 mil para ser liberado. Mas ele responderá em liberdade a um processo criminal por dirigir sob influência de álcool. Se condenado, poderá cumprir pena de seis meses e três anos de prisão. Além disso, o motorista foi multado em R$ 957 e terá a carteira de habilitação suspensa por um ano.
Durante a ação, os policiais também constataram irregularidades no veículo, como multas pendentes. Segundo o sargento Valdeni, a autuação de motoristas embriagados no local é comum. “Nos fins de semana, chegamos a registrar dois casos por dia”, relatou.