O doutor em Psicologia do Trânsito, professor Fábio de Cristo, defende a adoção do conceito do “sistema seguro”, fortemente apoiado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), para tratar as questões relativas à segurança no trânsito. Foto: Divulgação

Conceito é defendido pela Organização Mundial da Saúde (OMS)

O doutor em Psicologia do Trânsito, professor Fábio de Cristo, defende a adoção do conceito do “sistema seguro”, fortemente apoiado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), para tratar as questões relativas à segurança no trânsito.

Trata-se de uma abordagem que prevê o compartilhamento de responsabilidades entre diversos setores – incluindo transporte, saúde, política, indústria e sociedade civil – a fim de criar uma rede de proteção para as pessoas no ambiente viário e reduzir a ocorrência de acidentes com vítimas.

“O ser humano é o centro da abordagem do sistema seguro, considerando sua fragilidade diante dos impactos da colisão e de suas limitações que, frequentemente, resultam em falhas. Isso significa que todas as partes do sistema devem ser fortalecidas para que, se uma falhar, as outras continuem a proteger a pessoa”, explica.

Confira abaixo a entrevista completa.

1-Muitos acidentes de trânsito no país ocorrem em razão de comportamentos potencialmente perigosos dos condutores. Como estimular uma mudança de conduta? 
Estimular a mudança passa, inicialmente, pela compreensão de que os acidentes de trânsito possuem muitas causas, sendo difícil, muitas vezes, determiná-las. Assim, atualmente, os acidentes são compreendidos como um encadeamento de situações que falharam, incluindo o comportamento.

No trânsito, vários elementos estão em constante relação: o ser humano, o veículo e a via, sendo importante zelar por eles. O comportamento humano, evidentemente, é um fator decisivo quando falamos em acidentes, seja ele motorista, pedestre, ciclista ou motociclista.

As pessoas devem estar em boas condições físicas e psicológicas para perceber, interpretar e reagir aos diversos estímulos da via (por exemplo, as sinalizações de trânsito, os demais veículos, os ciclistas, os animais e os transeuntes).

Assim, os principais fatores de risco para os acidentes são tudo aquilo que interfere nessas boas condições físicas e psicológicas, uma vez que isso tudo faz com que as pessoas não percebam uma situação de perigo na via e não respeitem as normas e os limites de velocidade.

2-Acidentes com motociclistas, a maioria jovens, do sexo masculino, lideram as estatísticas de indenização por morte e invalidez permanente pelo Seguro DPVAT. O que poderia ser feito em relação a esse grupo, cada vez mais numeroso?
Dentre vários aspectos, destaco, por um lado, as políticas de incentivo à compra de motocicleta, a facilidade de aquisição e de manutenção desses veículos. Por outro, a ausência de políticas efetivas de incentivo ao transporte público e a precariedade dessas opções.

Neste panorama, quem tem a mínima possibilidade de possuir um veículo próprio, assim procederá. O aumento nos acidentes com motociclistas é consequência direta de sua maior utilização.

Adicionalmente, há a natureza vulnerável desse transporte, uma vez que há poucos recursos de proteção; há um estimulo de vida moderno, que tem demandado serviços prestados por motociclistas, onde a necessidade de rapidez é muito grande, aumentando os riscos; e existem os próprios comportamentos de risco, especificamente do público em questão (jovens e do sexo masculino), pois estudos têm mostrado que esse grupo tende a se arriscar mais quando comparado a outros (exemplo: mulheres versus homens).

3-O que falta para promover uma efetiva redução de mortes no trânsito?
Promover uma mudança efetiva requer um esforço múltiplo, em conformidade com a variedade de causas. Uma abordagem que tem subsidiado esse esforço de envolver todo o sistema de trânsito é a “abordagem do sistema seguro”, amplamente apoiado pela Organização Mundial de Saúde.

Adotá-la requer compartilhamento de responsabilidades, envolvimento e colaboração mútua de muitos setores, incluindo transporte, saúde, política, indústria e sociedade civil. O ser humano é o centro da abordagem do sistema seguro, considerando sua fragilidade diante dos impactos da colisão e de suas limitações que, frequentemente, resultam em falhas.

Isso significa que todas as partes do sistema devem ser fortalecidas para que, se uma falhar, as outras continuem a proteger a pessoa. Quatro fatores são o foco da abordagem: a velocidade segura; os usuários da via seguros; os veículos seguros; e as vias e entornos seguros, considerados fatores-chave para prevenir as mortes e as lesões sérias e debilitantes.

Um conjunto de ações complementares relacionadas devem ser implementadas: monitoramento, administração e coordenação das ações; análise de dados, pesquisa e avaliação; normas de trânsito e fiscalização; registro de veículos; educação e informação; e inovação.

Como se percebe, não é uma tarefa simples, mas é necessário vontade de todas as partes envolvidas (indivíduos, sociedade, políticos, empresas etc.), planejamento e ação. As diretrizes gerais já existem e têm funcionado para os países que as adotaram.

Para saber mais:
Psicologia e trânsito – Reflexões para pais, educadores e (futuros) condutores
Livro voltado para o público geral, abordando de maneira educativa como a psicologia pode colaborar no comportamento no trânsito seguro.

Pesquisas sobre comportamento no trânsito
Livro especializado que divulga estudos sobre o comportamento no trânsito a as implicações práticas dos seus resultados aplicados aos motoristas de automóvel, de caminhão e de ônibus, pedestres, ciclistas e mototaxistas. Portal de psicologia do trânsito: www.portalpsitran.com.br.

Fonte: Seguradora Líder