Malas prontas, passagens, reservas de hotel e agenda de reuniões não devem ser as únicas preocupações dos profissionais que viajam a trabalho. De acordo com o médico Jessé Alves, membro do Núcleo de Medicina do Viajante do Instituto Emílio, executivos e profissionais de campo que viajam dentro de fora do Brasil precisam tomar vacinas para se prevenir para não contrair doenças infecciosas como febre amarela, hepatite A, raiva.
“Só agora as empresas estão começando a tomar medidas para proteger a saúde dos profissionais que viajam e trabalham no Exterior, embora o número de viagens internacionais a trabalho venha aumentando a cada dia”, afirma o especialista, que participou de mesa-redonda sobre saúde de profissionais viajantes, promovida pela Sanofi Pasteur, divisão de vacinas do grupo Sanofi-Aventis, dentro do Congresso Paulista de Médicos do Trabalho, em São Paulo.
Em 2005, mais de 3,8 milhões de brasileiros viajaram ao Exterior, conforme dados do Ministério do Turismo. Em razão da globalização, cresce a cada ano a presença de empresas brasileiras no Exterior, incluindo países da África e da Ásia. Hoje, viajar e trabalhar no Exterior já não é uma atividade exclusiva dos executivos. Empresas do setor petroleiro e construção mantêm um grande contingente de profissionais de campo, alguns trabalhando em locais onde as condições de higiene e saúde estão longe das ideais.
As viagens a trabalho no território nacional também merecem atenção. Pesquisa realizada pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), sob encomenda do Ministério do Turismo e da Embratur, revelou que no primeiro semestre de 2006 de cada 10 brasileiros, quatro realizaram viagens domésticas.
“A vacinação é importante porque evita doenças infecciosas que, se afetarem o trabalhador, geram custos para as empresas com perdas de dias de trabalho, eventuais complicações, medicamentos, remoção para outros locais”, disse Jessé Alves.
Outra integrante da mesa-redonda, a médica Isabela Ballalai, presidente da filial do Rio de Janeiro da SBIM – Sociedade Brasileira de Imunizações, acredita que esta proteção deve ser estendida também aos trabalhadores, responsáveis pelo serviço receptivo de estrangeiros, como taxistas, motoristas de ônibus, guias turísticos, funcionários de aeroportos, portos, hotéis e restaurantes para evitar que os brasileiros sejam contaminados por doenças transmissíveis.
Hoje, no Brasil, não existe disponibilidade de as pessoas adquirirem as vacinas do hemisfério Norte. Por isso devem, pelo menos, tomar as indicadas para o hemisfério Sul. “Assim estarão parcialmente protegidos contra a gripe”, pondera o professor da Unicamp que também é Membro da Comissão Permanente de Assessoramento em Imunizações da Secretaria Estado da Saúde de São Paulo.
Além de tomar vacinas, o trabalhador viajante deve tomar medidas para evitar doenças, como a diarréia, que afeta 70% dos viajantes. A diarréia pode ser provocada por vários agentes como bactérias, vírus e protozoários. Para não sofrer este desconforto, o viajante deve beber apenas líquidos engarrafados industrialmente, nunca tomar nada com gelo, usar copos e canudos, evitar alimentos condimentados, crus ou mal cozidos, comer frutas e legumes bem lavados.
Vacinas
Existem dois tipos de vacinas para os viajantes: as obrigatórias e as recomendadas. As obrigatórias são exigidas pelas autoridades sanitárias antes da viagem como é o caso vacina contra febre amarela (para quem viaja para países da região amazônica) e contra meningite meningocócica (para quem vai até a Arábia Saudita). O trabalhador que viaja pelo Brasil deve se prevenir contra a febre amarela se seu destino forem também os estados de Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal.
Os profissionais que vão trabalhar na África e no Sul e Sudeste da Ásia, próximo a aldeias onde vivem muitos cachorros, morcegos e macacos devem se prevenir contra a raiva, doença provocada por um vírus, transmitido pela mordida de um animal infectado. Os primeiros sintomas (como febre, mal-estar, dor de cabeça, falta de apetite) são seguidos de crises nervosas, insônia, depressão, paralisia e aversão a líquidos. A esses profissionais recomenda a vacinação profilática pré-exposição, que é feita em três doses.
Mesmo quem já foi vacinado na infância contra poliomielite deve tomar um cuidado redobrado se for trabalhar na África e na Ásia. Uma dose de reforço é recomendada se passados dez anos da dose inicial.
O trabalhador que for permanecer em locais com alta incidência de hepatite B (região Amazônica, África e Ásia) deve se prevenir contra esta doença, considerada a mais perigosa das hepatites virais. Nesses locais mais de 50% dos casos resultam de contatos sexuais. Entretanto o contágio pode ocorrer por objetos cortantes – como alicates de unha, lâminas usadas por barbeiros, tatuagens, piercings – e até o uso compartilhado de escovas de dente.
O rol de vacinas a ser tomado pelo viajante depende do destino. Em São Paulo, o Instituto Emílio Ribas mantém um serviço de orientação aos viajantes. As consultas devem ser marcadas pelo telefone 11 3896-1400. No Rio de Janeiro, trabalho semelhante é realizado pelo Cives – Centro de Informação em Saúde para Viajantes da UFRJ, cujas consultas são agendas por meio do endereço eletrônico [email protected].
Em 2007, a SBIM vai criar o Comitê de Saúde de Viajante, que terá entre suas atribuições criar publicações médica e um hotsite, a ser hospedado no site www.sbim.org.br, com informações para profissionais de saúde e público leigo.