No dia 15, o governo estadual dará início às obras do trecho Sul do Rodoanel Mário Covas sem um centavo dos R$ 33,9 milhões prometidos pelo governo federal, embora Estado e União tenham fechado acordo bipartite – dois terços e um terço, respectivamente – para a finalização do projeto. A nova fase ligará o Grande ABC ao trecho Oeste, entregue em 2001, e, provavelmente, será comemorada pelo governador Cláudio Lembo (PFL) no trevo da via Anchieta. Foram cinco
anos de atraso, discussões sobre o traçado e complicações ambientais.

A construção dependia apenas da liberação da licença de instalação, enviada na quinta-feira pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis) à Secretaria Estadual do Meio Ambiente. Nesta segunda-feira, o documento – aguardado há três semanas – será remetido para a Secretaria Estadual dos Transportes, responsável pelo projeto.

Com o início das obras, a região passará por uma profunda transformação nos próximos quatro anos, prazo estipulado para o término do trecho Sul. Serão cerca de 1,7 mil residências
desapropriadas e construções em quatro das sete cidades do Grande ABC. A rodovia nascerá em Mauá, passará por Ribeirão Pires, Santo André, São Bernardo, São Paulo, Itapecerica da Serra e Embu, desembocando na rodovia Régis Bittencourt, na parte Oeste. As obras serão divididas em cinco etapas, sendo a primeira delas a Mauá/Anchieta, seguida pelos trevos da Anchieta, Imigrantes, ponte da represa Billings e o segmento Parelheiros/Régis Bittencourt. Juntos, os trechos Sul e Oeste serão responsáveis por interligar sete das 10 rodovias pertencentes ao projeto.

Com 61,4 quilômetros de extensão, a ala Sul do Rodoanel é divida em 57 quilômetros de pista e 4 quilômetros de ligação em Mauá, feita por meio da conexão com a avenida Papa João XXIII, que será duplicada para receber o novo tráfego. Em Mauá também passará a futura extensão da avenida Jacu-Pêssego, responsável pela ligação com a zona Leste.

Já o trevo da Imigrantes terá alças de grande capacidade para manter livre as rodovias interligadas. Principal responsável pelo tráfego de cargas do Porto de Santos, a via Anchieta – que tem adutoras, gasodutos e polidutos – exigiu projeto adequado do trevo para respeitar esses dispositivos e também isolar a estação de captação de água da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). Por isso, serão desenvolvidos sistemas de drenagem
para direcionar as águas do Rodoanel e barreiras de contenção como forma de evitar o assoreamento das represas.

Projeto – A grande polêmica do trecho Sul foi movida pelas características ambientais das quatro cidades do Grande ABC. Todas abrigam áreas de mananciais, locais de proteção permanente. Para chegar ao menor índice de degradação, 13 audiências públicas e discussões com órgãos ambientais foram promovidas. O governo estadual chegou a ser multado pelo desmatamento de centenas de hectares.

O traçado foi feito para não induzir a ocupação nessas zonas, já que o trecho Sul terá 38 quilômetros sem qualquer acesso às avenidas da região, passando por Itapecerica e Parelheiros até chegar à rodovia dos Imigrantes. Após o cruzamento com a Via Anchieta, prossegue em
direção a Mauá, margeando o braço do Rio Grande, funcionando como uma barreira à ocupação desordenada e prevenindo a degradação do manancial que abastece a região. O Rodoanel também passará pelo reservatório da Billings por meio de duas pontes: uma no braço do Bororé e outra no corpo principal. Para preservar essas áreas, serão criados novos parques do Embu, de Itapecerica, do Jaceguava e do Bororé, que garantirão outros mil hectares de área verde à região.

Está prevista a revitalização do Parque do Pedroso, em Santo André, com acréscimo de mil hectares com o replantio e a conexão com formações florestais isoladas.