Crateras e erosões levam pânico a motoristas e moradores de cidades às margens da principal ligação entre Sul de Minas e Zona da Mata. Lideranças apelam para providência divina.
Caminhoneiros que circulam pela estrada são obrigados a fazer um sinuoso balé para evitar degraus na pista. Dnit diz que só vai tapar buracos no fim do período chuvoso
Bom Jardim de Minas – Calvário para os motoristas, desconforto para os passageiros e armadilha para os veículos. A BR-267, entre Caxambu, no Sul de Minas, e Juiz de Fora, na Zona da Mata, se transformou em rodovia do medo e de perigos constantes para moradores da região e visitantes. Crateras, degraus no meio da pista, erosões nas laterais e um sinuoso balé de caminhões, ônibus e carros de passeio aumentam a ansiedade de quem passa pela região a trabalho ou de olhos nas belezas turísticas. Com as chuvas torrenciais que castigam os municípios, a situação se tornou ainda pior, já que a água cobre os buracos, reduz a visibilidade e favorece os acidentes.
Calma e atenção são palavras de ordem para trafegar na rodovia, diz o distribuidor de medicamentos Sinval Tobias Júnior, que reside em Caxambu. “Este ano, o problema está maior do que em 2006. Andaram fazendo um consertos no asfalto, mas não adiantou nada. O resultado é perda de tempo e um gasto extra em mais de 40 minutos na viagem”, afirma. Com bastante experiência no volante, ele aconselha os viajantes a fazerem o percurso somente durante o dia. “À noite, se chover, ninguém enxerga os buracos. E se o carro estragar ou furar um pneu, não há como conseguir ajuda”, orienta.
Sinval já perdeu o número de vezes em que viu carros “quebrados”, principalmente entre Lima Duarte e Serranos, ou na iminência de bater em outros: “Para fugir dos buracos, os motoristas entram na contramão, oferecendo riscos”. Basta ficar algum tempo no acostamento para ouvir o eco das palavras de Sinval, pois indignação e horror andam juntos nas carretas, ônibus, ambulâncias, motocicletas e carros.
Para o reitor do Santuário do Senhor Bom Jesus do Livramento, em Liberdade, padre Tadeu Jesus Vieira, só a “providência divina” pode dar um jeito. No seu trabalho pastoral, ele visita as cidades vizinhas dirigindo o seu veículo, mas sempre redobra os cuidados. “Não tenho coragem de viajar à noite sozinho. Alguém precisa dar um jeito urgentemente, pois está difícil. Acho que só Deus mesmo”, conta o padre, enquanto dribla um trecho, numa curva, em que o que era asfalto se alterna com a lama ou some de vez.
De acordo com informações do Departamento Nacionais de Infra-estrutura de Transportes (Dnit) em Belo Horizonte, a operação tapa-buracos só vai começar na rodovia depois da estação chuvosa. Os técnicos dizem ainda que aguardam verba federal, que vai chegar este mês, para os reparos.
Dificuldade
As estradas de terra na Zona da Mata também se encontram em petição de miséria. Viajar entre os municípios de Rio Preto e Santa Rita de Jacutinga, no Vale do Rio Preto, na divisa de Minas e Rio de Janeiro, é outra tarefa muito difícil e delicada para motoristas e passageiros. A única alternativa é esquecer a estrada mineira e seguir pela fluminense, numa volta pela zona rural do município de Valença (RJ).
Em Rio Preto, os motoristas de táxi, quando alguém pede informação, nem pensam duas vezes. “Só pelo Rio de Janeiro, porque pelo lado de Minas vai ficar agarrado”, respondem. Nas estradas vicinais, entre fazendas e sítios, os atoleiros também representam novas armadilhas.