Trecho entre Florianópolis e Lages tem problemas na pista e sinalização
Transitar pelas rodovias catarinenses é uma aventura. Cerca de 66,5% das estradas que cortam o Estado apresentam deficiências no pavimento, na sinalização ou, pior, na engenharia. Dos 2,8 mil quilômetros em Santa Catarina percorridos pela Confederação Nacional de Transportes (CNT) para concluir a 11ª Pesquisa Rodoviária, 1,8 mil foram considerados péssimos, ruins ou regulares. Nesses trechos, o motorista encontra buracos, pista ondulada, sinalização inexistente ou deficiente, trafega sem acostamento e corre risco constante.
Ruim mesmo é ter de usar a ligação entre Florianópolis e Lages pela BR-282. O trecho é considerado o décimo pior do País. Pesquisadores percorreram 567 quilômetros da estrada que liga o litoral ao Oeste do Estado. Na avaliação da CNT, a engenharia da estrada é péssima, a sinalização e o pavimento, regulares. Há trechos onde não há sequer pavimentação.
A BR-101, considerada a rodovia da morte por anos, é ainda a mais segura para se transitar em Santa Catarina, mesmo nos trechos onde a duplicação exige mais atenção do motorista. Na avaliação da CNT, a estrada apresenta estado geral e pavimento bons e sinalização e engenharia regulares. Os trechos em duplicação que obrigam os motoristas a fazer desvios ficam sem classificação.
As rodovias catarinenses são, em geral, mal avaliadas porque estão sob o comando da União, que pouco investe em manutenção. Fora o dinheiro proveniente da Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico (Cide) e da operação tapa-buraco, realizada pelo governo federal no início do ano, as estradas que cortam o Estado estão abandonadas. Para piorar, SC não conta com trechos concedidos à iniciativa privada, que, apesar de aumentar o custo do transporte com pedágios, dão mais agilidade e segurança para quem transita pelas rodovias.
“Não dá mais para suportar o estado das rodovias. Pagar pedágio não é um problema comparado à eficiência nesse tipo de estrada”, comenta o diretor da seção de cargas da CNT, Flávio Benatti. Segundo o Ministério dos Transportes, a União repassou ao governo de SC e municípios cerca de R$ 50,1 milhões da Cide nesse ano – a previsão é de que sejam repassados R$ 70 milhões até dezembro. Os recursos só podem ser aplicados em obras rodoviárias. Desse total, R$ 37,6 milhões foram para o cofre do governo do Estado e R$ 12,5 milhões para as prefeituras. Em 2005, os repasses somaram R$ 68,6 milhões e, em 2004, R$ 43,4 milhões.
75% das estradas brasileiras têm deficiências
A Pesquisa Rodoviária divulgada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) aponta que a situação das rodovias federais piorou entre 2005 e 2006. No ano passado, dos 81,9 mil quilômetros pesquisados, 72% foram considerados ruins, péssimos ou regulares.
Nesse ano, dos 84,3 mil quilômetros analisados, 75% estavam nessas condições. A pesquisa analisa a pavimentação, a engenharia e a sinalização. Toda malha federal foi analisada e as principais rodovias estaduais também.
Segundo o diretor da seção de cargas da CNT, Flávio Benatti, o governo precisa urgentemente reverter a situação. “O setor de cargas já tem uma rentabilidade muito baixa e ainda trabalha em condições extremamente inóspitas. Toda vez que a economia ameaça crescer, vemos os gargalos nas rodovias e no setor de infra-estrutura”, avalia.
Benatti diz que o governo criou a Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico (CIDE) para investir nas rodovias e não aplica nem um terço do dinheiro no setor de transportes. “O governo arrecadou cerca de R$ 33,8 bilhões com o imposto e investiu apenas R$ 10,5 bilhões nas rodovias.” Segundo a CNT, seria necessário investir aproximadamente R$ 22,5 bilhões para recuperar as rodovias federais.
Na análise das rodovias com pedágio, a situação é inversa. Dos 10,8 mil quilômetros analisados, 20,2% apresentam deficiências e só 0,2% tinham trechos considerados péssimos. A privatização das rodovias é considerada uma saída valiosa pela CNT. (JR)
Asfalto está horrível, diz caminhoneiro
Nos últimos dois anos, pelo menos três vezes por semana Nilton Rodrigues, 37 anos, percorre com sua carreta o trajeto de ida e volta de Lages à região da Grande Florianópolis pela BR-282. Ele acredita que as viagens seriam bem melhores se não fosse o péssimo estado de conservação da rodovia. “De Lages até Alfredo Wagner é tudo tranqüilo, mas depois o asfalto está horrível.”
Entre os principais problemas deste trecho, de aproximadamente 60 quilômetros, Rodrigues aponta a grande quantidade de ondulações na pista e a falta de sinalização. “Em muitas partes, não existe acostamento.” Ele destaca que já foram tantas operações tapa-buracos que os remendos acabam complicando ainda mais. (Luiz Augusto/correspondente)
Transporte de cargas acumula prejuízos
O setor de transporte estima que as condições precárias das rodovias catarinenses atrasem o movimento de cargas em torno de 25%. Um caminhão que deveria rodar em torno de 70 quilômetros por hora não ultrapassa os 54 km/h. “Esse atraso representa custos para as transportadoras, que não podem repassar o valor às empresas. Elas têm de assumir esse prejuízo”, explicou o presidente da Federação dos Transportadores de Cargas do Estado de Santa Catarina (Fetrancesc), Pedro Lopes.
Segundo ele, os prejuízos estão ligados à falta de balanças para controle do excesso de peso e de sinalização e, principalmente, problemas na pista. A Fetrancesc aponta como pontos críticos a rodoviaBR-282, no Extremo-oeste. Também na 282, cerca de 100 quilômetros entre Alfredo Wagner e Florianópolis, e as BRs 116 e 470. “No caso da 470, não adianta o governo federal investir e m recuperação. A situação ali é uma questão de duplicação”, ressaltou.
Lopes defende uma política de transporte. “O pedagiamento, por exemplo, da forma como está, é inadequado e injusto. Não deu certo em outros Estados e se mostra muito caro.” A proposta da Fetrancesc é incluir na receita a banda e a faixa de domínio. Com a banda, o valor do pedágio diminui conforme aumenta o número de veículos trafegando pela rodovia. A proposta foi encaminhada ao Ministério dos Transportes, mas não foi aceita.