Caminhoneiro Silvano Tavares disse que carro freou bruscamente mas vídeo mostra que ele vinha em excesso de velocidade e não parou na lombada

O Estradas questionou as autoridades, mas até esta segunda-feira (26) pela manhã, as respostas não convencem

Passada 1 semana da tragédia que matou cinco pessoas, da mesma família, entre elas, duas crianças e uma adolescente, no km 106 da BR-316, em Santa Maria do Pará (PA), o portal Estradas ainda aguarda respostas da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Civil de Santa Maria do Pará, do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e da Nordal Transportes, que podem esclarecer o que de fato ocorreu no acidente (sinistro) na tarde de segunda-feira (19), envolvendo duas carretas e um automóvel de passeio.

Na terça-feira (20), a reportagem entrou em contato com os órgãos citados e com a transportadora, responsável pelas carretas, solicitando informações que pudessem esclarecer os motivos que levaram o caminhoneiro Silvano Santos Tavares, de 42 anos, a colidir violentamente contra o carro em que viajavam Márcio Sidney dos Reis Freitas, de 45 anos; a esposa dele, Dina Charlene Ramos de Souza, de 39 anos; as filhas Maria Fernanda Ramos Freitas, de 2 anos; e Helena Ramos Freitas, de um 1 ano, além da babá e sobrinha de Dina, Kethenen Wenil de Sousa Reis, de 17 anos.

Até as 11h desta segunda-feira (26), o que o portal obteve não esclarece muitas questões, consideradas fundamentais para entender o que aconteceu na rodovia.

O Estradas ainda quer saber

da PRF:

– Foi feito exame de bafômetro?

– O caminhoneiro deu uma versão de que o carro freou bruscamente na frente dele, não sendo possível evitar a colisão. Veja o vídeo que mostra um dos ângulos do sinistro (acidente) que desqualificam a versão do caminhoneiro.

 

– Foi notado algum indício de que o motorista estivesse sob efeito de alguma droga psicoativa? – Há indícios de que o condutor estivesse falando ao ao celular?

– Por que o Boletim de Acidente de Trânsito demora até 20 dias para ser finalizado, na versão da Ascom da PRF, quanto temos informação de regulamento da própria corporação que informa 5 dias consecutivos após o acidente?
A PRF, por meio da assessoria de imprensa do Pará, informou que o caminhoneiro, inclusive, tem o direito de falar versão dele, cabe a PRF elucidar o caso. E que quanto às demais questões, elas só poderão ser respondidas quando o boletim estiver finalizado. Segundo o assessor, a Corporação tomou conhecimento na sexta-feira (23) de que vai ser feita uma perícia desse acidente. Que, por conta disso, vai ter um boletim bem mais completo, devido á complexidade e a tragédia que aconteceu.
A PRF informou ainda que “o caminhoneiro não se apresentou à PRF, mas, sim foi preso e encaminhado à Delegacia de Polícia civil, apresentado ao delegado de polícia, que ratificou a prisão dele, não sei te informar nesse, mas ele continua preso.” Curiosamente, a imprensa da região já informava a prisão do caminhoneiro e sua soltura mediante pagamento de fiança.

DNIT:

 – Qual a explicação técnica do DNIT sobre instalar lombadas em rodovias com grande índice de caminhões?
– O DNIT permite ambulantes fazerem comércio no eixo principal da rodovia, conforme foi visto nas imagens das câmeras que flagraram o acidente na BR-316?
– Há fiscalização para coibir essa prática?
– Quanto ao comércio lindeiro à rodovia – que está localizado muito próximo ao acostamento – é autorizado pelo DNIT?
– Sobre a sinalização das lombadas, o DNIT prefere não pintá-las – para melhorar a visibilidade dos motoristas – somente por conta do grande volume de veículos?​
Por meio de sua assessoria de imprensa, o Dnit respondeu que está instruindo os processos de desapropriação, com a consequente retirada dos ambulantes, dentro do projeto de duplicação do segmento.
Com relação à sinalização, a Autarquia informou que, no trecho, existe ao menos seis placas com a redução progressiva da velocidade, além de avisos da lombada e de diminuição de velocidade. E sobre a pintura a pintura da lombada, o DNIT informou que  não é obrigatória no padrão do DNIT. E acrescentou que a Autarquia utiliza, preferencialmente, placas.

Polícia Civil do Pará:

– O caminhoneiro possui autorização para dirigir bitrem? A CNH dele está em dia?
– O exame toxicológico dele está em dia?
– Ele foi solto? Por que? Pagou fiança? Qual o valor da fiança?
– A Polícia Rodoviária Federal (PRF) ou a Polícia Civil do Pará fez algum exame para detectar se o condutor estava sob efeito de álcool ou alguma droga psicoativa? Caso positivo, qual o resultado?
– O motorista será enquadrado em qual crime?
– Ele já tem alguma passagem por crime de trânsito?
– A carreta foi apreendida? Aonde está?
– Foi constatado algum problema mecânico na carreta?
– Quais as placas do conjunto (cavalo + carretas)?
– O cronotacógrafo está em dia?
Mesmo depois de enviar e-mail, conforme pediu a assessoria de imprensa, e cobrar por duas vezes as respostas, a Polícia Civil do Pará não se manifestou.

Nordal Transportes:

– O que a empresa está fazendo para colaborar com as autoridades?
– O que a empresa está fazendo para ajudar as famílias das vítimas?
– O motorista trabalha há quanto tempo na empresa?
– Qual a carga horária imposta ao motorista?
– No dia do acidente, qual o horário de saída da empresa ou do local onde estava?
– A carreta é monitorada por meio de GPS durante a viagem?
– Os documentos do motorista estão em ordem (CNH, exame toxicológico, entre outros)?
– Os documentos do conjunto (cavalo e carretas) estão regularizados?
Em contato por telefone com a Nordal Transportes, na terça-feira (20) um funcionário, que se identificou como Paulo, disse que os responsáveis estavam apurando e que não podia falar oficialmente em nome da empresa. Mas que oportunamente, algum diretor da empresa entraria em contato com o portal. Na tarde da sexta-feira (23), a reportagem entrou em contato novamente, mas não obteve sucesso. A única informação que o funcionário Paulo confirmou foi que as duas carretas envolvidas no acidente são da empresa Nordal Transportes.

SOS Estradas condena lombadas físicas

Para o Coordenador do SOS Estradas, Rodolfo Rizzotto, não há como justificar a presença de lombadas físicas em rodovias. “Várias tragédias estão ocorrendo em função dessa medida absurda. Em alguns casos, para não desagradar o Poder Executivo, estão desligando radares para colocar essas aberrações. Além do mais, fica evidente que estão mal sinalizadas, com rodovias sem fiscalização de construções irregulares, e ainda estimulam vendedores ambulantes no meio da pista, sem que a PRF possa fazer muita coisa. Precisamos substituir imediatamente por lombadas eletrônicas”, explica Rizzotto.