Hildo Duarte, Oséias Reis, José Araújo, Andréia Oliveira. Esses são alguns personagens que foram vítimas de uma guerra injusta que se travou nas ruas de Macapá e só o ser humano perde, cujo vilão é o trânsito. Os números assustam. No período de setembro de 2004 a junho de 2006 foram registrados 2.595 acidentes pela Unidade de Trânsito Comunitário do 6º BSC, uma média de três por dia.

Acidentes como o que tiraram a vida do estudante Marco Kayke de Assunção Macedo, da dona-de-casa Fabiani de Jesus e do trabalhador autônomo Benedito Gama, vítimas de motoristas embriagados que utilizam seus carros como uma arma para matar, guiando a mais de 100km/h.
Tanto no caso de Marco Kayke como do casal Fabiani e Benedito, os lugares onde foram mortos são apontados como pontos críticos da cidade, onde a sinalização é inexistente e acidentes são comuns.

A Secretaria de Transportes do Governo do Estado é a responsável pela conservação e sinalização das rodovias Duque de Caxias e Juscelino Kubitschek. Durante 60 dias a reportagem tentou, através de telefonemas, ofícios e visitas ao prédio da secretaria conversar com o secretário e saber por que a Rodovia Duque de Caxias, mesmo sendo apontada como um dos pontos críticos em números de acidentes, tem uma sinalização precária e o policiamento é ausente. Mesmo recebendo a promessa do assessor de comunicação, Costa Chaves, de que uma entrevista seria marcada, o secretário nunca recebeu a reportagem da Folha.

Na Empresa Municipal de Transportes Urbanos (EMTU), responsável pela sinalização e conservação das ruas do município, as informações são desencontradas. O assessor de comunicação, Marcelo Luiz, diz que a EMTU tem realizado blitz educativa e sinalização na cidade. No entanto, a reportagem não encontrou em quais pontos o serviço estava sendo efetuado.

Aonde foi parar o dinheiro?

No site do Governo do Amapá – www.amapa.gov.br — está a arrecadação do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores — IPVA, que de janeiro a setembro de 2006 já arrecadou R$ 14.248.144,06. Desse total, R$ 6.676.957,87 foram repassados para a Prefeitura de Macapá, dinheiro que o contribuinte paga anualmente e que deveria ser utilizado para a manutenção e sinalização das ruas do município de Macapá. Mas onde foi parar o dinheiro? A informação na EMTU é de que a empresa não pode receber repasse de verba pública. A reportagem fez contato com a assessora de comunicação, Andréia Freitas, que disse não ter certeza se esse valor realmente tinha sido repassado, mas que entraria em contato com o secretário de Finanças da PMM e não retornou a ligação.

Enquanto o Governo do Estado e a Prefeitura de Macapá continuam se preocupando em não responder onde está sendo utilizado o dinheiro do IPVA, a cidade continua sem sinalização, com pouco policiamento nas ruas e os acidentes com mortes violentas continuam acontecendo. Só este ano foram 83 mortes no trânsito, destas 13 aconteceram na Rodovia Duque de Caxias, e famílias como a de Marco Kayke, que deixou duas filhas, e do casal Fabiani e Benedito Gama, que deixou sete filhos, vão continuar sofrendo a saudade dos que perderam suas vidas.

O que dizem os números

• Cerca de um em cada cinco vítimas fatais é um pedestre;

• 57% dos acidentes fatais ocorrem à noite, com ou sem iluminação pública, em fluxos relativamente baixos de tráfego;

• Uma parte muito significativa dos acidentes graves ocorre nos finais de semana;

• Os acidentes com feridos representam cerca de 30% do total de ocorrências;

• A análise das vítimas fatais por tipo de acidente demonstra que o atropelamento de pedestre/ciclista é o que gera maior número de óbitos (30%);

• Os atropelamentos não se destacam entre os acidentes sem vítimas, já que quase sempre o pedestre ou o ciclista atropelado sofre lesões, graves ou fatais;

• 40% de todas as vítimas fatais morrem nos finais de semana, sem levar em consideração sexta-feira à noite e a madrugada de segunda-feira. Grande parte (64%) dos atropelamentos fatais ocorre à noite e somente 23% ocorrem nos dias úteis durante a luz do dia;

• Ser atropelado equivale a cair do 45º andar de um prédio, se o veículo estiver a uma velocidade de 120km/h, a cair do 20º andar, se estiver a 80 km/h e a cair do 11º se estiver a 60km/h.