Faltavam apenas 28 quilômetros para completar a viagem de quase 600 entre Belo Horizonte e Búzios, cidade praiana na Região dos Lagos do Rio de Janeiro. Com quase 95% do trajeto completo, o carnaval de cinco pessoas terminou de forma trágica no início da manhã de ontem, quarta-feira, depois que o Cross Fox em que estavam invadiu a contramão e bateu com violência, de frente, em um caminhão na BR-040, matando todos os ocupantes e criando um cenário de guerra na estrada.

Somada à violência do desastre, a demora para remoção dos corpos provocou um congestionamento gigantesco e evidenciou despreparo e desrespeito não só com as vítimas e seus parentes, mas também com milhares de pessoas que tentavam voltar para casa.

Foram mais de cinco horas até que militares do Corpo de Bombeiros retirassem os corpos das ferragens, já que o serviço só teve início depois da chegada da perícia da Polícia Civil, às 11h42, quase quatro horas e 30 minutos depois da batida. A pista só foi liberada às 13h55 e a retenção chegou a 20 quilômetros no sentido BH. O acidente ocorreu às 7h15 da manhã, no Km 572, em Itabirito, na Região Central do estado. A principal suspeita é de que o motorista, Bruce Amaro Correa, de 34 anos, tenha cochilado, já que não foram vistas marcas de frenagem. Com o desastre, chegou a pelo menos 34 o número de mortos nas estradas de Minas no carnaval. O balanço oficial será divulgado hoje, pelas polícias rodoviárias Militar e Federal.

Em nota, a Polícia Civil argumentou que o trecho onde aconteceu o acidente é de competência da Delegacia Regional de Ouro Preto, responsável pelo município de Itabirito. No entanto, alegou que devido ao engarrafamento por causa do desastre, a equipe de plantão em Belo Horizonte teve de ir ao local. Segundo a corporação, os agentes enfrentaram retenções também na viagem entre a capital e o ponto da ocorrência, o que justificaria a demora. Curiosamente, o rabecão, veículo responsável pela remoção dos corpos, que também partiu de BH, chegou às 11h04, quase 40 minutos antes do perito, integrante de equipe reduzida trabalhando em regime de plantão, segundo apurou o Estado de Minas.

Quase 20 minutos depois, às 11h20, chegou ao local o delegado Ramon Sandoli, chefe de Operações Especiais do Detran-MG. O policial disse que estava de folga e que foi até o local para tentar resolver o problema da ausência do perito. Com ele chegou também outra versão para a demora: o trabalho deveria ser feito por alguém de Conselheiro Lafaiete. “O tráfego ficou complicado de Lafaiete até o local do acidente. Por isso, a perícia de BH foi acionada”, afirmou, acrescentando que não comentaria assuntos relacionados ao efetivo da polícia. Às 11h42, enfim, chegou o perito.

A equipe do EM ouviu de agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) que a situação se repete na maioria dos acidentes no trecho, complicando a retomada do trânsito normal e prolongando o sofrimento de amigos e parentes das vítimas. Ao meio dia, os Bombeiros começaram a cortar pedaços do veículo, e a última vítima foi retirada por volta das 13h.

Quase uma hora depois a estrada foi liberada, com a remoção dos dois veículos que se acidentaram. Durante o longo tempo da operação não houve interrupção total do trânsito, mas o tráfego nos dois sentidos fluiu com lentidão, por uma faixa cada. Situação agravada pelos curiosos que reduziam a velocidade e até paravam para tirar fotos, complicando o tráfego e aumentando o risco de mais acidentes. O helicóptero do Corpo de Bombeiros esteve no local, diante da esperança de resgatar alguém com vida, mas não foi possível. Os corpos foram encaminhados ao Instituto Médico Legal de BH.

‘Achei que tudo ia pegar fogo’

O acidente ocorreu em uma reta, apenas oito quilômetros antes do trecho duplicado da rodovia que liga a capital fluminense a BH. O caminhão envolvido estava carregado de cimento e seguia com destino a Lagoa Dourada, no Campo das Vertentes. O motorista, Luciano Fraga, de 54 anos, ficou traumatizado com o que viu. Com lágrimas nos olhos, ele parecia não acreditar na situação. “São 26 anos de estrada e é duro ver uma coisa dessas. Só me lembro de ver o carro de repente invadindo a contramão e vindo para o meu lado. A impressão que tive é que ele estava a uns 100 km/h e ainda tentou retornar, mas não teve jeito”, conta Luciano. Ele diz ainda que, depois da batida, ficou desesperado. “Só pensava em sair do caminhão, porque achei que tudo ia pegar fogo.”

A cena na BR-040 foi de destruição completa. O Cross Fox entrou na parte da frente do caminhão, ficando irreconhecível. Das cinco vítimas, duas eram mãe e filha, de apenas 2 anos. Embora houvesse cadeirinha no carro, a criança foi retirada do colo de um dos ocupantes. No banco dianteiro do passageiro viajava Maria Helena de Andrade Oliveira, de 55. No banco de trás morreram Lawana Paula Tavares, 20, e Tamara de Almeida Guimarães Correia, de 29, mãe da pequena Ana Luiza, de 2.

Segundo um motorista de ônibus que é cunhado de uma das pessoas que estava na viagem a Búzios, o grupo era composto de 14 pessoas, divididas em três carros. Em um Palio viajavam quatro e em uma caminhonete Ranger as outras cinco. O motorista da caminhonete com placa de Búzios disse apenas que o comboio saiu do litoral na terça-feira às 21h e parou na estrada durante a viagem para descansar. Todos estavam extremamente abalados, sem condições de dar muitas informações.