Ultrapassagens em locais proibidos, caminhões na faixa da esquerda, pistas sem acostamento, asfalto repleto de ondulações e pedestres se arriscando para fazer a travessia enquanto carros passam com velocidade superior a 120 km/h.

Esse foi o cenário encontrado pela reportagem de O TEMPO, que percorreu a BR–381 no trecho entre Belo Horizonte e São Gonçalo do Rio Abaixo, na região Central do Estado. Com 69 km, o trecho integra três dos 11 lotes da licitação para duplicar a rodovia, os últimos a ter as propostas de preço abertas, na segunda-feira passada.

Considerado por especialistas o mais perigoso da rodovia, o trecho tem cerca de 200 curvas – 30 sinuosas –, que demandam atenção redobrada e muita prudência dos motoristas, mas nem todos respeitam os perigos. Na altura do distrito de Roças Novas, em Sabará, na região metropolitana, uma batida de frente foi evitada pelo caminhoneiro que alertou o condutor que tentava uma ultrapassagem em local proibido. Sem visão suficiente, o motorista do veículo acelerou para fazer a ultrapassagem, mas, ao ameaçar ir para a contramão, o caminhoneiro que seria ultrapassado começou a buzinar para alertar que vinha outro veículo no sentido contrário. Após o sinal, o carro freou e desistiu da ultrapassagem, evitando o acidente.

Já em Caeté, na mesma região, um motorista ignorou a faixa contínua e decidiu se arriscar para conseguir a ultrapassagem. Por sorte, nenhum veículo trafegava no sentido contrário. “A rodovia é perigosa, sim, mas, se não fosse o comportamento dos motoristas, não morreria tanta gente aqui. Tem pessoas que pensam que só porque têm carro potente pode ultrapassar em qualquer lugar”, diz o caminhoneiro, Walnei Antenor, 57, que passa regularmente pela BR–381. Ele pondera que os próprios caminhoneiros também são imprudentes. “Tem muito companheiro nosso que não tem noção do perigo que um caminhão representa e faz muita besteira”, admitiu.

A reportagem presenciou o que Antenor relatou. Em locais onde a passagem de veículos pesados era obrigatória pela direita, eles usavam a faixa da esquerda, trafegando a mais de 100 km/h onde o máximo permitido era 80 km/h. Caminhões ultrapassavam veículos leves e, em outras situações, invadiam a contramão para ultrapassar outros caminhões, obrigando motoristas que vinham no sentido contrário a usarem o acostamento.

O consultor de trânsito Osias Batista defende maior investimento para fiscalizar ultrapassagens. “É possível instalar radares que identifiquem quem anda na contramão em locais proibidos, o que seria mais eficiente para prevenir acidentes que os radares de velocidade”.

Pedestres. Como não há passarela entre Belo Horizonte e São Gonçalo do Rio Abaixo, pedestres também se arriscavam, entre as curvas e o grande movimento de veículos, para conseguir atravessar a rodovia. No projeto da reforma, a BR–381 vai receber 22 passarelas entre a capital e Valadares.

“Fico preocupada, tenho três filhos, de 7, 10 e 12 anos, e todos atravessam a rodovia para ir à escola. Tem dia que demoram 20 minutos para conseguir”, conta a dona de casa Patrícia Bastos, 30, que mora às margens da estrada.