A falta de controle do excesso de cargas nos caminhões que cruzam o País gerou uma flagrante ironia no Rio Grande do Sul. De cada dez caminhões que trafegam pela freeway (BR-290) rumo ao canteiro de obras da Rodovia do Parque (BR-448), no acesso a Porto Alegre, oito ou até nove, segundo estimativas da Polícia Rodoviária Federal (PRF), têm excesso de 10% ou mais no peso. “A mesma carga que está ajudando a construir uma nova estrada (BR-448) colabora para destruir a que já existe”, conclui desconcertado o patrulheiro responsável pelo apoio às fiscalizações da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) na região, Claudio Cravo Ramos. A situação pode ganhar novo ingrediente, já que o setor de transportes se mobiliza para elevar a 11% a tolerância de excesso de carga por eixo, hoje em 7,5%.

A área de trabalho de Ramos, que envolve Gravataí a Eldorado do Sul, onde estão instaladas três balanças móveis, reflete outro drama do monitoramento do tráfego pesado. Devido à falta de pessoal na PRF e na ANTT, os equipamentos estão recolhidos. Nos dois últimos anos, dados da ANTT indicam que a fiscalização é deficitária. Em 2009, foram pesados 112,9 mil veículos, com 3.876 autuações. No ano passado, o monitoramento recuou para 82,2 mil caminhões, resultando em duas mil multas.

Na freeway, a estimativa é que o excesso médio seja de 10% do peso permitido para cada composição. Neste mês, o órgão policial e a ANTT projetam retomar a pesagem, mas continuará a deficiência de pessoal para assegurar a vigilância. O impacto da menor aferição está no pavimento, que já apresenta rachaduras e buracos em frente ao posto de pesagem. “Os empresários e caminhoneiros reclamam que o asfalto está ruim, mas eles não colaboram. Só aprendem quando há flagrante”, critica o patrulheiro.

Quando estão ativas, as balanças funcionam precariamente, em poucas horas da semana e sempre intercaladas. Não é à toa que a percepção de motoristas é que as casinhas brancas, bem pintadas e com aparência de novas, uma praticamente em frente a outra na freeway, parecem nunca terem sido abertas. “O ideal é que funcionassem 24 horas. Temos de estar juntos para apoiar os fiscais, pois os motoristas não respeitam, passam reto e fogem”, descreve o inspetor.

No Estado, as balanças fixas e móveis (também chamadas de dinâmicas) estão principalmente nas rodovias federais sob responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Quando são fixas, o trabalho de pesagem é 24 horas. São 11 equipamentos, situados principalmente na Fronteira-Oeste, na extensão da BR-290, e Norte. Nas estradas concedidas, além das três móveis na zona da abrangência da Concepa, que não se manifesta sobre o funcionamento dos aparelhos, há duas no Sul, nos trechos da Ecosul. Na região, a fiscalização é diária. Nos trechos rodoviários estaduais, há apenas uma balança fixa na RS-122, em Bom Princípio, que agora está em manutenção, por isso não está controlando o peso das cargas rodoviárias.

O professor da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) João Fortini Albano adverte que a ausência de fiscalização do excesso de peso cobra um alto custo. Um estudo da Associação de Transportes, Cargas e Logística (NTC&Logística) revelou que cada 10% de carga acima do permitido provoca a redução de 30% na vida útil de uma rodovia, o que implica queda de dez anos para sete anos. Se houver sobrepeso de 20%, suprime-se em 4,5 anos a resistência da via. “Analisei relatórios de pesagem de 2005 e encontrei excesso de até 50%”, informa Albano, que alerta para a necessidade de instalação de balanças. “Não adianta fazer estrada nova se não aumentar a fiscalização”. A conta é tão pesada quanto a carga que trafega pelo asfalto. Cada R$ 1,00 não aplicado em conservação custa R$ 3,00 para restaurar ou reconstruir os trechos. Trafegar acima do peso permitido implica dano prematuro a pavimentos, alterações na estrutura, reduz condições de dirigibilidade e frenagem e – aviso aos donos dos veículos – aumento do risco de quebras e dos custos na manutenção.