Esse é o objeto do comentário  semanal de Rodolfo Rizzotto, Coordenador do SOS Estradas, para várias rádios brasileiras e portais focados em segurança. O título do comentário é o mesmo do livro publicado por Rizzotto há 10 anos. Ele destaca o dramático episódio na praia de Copacabana, em que um motorista epilético matou uma menina de 8 meses e feriu outras 17 pessoas, para mostrar que não existem acidentes. “Acidente é quando cai um meteoro sobre nossa cabeça”, enfatiza Rizzotto. Na verdade aquilo que chamamos de acidente é um conjunto de ações e omissões. No caso de Copacabana o motorista estava com a carteira suspensa, tinha um histórico de infrações que garantiram 62 pontos, omitiu que era epilético para o médico que renovou a carteira dele sem restrições, apesar dele ter rasurado o espaço onde descrevia os remédios que tomava. Ele ainda dirigia sob efeito de três medicações que comprometem a condição de dirigir. Em outros casos são motoristas que andam em excesso de velocidade, falando ao celular, ultrapassando em local proibido, sob efeito de álcool ou drogas, e quando a tragédia acontece a imprensa chama de Acidente. Ouça o comentário clicando aqui ou leia o texto de Rizzotto que está disponível abaixo.

Acidentes não acontecem

Há muitos anos aprendi com meu velho pai que acidentes de trânsito não existem. Acidente é cair um meteoro em cima do veículo. No dramático episódio na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, em que um motorista epiléptico desmaiou ao volante, invadiu o calçadão matando um bebê de 8 meses e ferindo 17 pessoas, a primeira avaliação da imprensa foi chamar de acidente.

Entretanto, na medida em que as informações chegavam ao conhecimento público ficou claro que não era bem assim. O motorista tinha renovado a carteira em 2015, mesmo estando com ela suspensa por infrações cometidas que nos últimos anos somavam mais de 60 pontos. Habilitação que ele não devolveu conforme determina a legislação.

Ao mesmo tempo ele omitiu no exame médico que sofria de epilepsia, inclusive rasurou sua declaração para o médico de tráfego, quando descrevia os remédios que tomava. Na bula dos quais está escrito que podem prejudicar a capacidade de dirigir. Por outro lado, a rasura não chamou atenção do médico que simplesmente aprovou a CNH.

Este mesmo motorista já tinha sofrido um acidente pilotando uma moto, para a qual não estava habilitado. Portanto, foi uma sucessão de irregularidades, culminada com a precária fiscalização que permitiu ao infrator contumaz continuar dirigindo com a carteira vencida.

As consequências aparecem na família das vítimas. Em primeiro lugar no coração dos pais da menina, cuja dor não pode ser compensada com dinheiro. É uma ferida que nunca cicatriza. O pai não estava no local na hora da tragédia, não faz parte das estatísticas de acidentes mas será eternamente vítima.

Portanto, neste caso, como em praticamente todos os demais, podemos garantir que acidentes de trânsito não são uma fatalidade e sim fruto de um somatório de imperícia, imprudência, negligência, omissões, falta de fiscalização ou simplesmente de responsabilidade. Por isso, quando alguém disser que aconteceu um acidente grave pode corrigir e dizer: Acidentes Não Acontecem.

Rodolfo Rizzotto é Coordenador do SOS Estradas e editor do www.estradas.com.br .