Caminhoneiros recebem em média dois salários mínimos e diárias de R$ 60,00

Com salários baixos e diárias insuficientes, caminhoneiros lutam para sobreviver

Durante Audiência Pública da ANTT 11/23 sobre a “Proposta de Revisão dos Pisos Mínimos de Frete”, Alam Gonçalves Guimaraes, da Coordenação de Regulação do Transporte de Rodoviário de Cargas – CRTRC, apresentou um cálculo médio do valor da diária para alimentação dos caminhoneiros nas estradas, assim como pernoite.

Caminhoneiros recebem em média dois salários mínimos e diárias de R$ 60,00

De acordo com o levantamento da ANTT, que será utilizado para calcular a tabela de frete, os motoristas poderiam realizar café da manhã, almoço e jantar por R$ 40,00. Com um adicional de R$ 60,00, poderiam garantir um pernoite em um local seguro, mesmo que dentro da cabine, e ter acesso a um banho.

No entanto, de acordo com informações coletadas com diversos caminhoneiros pela reportagem, torna-se praticamente impossível custear as três refeições e o banho com essa quantia. Apenas o pernoite, incluindo estacionamento e banho, pode variar entre R$ 60,00 e R$ 100,00.

Sérgio Medeiros, um caminhoneiro experiente e bem organizado, compartilhou os valores médios que paga nas regiões onde trabalha. Ele relatou que recebe diária de R$ 64,00.

Ele revela alguns preços na sua região de atuação. O banho custa entre R$ 5,00 e R$ 15,00; almoço ou jantar com opções de prato feito ou self-service, que vão de R$ 22,00 a R$ 45,00; café puro de R$ 2,00 a R$ 5,00; café com leite de R$ 4,50 a R$ 9,00; garrafa de água de 500 ml de R$ 4,00; e pão com ovo de R$ 6,00 a R$ 13,00.

Segundo Medeiros, ainda é possível encontrar pátios gratuitos para pernoite e ele costuma encerrar seu dia de trabalho cedo para respeitar as regulamentações de tempo de serviço.

Por outro lado, Luiz Heinzen revela que recebe R$ 69,50 por dia, mas não consegue cobrir os gastos com as três refeições, banho e estacionamento para o pernoite. Nilma Schwartz de Castro, esposa de um caminhoneiro, afirma que seu marido muitas vezes prepara sua própria comida para economizar, pois passa às vezes um mês longe de casa e, muitas vezes, está tão exausto que não consegue cozinhar e acaba ficando sem se alimentar.

Tendência é a profissionalização dos estacionamentos e cobrança pelos serviços

A cobrança por estacionamento e banho está se tornando cada vez mais comum. Embora ainda haja postos de combustível e redes de rodovias que não cobram pelo estacionamento e pernoite, a tendência é que esses serviços sejam tarifados. Afinal, impossível manter essas estruturas sem receita.

Alguns postos chegam a cobrar entre R$ 40,00 e R$ 100,00 pelo pernoite, embora os caminhoneiros que sejam clientes regulares ou que abasteçam no posto geralmente sejam isentos dessas taxas e não precisem pagar pelo banho.

Os proprietários de pontos de parada argumentam que não podem manter estacionamentos gratuitos, seguros, bem iluminados e com acesso a banho sem uma fonte de receita adequada.

Caminhoneiros recebem em média dois salários mínimos e diárias de R$ 60,00

Isso ocorre principalmente porque, devido à grande autonomia dos caminhões, a maioria dos usuários da rodovia não precisa abastecer nesses postos. Além disso, muitos caminhoneiros optam por preparar suas próprias refeições em seus caminhões para economizar dinheiro.

Bolívar Lopes, porta-voz da ABCAM – Associação Brasileira dos Caminhoneiros Autônomos, acredita que a diária ideal deveria variar entre R$ 150,00 e R$ 250,00, dependendo da região. Por outro lado, Carlos Alberto Litti Dahmer, presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga (SINDITAC) de Ijuí/RS, estima que seriam necessários pelo menos R$ 250,00.

Rodolfo Rizzotto, coordenador do SOS Estradas, considera que diárias entre R$ 150,00 e R$ 250,00 ainda são insuficientes. Ele questiona como um funcionário de empresa ou órgão público pode receber uma diária de apenas R$ 60,00, como muitos caminhoneiros recebem, para cobrir todas as refeições, banho e estacionamento para pernoite.

Rizzotto também destaca as condições difíceis em que os caminhoneiros trabalham, dormindo em cabines apertadas, sempre alerta e com um alto nível de responsabilidade. Além disso, ele lembra que o salário médio dos caminhoneiros é cerca de dois salários mínimos, o que é desproporcional ao risco e à responsabilidade envolvidos em seu trabalho.

Por outro lado, na avaliação de Rizzotto, governos criam a expectativa de que serão construídas áreas de estacionamento gratuitas para os caminhoneiros. “Eles vão pagar na tarifa do pedágio, sem contar que o que está previsto de vagas, por exemplo, na concessão da Dutra em 30 anos pagando pedágio , é metade do que oferece apenas um posto como o Arco Íris.”

Salários baixos e diárias que não são respeitadas

Os salários e as diárias abaixo do necessário são uma realidade em diversos acordos coletivos em vários estados do Brasil. Os valores definidos pelos sindicatos da categoria podem variar consideravelmente de um estado para outro.

Alguns exemplos incluem São Paulo, onde os salários para motoristas de diferentes tipos de carga podem variar entre R$ 2.482,91 e R$ 3.134,42.

Em Minas Gerais, a remuneração varia entre R$ 1.610,35 e R$ 2.507,78. Já na Bahia, o valor máximo é de R$ 2.694,36.

Além disso, as diárias oferecidas aos caminhoneiros também variam amplamente de acordo com a região. Por exemplo, no Rio Grande do Sul, os motoristas têm direito a uma diária de R$ 89,26 para alimentação e R$ 64 para pernoite, enquanto em São Paulo, as diárias são de R$ 54,28 para almoço e jantar e R$ 40,11 para pernoite.

No Espírito Santo, os caminhoneiros deveriam receber R$ 52,00 para café, almoço e jantar, mais R$ 30,00 para o pernoite, totalizando R$ 82,00. No entanto, muitos caminhoneiros relatam que não recebem sequer a metade dos valores estipulados nas convenções.

Sem contar que no caso dos autônomos o valor está embutido no frete, embora sequer a tabela de frete é respeitada.

Essa disparidade salarial, fretes baixos e as diárias inadequadas são um grande desafio para os caminhoneiros, que enfrentam condições de trabalho difíceis e muitas vezes têm dificuldades para atender às suas necessidades básicas durante as longas viagens nas estradas brasileiras.