Com 187 atendimentos de emergência diários nas rodovias sob concessão do Estado de São Paulo, é inevitável que integrantes das equipes de resgate das concessionárias criem vínculos com algumas das vítimas salvas durante a estressante rotina de trabalho. Casos de pessoas socorridas nas rodovias que passam a visitar as bases das equipes de atendimento pré-hospitalar para “dar um alô” aos seus “salvadores” são comuns. Muitas vezes, os socorristas têm poucos minutos, ou até segundos, para realizar determinada intervenção para preservar uma vida, e o reconhecimento desse esforço é, muitas vezes, a maior recompensa. Importante destacar que além da eficiência do resgate e do socorro rápido em salvar vidas, este serviço é uma obrigação das concessionárias e é totalmente gratuito. Os serviços de atendimento pré-hospitalar e resgate integram os contratos de concessão e são fiscalizados pela ARTESP (Agência de Transportes do Estado de São Paulo).

autoban_abrindo_ferragens_02No domingo, dia 20, por exemplo, a equipe de atendimento pré-hospitalar da concessionária Cart, chegou a tempo de auxiliar a gestante Daniele Marai da Costa Pereira que entrou em trabalho de parto na praça de pedágio do km 590 da Rodovia Raposo Tavares (SP-270), em Presidente Prudente. Ela seguia viagem para a cidade de Caiuá, quando sentiu as contrações. Acionada às 11h01, o resgate da Cart estava na local de atendimento nove minutos depois. Os socorristas constataram que seria possível encaminhar a gestante ao hospital mais próximo e assim o fizeram. O bebê nasceu ao meio-dia.

 O caso de Daniele ilustra que, apesar de os acidentes de carro responderem pela maioria dos atendimentos pré-hospitalares nos 6,3 mil quilômetros de rodovias sob concessão, as equipes também são acionadas por vários outros motivos, como mal súbitos, atendimentos psiquiátricos, auxílio a gestantes e outros tipos de quadros clínicos. Para atender essa demanda, há profissionais como médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e motoristas que recebem treinamento específico de socorrista. São preparados para atendimento de casos clínicos (dos mais simples, como cólicas renais, aos complexos, como um AVC ou infarto) e de acidentes – retirada de vítimas das ferragens, resgate em alturas, salvamento aquático e combate a incêndios. No total, as concessionárias têm em seu quadro 1.366 profissionais, que em 2012 realizaram 68,3 mil atendimentos. E no primeiro semestre deste ano 34 mil.

O total de funcionários do atendimento pré-hospitalar das concessionárias das estradas do Estado de São Paulo equivale a mais da metade do quadro do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) da capital paulista que, em dezembro do ano passado, de acordo com texto publicado no site da Prefeitura, tinha 2.286 profissionais. Corresponde, ainda, a nove vezes o quadro do Samu de Santos, que tem 151 funcionários; ou cinco vezes e meia o total de profissionais do Samu de Guarulhos, a segunda cidade mais populosa do Estado, onde o serviço está a cargo de 252 funcionários.

A realização de partos é uma das ocorrências que muitas vezes gera comoção nos socorristas. Quando uma equipe ajuda a trazer uma criança ao mundo, é comum haver uma forte identificação entre os profissionais e a mãe atendida. Há casos em que os membros da equipe pré-hospitalar são surpreendidos por um ato de gratidão muito tempo depois. Na concessionária Autoban, os socorristas contam a história de uma mãe que, um ano após ter sido auxiliada no parto pelo resgate da concessionária, na Rodovia Anhanguera (SP-330), levou a filha para os profissionais conhecerem. No Trecho Sul do Rodoanel ocorreu algo parecido. Em junho deste ano, a equipe da concessionária SPMar fez o parto de uma moradora vizinha do Rodoanel que foi procurar ajuda na rodovia ao perceber que a bolsa rompeu. Dias depois de receber alta do hospital, a mãe levou o recém-nascido para que os socorristas a conhecessem.

Acidentes. Para os diferentes tipos de emergência que podem ocorrer na malha rodoviária, as concessionárias dispõem no total de 136 veículos, incluindo ambulâncias de suporte básico, UTIs móveis, motos equipadas para atendimento pré-hospitalar e carros leves. O número de veículos é um pouco inferior ao do Samu da cidade de São Paulo, que contra com 160 unidades (ambulâncias e motos) para atendimento da população da capital; e nove vezes o número de veículos utilizados em Campinas, onde há 15 viaturas à disposição do Samu.

A definição de que tipo de estrutura mobilizar é feita no Centro de Controle Operacional (CCO), onde há profissionais especializados na avaliação dos tipos de emergência. O tempo médio de chegada ao local do acidente varia de cinco a dez minutos, dependendo do trecho onde ocorreu a chamada. A margem máxima de espera é definida nos contratos de concessão, fiscalizados pela ARTESP – Agência de Transporte do Estado de São Paulo. A rapidez pode significar o sucesso de um resgate.

A gratidão por um trabalho bem feito pelos socorristas durante um acidente leva a situações que emocionam as equipes. Em maio deste ano, a triatleta Ana Lídia Barbosa visitou a sede da concessionária Rota das Bandeiras para agradecer os profissionais que a atenderam há pouco mais de três anos. Em dezembro de 2009, ela treinava de bicicleta na Rodovia Dom Pedro I, na altura de Itatiba, quando foi atropelada. Ana Lídia teve fraturas na bacia e costelas, lesões nas vértebras da coluna, fratura exposta no braço, entre outras lesões. Em minutos, a equipe de socorro chegou, a imobilizou e a encaminhou para o Hospital de Clínicas da Unicamp em uma UTI Móvel. A recuperação demorou: foram três meses na cama e dez meses até que pudesse voltar a competir.

A base operacional da Intervias do km 44,6 Rodovia Monsenhor Clodoaldo de Paiva (SP-147), em Itapira, recebe ocasionalmente a visita de um médico. Vítima de acidente na área da concessionária, ele afirma não ter sequelas graças ao atendimento da equipe pré-hospitalar. O médico ficou preso nas ferragens em uma ribanceira em um dia chuvoso. Os profissionais conseguiram retirá-lo e o encaminharam a um hospital da região. Dias depois de ter recebido alta, a vítima enviou um e-mail para a concessionária agradecendo o atendimento, pois estava bem e sem sequelas mesmo tendo sofrido fratura em várias vértebras, e queria saber o nome das pessoas que o haviam atendido. Algum tempo depois, foi conhecer os profissionais que o socorreram para agradecer pessoalmente. Desde então, virou rotina ele parar no local quando passa pela região.

Comemoração – Há casos em que a relação entre socorrista e vítima se estreita tanto que termina em homenagens ou comemorações inesperadas. Foi o que ocorreu com o integrante de uma equipe da Autoban. Ele praticamente se tornou parte da família da vítima. Um motoqueiro se acidentou na Rodovia Anhanguera (SP-330), na região de Jordanésia, município de Cajamar, e seu estado era grave quando a equipe de resgate da concessionária chegou ao local. Após os procedimentos de socorro iniciais, ele foi encaminhado para um hospital da região. Anos depois de o motoqueiro ter se recuperado, convidou um dos socorristas para ser o seu padrinho de casamento.

Uma equipe de resgate da SPVias também acabou surpreendida por uma homenagem um ano e oito meses após socorrer uma mulher vítima de acidente na Rodovia PR-151. Apesar de essa estrada ser fora do trecho de concessão, fica a poucos quilômetros da Rodovia Francisco Alves Negrão (SP-258), administrada pela SPVias, e o resgate da concessionária foi acionado devido à gravidade de uma colisão entre um ônibus rural e um carro de passeio. A motorista do veículo de passeio, atendida pelo resgate da SPVias, estava em estado gravíssimo, com fraturas nos membros superiores e inferiores. Ela ficou em coma durante dois meses. Depois de uma lenta recuperação, um amigo da mulher encontrou os socorristas que a atenderam e promoveu um encontro, em um churrasco com a família da mulher, onde ela contou os seus planos, como terminar a faculdade de Engenharia Florestal.

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