O veículo da dupla tem 44 multas, a maioria por excesso de velocidade, sendo cinco em menos de 4 horas e três rodovias diferentes. No dia da colisão, o motorista dirigiu muito acima do limite e sem o descanso previsto em lei.
Segundo apurado com exclusividade pelo Estradas.com.br, a colisão na traseira de caminhão pelo ônibus da dupla João Neto e Frederico foi causada provavelmente por fadiga do motorista, que também dirigiu em excesso de velocidade durante a viagem. Essas são as conclusões parciais da perícia da Polícia Rodoviária Federal.
O trecho onde ocorreu a colisão, na BR-040, entre Caetanópolis(MG) e Sete Lagoas(MG) é de pista dupla, com duas faixas de rolamento e acostamento. O ônibus atingiu a traseira de uma carreta da Lenarge, que transportava carvão em direção a Belo Horizonte (MG).
O caminhoneiro foi surpreendido pela colisão, enquanto ele trafegava na faixa da direita, em um horário de pouco tráfego. O impacto lançou o caminhão para o acostamento, espalhando parte da carga.
No ônibus, quatro ocupantes foram levados ao hospital municipal de Sete Lagoas (MG), entre eles o motorista auxiliar, identificado pelas iniciais L.S.C. Pelas informações do hospital, os feridos já tiveram alta. No caminhão nenhum dos motoristas ficou ferido.
De acordo com as informações obtidas, o caminhão da Lenarge estava em conformidade com as normas de segurança, respeitando o limite de velocidade da via, que é de 90 km/h, e com os controles de jornada em dia.
Por outro lado, o ônibus foi registrado trafegando em excesso de velocidade durante a viagem, boa parte com pista simples, chegando a atingir 120 km/h em alguns trechos.
O veículo partiu de Goiânia (GO) por volta das 14h do dia 05/09, percorreu aproximadamente 800 km até a colisão, que ocorreu às 3h15 do dia 06/09, com poucas paradas e sem troca de motorista, conforme os registros do tacógrafo, a caixa preta do setor de transportes.
A análise inicial dos dados sugere que o motorista do ônibus, provavelmente devido ao cansaço, não reagiu a tempo para evitar o impacto. O trecho era favorável, com pista dupla e boas condições de pavimentação, além da carreta estar bem sinalizada com faixas refletivas, o que reforça a hipótese de que o motorista pode ter cochilado e despertou quase em cima da carreta.
A Lenarge, proprietária da carreta, não quis se manifestar sobre o acidente, mas confirmou que está tomando as providências legais cabíveis. A empresa possui diversas certificações de segurança, incluindo a ISO 39001, uma norma internacional que estabelece requisitos para o Sistema de Gestão da Segurança Viária, certificada desde dezembro de 2023.
Ônibus da dupla com dezenas de multas por excesso de velocidade
O Estradas.com.br também revelou que o ônibus envolvido no acidente já havia sido multado mais de 40 vezes no último ano, sendo mais da metade das infrações por excesso de velocidade.
O veículo pertence à Contract Show Produções Artísticas Ltda, empresa gerida por João Neto Nunes. As infrações ocorreram em radares fixos, devidamente sinalizados na rodovia e divulgados em sistemas de navegação como Waze e Google Maps.
As multas sugerem desatenção e fadiga dos motoristas, uma situação comum em veículos de bandas que viajam com prazos apertados e sem o descanso adequado.
O ônibus acumulou mais de 200 pontos na CNH, o que pode levar à suspensão da carteira de ao menos cinco motoristas, caso a empresa identifique os condutores responsáveis pelas infrações. Mas tudo indica que os proprietários não informam o real condutor, como determina a lei, ou seja, pagam a multa dobrada para garantir o excesso de velocidade.
No mesmo dia, cinco multas em três rodovias, em menos de quatro horas
No dia 06 de julho de 2024, o comportamento de risco do ônibus ficou evidente em três diferentes rodovias e quatro multas aplicadas em menos de 4 horas.
1) Às 5h24 o radar da rodovia Presidente Dutra (BR-116), situado no km 68, na região de Aparecida do Norte, registrou excesso de velocidade até 20% acima do limite. Não respeitaram nem a Padroeira do Brasil.
2) Às 6h03, o coletivo foi multado na mesma rodovia federal no km 130 em Jacareí (SP). O trecho foi percorrido em 39 minutos, média de 96 km/h, sendo que na maior parte do trecho o limite é de 80km/h.
3) Imediatamente após a segunda multa, o veículo acessou a Rodovia Dom Pedro I (SP-065) e, às 7h47, foi flagrado a 104 km/h em um trecho com limite de 80 km/h. Neste caso o radar pertence ao DER-SP, situado no km 137.
4) No mesmo local, recebeu outra multa, prevista no Art. 185, I do Código de Trânsito Brasileiro. “Quando o veículo estiver em movimento, deixar de conservá-lo na faixa a ele destinada pela sinalização de regulamentação, exceto em situações de emergência.” Traduzindo, usou a faixa que deveria ser utilizada apenas por veículos leves e cujo limite de velocidade é maior.
5) Mais tarde, às 9h08, o ônibus foi novamente multado pelo DER-SP, desta vez na Via Anhanguera (SP-330), por trafegar a 106 km/h no km 220+100 metros, em Porto Ferreira (SP). Logo depois de passarem pelo Cristo Redentor de Leme(SP). Desrespeitaram a mãe em Aparecida e também o filho, em Leme.
A média de velocidade entre os radares do DER-SP foi de 93 km/h, muito alta para a região de Campinas, Americana e Limeira, onde o tráfego é intenso neste horário e o limite de velocidade predominante é de 80 km/h.
No dia 22 de julho o mesmo coletivo foi flagrado as 9h07 em excesso de velocidade no radar da SP-425 em Indiana (SP) situado no km 440.
Apenas 7 minutos depois, mais precisamente as 9h14, outro excesso de velocidade registrado no km 429+500 metros , no município de Martinópolis.
É possível acreditar que, nos trechos em que os motoristas da dupla não percebam a presença dos radares, todos sinalizados dentro das normas e divulgados no google maps e site do DER-SP, eles dirijam sempre acima do limite.
Apenas 46 dias depois dessas infrações, o ônibus de João Neto e Frederico colidiu na traseira da carreta na BR-040. Sendo que a viagem foi realizada com frequente excesso de velocidade, como o tacógrafo registrou.
A dupla diz que foi “graças a Deus e a providência divina”. Mas o que parece é que na hora de pegar a estrada os motoristas da dupla são orientados pelo capeta. Porque estão colocando a vida dos usuários pelas rodovias onde passam.
Acidente utilizado como promoção da dupla
Logo após o acidente de 06 de setembro, João Neto e Frederico publicaram vídeos tranquilizando os fãs e confirmando que os shows programados não seriam cancelados.
A cobertura midiática rapidamente se transformou em uma promoção da dupla, destacando sua história, chamando o episódio de “livramento” e reforçando a agenda de apresentações. No entanto, pouco se mencionou sobre as dezenas de multas acumuladas pelo ônibus.
Nas redes sociais, algumas críticas pontuavam a necessidade de mais prudência, mas a maioria dos fãs tratou o incidente como uma fatalidade. João Neto se referiu ao acidente como um “imprevisto”, embora o veículo estivesse sendo conduzido em excesso de velocidade e o motorista possivelmente tenha cochilado durante a madrugada, quase causando uma tragédia.
Segundo Rodolfo Rizzotto, coordenador do SOS Estradas e fundador de uma entidade de vítimas de trânsito, a quantidade de infrações encontradas pelo portal revela que, na ausência de fiscalização por radar, a situação é ainda pior. “Quando a tragédia não acontece, chamam de livramento. Infelizmente, a cobertura midiática trouxe benefícios econômicos e de marketing, enquanto a impunidade no trânsito brasileiro permanece evidente. Espero que a dupla aprenda a lição e mude sua postura antes que uma tragédia aconteça.”, concluiu Rizzotto.
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