O espaço aberto pelas construtoras envolvidas na Operação Lava Jato no setor de infraestrutura virou oportunidade de negócios para muitos grupos nacionais e estrangeiros. Nas últimas semanas, vários deles têm procurado escritórios de advocacia e se debruçado sobre as poucas informações disponíveis para avaliar a atratividade dos projetos incluídos no pacote de concessão lançado em junho pela presidente Dilma Rousseff. Mas ainda é cedo para avaliar se esse movimento resultará em disputa nos leilões.

A lista de possíveis concorrentes nos leilões inclui a JSL, uma tradicional empresa do setor de logística rodoviária. Desde que disputou a concessão da Ponte Rio-Niterói, em março, a empresa vem demonstrando forte apetite por novos projetos no setor. “Queremos ser grandes na infraestrutura viária. Ficamos entusiasmado com o plano de concessão, mas antes de qualquer coisa é preciso aprimorar os projetos”, diz Hilário Pereira, diretor de infraestrutura da CS Brasil, braço de prestação de serviço a órgãos públicos da JSL.

Segundo ele, a empresa está de olho em todos os projetos que representem sinergia com o grupo. Isso inclui rodovias – tanto as com vocação ao transporte de cargas como as de passageiros – e aeroportos. “Muitos investidores de fora do País têm nos procurado para negociar a formação de grupos para disputar futuras concessões.”

Pereira destaca, entretanto, que a participação da empresa ainda depende de uma série de fatores e condições. Além da questão sobre a Taxa Interna de Retorno (TIR), é preciso entender bem como será o financiamento dos projetos. No lançamento do pacote, o governo anunciou que o porcentual de empréstimo do BNDES dependerá do volume de debêntures que será lançado. Mesmo assim, será inferior ao porcentual dos últimos leilões, que chegava a 70%.

Outra empresa que está com a estrutura à espera de detalhes do pacote é a J&F, controladora do JBS. A companhia criou uma subsidiária de infraestrutura para disputar negócios nas áreas de energia, logística, iluminação pública, soluções ambientais e desenvolvimento urbano. Para isso, contratou ex-executivos do grupo OAS para comandar a nova empresa. Por enquanto, a companhia não teve nenhuma oportunidade no setor, seja pelos preços elevados dos ativos ou pela escassez de projetos ofertados.

Pequenos e médios

A paralisia provocada pela crise interna e o baixo volume de obras nas carteiras também despertaram a curiosidade das pequenas e médias construtoras. Em meados do mês passado, cerca de 80 empresários da área de construção, representantes de consultorias e escritórios de advocacia lotaram o auditório da Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop) para discutir a formação de grupos de trabalho que vão estudar as concessões e Parcerias Público-Privadas (PPPs).

“Todos estão interessados em obras e concessões. Estamos sendo procurados por empresas de fora de São Paulo que nem são associadas da Apeop”, diz o presidente da entidade, Luciano Amadio. O objetivo é auxiliar os interessados nas diferentes oportunidades, além de ajudá-los a se preparar para a elaboração de propostas. Para Amadio, o governo Dilma precisa acelerar as concessões para reverter o quadro de constante queda na atividade econômica.

Mas o fato é que o governo fez o caminho inverso: primeiro lançou a ideia e agora precisa de investidores para fazer os estudos de viabilidade econômico-financeira. Sem dinheiro para elaborar os relatórios que serão base para o editais de licitação, o governo tem pedido que algumas empresas façam, ao menos, dois estudos de projetos incluídos no Pacote de Concessão por meio de Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI). As propostas já começaram a ser encaminhadas.

De qualquer forma, três rodovias incluídas no pacote de concessão (BR-163, BR-364 e BR-470/282) já tiveram projetos entregues pela iniciativa privada. A Odebrecht fez estudos para a BR-163 e BR-364 e a JMalucelli, para a chamada Rodovia do Frango (BR-476/153/282/480). Essas são as concessões que o governo gostaria de tirar do papel ainda este ano.

Os estudos, porém, apontam que serão necessários algumas soluções inéditas para conseguir levar adiante a transferência para a iniciativa privada da BR-163, por exemplo. Segundo fontes, embora o potencial de crescimento na região seja enorme por causa do Corredor de Exportação Norte, o volume de investimento e as incertezas do tráfego exigirão algumas opções alternativas, como uma trava caso o fluxo de veículos não se confirme. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.