Cocaína é a droga predominante em todas as categorias

Cocaína lidera o uso de drogas entre motoristas de carreta e ônibus

O SOS Estradas conseguiu levantar dados inéditos junto aos laboratórios que realizam exames toxicológicos de larga janela, através da Associação Brasileira de Toxicologia – ABTox  e do Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO) .

Esse tipo de exame detecta o uso regular de drogas nos últimos 90 dias. O objetivo foi identificar quais os tipos de drogas utilizados conforme a categoria de CNH do condutor. Os dados são referentes ao período entre março de 2016 e junho de 2021. Foram consideradas na análise a droga preponderante no laudo.

Ao contrário do que ainda supõe boa parte da opinião pública, a cocaína já deixou longe no retrovisor o chamado rebite (anfetaminas). No total dos exames positivos, numa amostra aproximada de 200 mil casos, cocaína representa 67,1% dos laudos.

No segundo lugar, estão os opiáceos, com 21,7%. Enquanto as anfetaminas (rebite), representam 5,8%, e Maconha 5,7%.

Os dados são particularmente importantes num momento em que milhões de condutores das categorias C, D e E são obrigados a cumprir a exigência do exame toxicológico periódico, previsto pela Lei 14.071/20, e instituído na lei anterior, a 13.103/15.

Como consequência, centenas de milhares de motoristas fogem do exame por serem usuários de drogas. Preferem ser penalizados com pelo menos 1 multa de R$ 1.467,35 e suspensão da CNH por 90 dias, até apresentarem laudo negativo do exame, do que cumprir a obrigação legal. Na prática, muitos continuam nas estradas e ruas contando com a falta de fiscalização.

Dados revelam as drogas utilizadas por categoria

Os resultados por categoria representam condutores que tentaram renovar a CNH nas categorias C (caminhão), D (coletivos) E (carretas) ou que queriam mudar de categoria. Por exemplo, condutor habilitado na categoria A (motocicleta) que tentou obter habilitação C, D ou E. Nestes casos, é obrigatório o exame toxicológico de larga janela.

Os motociclistas que tentaram obter habilitação C, D ou E apresentavam positividade para cocaína em 77,5% dos casos e 20% para maconha. No caso de AB, portanto, já habilitados para motocicletas e carros, 78,3% foram flagrados em cocaína e 8,9% em maconha.

Números assustadores para coletivos e carretas

Motoristas que dirigem coletivos e vans, portanto categoria D, apresentaram positividade de 66,3% para cocaína. Opiáceos foi a segunda causa de positividade com 24,2% e a maconha foi identificada em 5,4%.

Condutores de carretas, categoria E, que – com laudo positivo para drogas – apresentaram cocaína no organismo em 68,9% dos casos; o índice mais elevado entre motoristas de veículos pesados. Opiáceos veio a seguir com 18,3%, seguido de anfetamina(rebite) 8,3% e maconha com 4,5%.

O índice por categoria mostra claramente que dezenas de milhões de brasileiros foram transportados por usuários de drogas, inclusive as crianças no transporte escolar.

Esses exames estão mostrando a ponta do iceberg. Não se trata de usuários eventuais de drogas, mas sim de pessoas que dirigem regularmente sob efeito de substâncias psicoativas, com a justificativa de tentar se manterem acordadas ou suportar a pesada jornada. O que parecia um problema restrito aos caminhoneiros é muito mais amplo e atinge o transporte de passageiros nas rodovias e principalmente cidades de brasileiras.

Pelo que o SOS Estradas apurou, as autoridades não tem aproveitado essas informações científicas, porque são fruto de exames de laboratório, para entender a dimensão do problema e agir com maior eficiência no combate ao excesso de jornada e consumo de drogas. Não podemos esquecer de que cerca de dois milhões de motoristas das categoria C, D e E não compareceram para renovar a CNH após a exigência do exame toxicológico. A queda na renovação chegou a 30% em alguns estados. Índice jamais visto na história dos detrans brasileiros.

Acidente mais grave do Espírito Santo envolveu motorista drogado

Em julho de 2017, uma colisão na BR-101, na altura de Guarapari (ES), que envolveu uma carreta carregada com granito, um ônibus e um ambulância, deixou 23 mortos, sendo 19 deles carbonizados e 22 feridos.

O motorista da carreta estava sob efeito de cocaína e rebite. Trabalhava numa empresa que explorava os caminhoneiros com excesso de jornada. Além disso, transportava a carga com excesso de peso, várias multas e o veículo em precárias condições.

Em 12 de outubro de 2019, na rodovia Presidente Dutra (BR-116), na altura de Resende (RJ), uma carreta invadiu a pista contrária, colidindo frontalmente com um carro em que estavam dois casais e uma bebê de 1 mês. Morreram todos os ocupantes do automóvel e o caminhoneiro.

Na ocasião, por sugestão do SOS Estradas, a Polícia Civil autorizou a coleta de cabelo do motorista da carreta, e ele apresentava presença de cocaína no organismo mais de 10 vezes superior ao considerado positivo para o exame de larga janela.

São apenas dois dos muitos acidentes (sinistros) fatais nas rodovias brasileiras com condutores sob efeito de drogas. Infelizmente, apurações como essas feitas pelo SOS Estradas são raras, já que as perícias no Brasil são precárias.

Metodologia da pesquisa

As informações exclusivas do SOS Estradas foram obtidas através de dados do Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO) que são acessados com os resultados dos exames toxicológicos aplicados por todos os laboratórios do país.

Posteriormente, através da ABTox foram analisados os laudos positivos por droga preponderante, já que em muitos casos foram encontradas mais de uma droga. A entidade reúne os laboratórios que representam cerca de 80% do total dos exames realizados no Brasil.

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