Acidente entre Araguari e Uberlândia foi registrado quase 48 horas depois, quando criança de 6 anos conseguiu pedir ajuda
O menino Benjamin da Silva Miguel, único sobrevivente do acidente em que a família dele morreu na BR-050, recebeu alta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU) na noite de terça-feira (9). O acidente ocorreu no Km 45, entre Araguari e Uberlândia, no último domingo (7).
Contudo, a ocorrência foi registrada somente nesta terça-feira, depois de aproximadamente 48 horas, quando a criança de seis anos conseguiu sair da vala onde o carro caiu para pedir ajuda na rodovia. Testemunhas contaram que chamaram a concessionária que administra a rodovia – a MGO Rodovias, para prestar atendimento.
Em seguida, a criança foi encaminhada para o hospital sem ferimentos graves e permaneceu em observação na unidade até por volta das 21h. Depois voltou para Campinas (SP), onde a família morava, na companhia de familiares.
O tio da criança informou que o menino passou por exames e que ele saiu praticamente ileso do acidente. “Eles fizeram exames da cabeça aos pés dele, raio-x e não constaram nada, nenhuma fratura mais grave. Ele está saindo ileso, com alguns hematomas, mas sem nenhuma fratura grave”, disse Carlos da Silva Miguel.
No acidente morreram o pai Alessandro Monare, de 37 anos, a mãe Belkis da Silva Miguel Monare, de 35 e um dos filhos do casal, de 8 anos. O enterro deles está previsto para as 9h desta quarta-feira (10), em Campinas.
Acidente
A família passou o fim de semana em Rio Quente (GO). A irmã de Belkis contou que eles estavam comemorando o aniversário da mãe das crianças, que foi na sexta-feira (5). No domingo, as vítimas informaram para parentes que retornariam para casa, mas perderam o contato durante a manhã.
O pai Alessandro era pastor da Igreja Batista em Campinas há seis anos. Quando ele não apareceu para celebrar o culto no domingo, amigos e familiares iniciaram as buscas por conta própria. Membros de outras igrejas evangélicas e cristãs fizeram o trajeto por onde a família deveria ter passado.
O Corpo de Bombeiros, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a MGO Rodovias – concessionária responsável pelo trecho – também foram acionados e identificaram que o veículo da família havia sido visto pela última vez na manhã de domingo (7) no Km 114 da LGM-223. Buscas foram feitas na área, inclusive com o auxílio de drones. No entanto, as vítimas só foram localizadas quando a criança saiu do carro e seguiu em direção a rodovia, sendo socorrido por um caminhoneiro que passava pelo local.
Acionamento
Na noite desta terça-feira (9), um casal que transitava pela BR-050 no sentido contrário disse ter visto dois veículos capotarem por volta de 10h de domingo no mesmo lugar onde o carro das vítimas se acidentou e que avisaram a MGO.
“Nós estávamos indo para Araguari para as votações e no momento do acidente nós vimos os dois carros capotarem, um dos carros meu marido viu claramente que capotou pro lado do mato. Eu vi o outro carro, um veículo claro provavelmente de cor branca. Ele só não capotou em cima do nosso carro porque ele parou naquela vala que divide as duas pistas no sentindo contrário”, contou a mulher que preferiu não se identificar.
A testemunha contou que ficou em choque quando viu a divulgação do caso pela imprensa. “O ato que nós tivemos na hora do acidente foi continuar, parar na sede da MGO, pois era perto o local do acidente. Nós paramos buzinando, fazendo muito barulho para chamar atenção e um dos funcionários da MGO apareceu, questionou onde era o local do acidente e disse que podíamos ficar tranquilos que ia avisar a sede e prestar o socorro”, explicou.
A Polícia Civil investiga o caso. A concessionária informou que está colaborando com as investigações da Polícia Civil e com a PRF para apurar as causas do acidente e se houve o envolvimento de outro veículo.
MGO responde perguntas do MG1
MG1 – A respeito do contrato existente de monitoramento da rodovia. Como funciona esse monitoramento e o funcionamento das câmeras?
Resposta MGO – Atualmente, temos 152 câmeras instaladas e em operação ao longo dos 436,6 quilômetros da BR-050, sob concessão da MGO Rodovias. No trecho de MG temos 97 câmeras que cobrem todo o trecho de 218,1 quilômetros. Em Goiás, temos 55 implantadas de um total de 95 (as demais estão sendo implantadas na medida que a rodovia está sendo duplicada). Cada câmera tem uma com cobertura de até 3 quilômetros, em razão da alta tecnologia e de acordo com a sua localização, e executa movimentos em 360 graus. Elas são pré-programadas – presets de 1 minuto em cada ponto, alternando em 4 pontos. Isso não quer dizer que a câmera flagra acidentes em tempo real sempre, isso só acontece quando está voltada exatamente para o local no momento da ocorrência. Elas são particularmente importantes para visualização de veículos parados por problema mecânicos na rodovia e de acidentes em que seu zoom permite uma visualização mais próxima da ocorrência, pessoas e veículos envolvidos. A função das nossas câmeras é o monitoramento do fluxo de veículos na rodovia e não de fiscalização policial, que compete à Polícia Rodoviária Federal, que tem acesso a elas e pode utilizá-las com essa finalidade.
Resposta MGO – Estamos revendo e verificando as imagens disponíveis nesse período com essa finalidade. Nas buscas que fizemos em apoio ao Corpo de Bombeiros, PRF e Polícia Estadual não registramos a passagem do veículo em nossas praças de pedágio. Entenda que as imagens das câmeras são panorâmicas e não há visualização das placas (exceto nas cabines de pedágio), o que somente pode-se verificar com o veículo parado e em uma ocorrência em andamento/atendimento, e a qualidade da imagem vai depender da distância entre a câmera e o local.
MG1 – Em relação ao depoimento das pessoas que disseram que presenciaram o acidente e que foram até a base da MGO avisar, qual foi o procedimento adotado pela base, uma vez que as pessoas disseram que a MGO não deu a devida atenção?
Resposta MGO – A equipe de atendimento pré-hospitalar/Resgate e de inspeção de tráfego seguiu os procedimentos padrão estipulados no contrato de concessão. Foram até o local (em 5 minutos chegaram ao local após saírem da SAU 6 – base operacional e de atendimento aos usuários. No local (km 45 Sul da BR-050), às 10h25, de 07/09) somente foi encontrado um veículo acidentado, um VW Gol branco, com 3 ocupantes. Uma delas apresentava ferimentos leves e foi removida posteriormente para Upa de Araguari. A condutora (ilesa) ao ser atendida disse que sentiu uma pancada na traseira do veículo, perdeu o controle do mesmo e parou no canteiro central. Segundo ela, um veículo teria colidido em sua traseira e se evadido do local. Após o atendimento dessa ocorrência, em que a PRF foi acionada e estava presente, foi feita uma varredura no local sem que se encontrasse outro veículo.
MG1 – Em relação ao outro acidente, do veículo branco com as três mulheres: o veículo foi guinchado? Foi feita ocorrência do acidente? Pra onde o veículo foi levado?
Resposta MGO – Sim para as primeiras perguntas. E as vítimas foram levadas para o Posto Brandão, em Araguari.
Resposta MGO – Sim, conforme explicado acima.
MG1 – Qual horário foi registrado esse acidente?
Resposta MGO – 10h25
MG1 – As marcas de pneu na grama foram levadas em consideração pelos funcionários da rodovia para investigar a possibilidade de outro veículo ter envolvido no acidente do carro branco?
Resposta MGO – Sim, mas marcas de frenagem existem em vários pontos da rodovia e podem ser pré-existentes, somente a perícia poderá concluir com certeza as causas do acidente e se houve envolvimento de outro veículo. O fato é que o veículo acidentado não foi visto/encontrado porque caiu dentro de uma vala de 3 metros, a mais de 10 metros da pista, encoberto por vegetação alta. Não foi visualizado sequer pelo drone utilizado pelo Corpo de Bombeiros nas buscas feitas na região, desde domingo, como declarou seu comandante.