A Mercedes Axor é composta por modelos rodoviários para composições de até 74 toneladas e fora-de-estrada com capacidade máxima de tração de até 123 toneladas

De acordo com a montadora, chamado é por conta de problemas nos suportes do reservatório de ar, que podem se desprender e causar acidentes; Mercedes-Benz diz que não paga os custos com deslocamento para atender ao recall. O IDEC diz que o proprietário tem direito ao reembolso

(*) Matéria atualizada às 22h40 de 29/1/20 com a posição do IDEC

A Mercedes-Benz do Brasil fez um comunicado de recall convocando os proprietários de caminhões Atego 8×2, Atron HSK e linha Axor dos modelos rodoviários e fora de estrada para comparecerem a uma das concessionárias da marca a fim de reparar um problema nos suportes do reservatório de ar.

De acordo com a montadora, foi constatado uma possível inconformidade nos suportes que sustentam os tanques de ar dos veículos e, com isso, pode vir a gerar uma fissura e quebra prematuras dos suportes, o que pode ocasionar o desprendimento de peças ou fragmentos nas vias de trânsito, com risco de acidente.

O Estradas.com.br entrou em contato com a Mercedes-Benz e fez alguns questionamentos a respeito desse recall. Acompanhe:

1 – Quantas concessionárias de caminhões MB há no Brasil?

MB – Cerca de 180 pontos de atendimento por todo o Brasil.

2 – Como a Mercedes-Benz tomou conhecimento desse problema?

MB- A irregularidade é nos suportes que sustentam os tanques de ar. Foram encaminhados alguns veículos com essa irregularidade para o centro de inspeção, localizado na fábrica de São Bernardo do Campo (SP).

3 – Quantos veículos estão envolvidos nesse chamado?

MB – Quase 11 mil veículos estão envolvidos nessa campanha de Recall.

4 – Quais os riscos inerentes com esse problema?

MB – Em caso de quebra do suporte, pode haver a queda dos tanques com os veículos em movimento.

5 – A MB tem ciência de algum acidente por conta do problema? Há vítimas decorrentes de algum acidente e/ou incidente envolvendo a peça? Em caso positivo, quando ocorreram, onde e quais as consequências?

MB – Não houve nenhum acidente.

6 – A MB informa que o reparo é gratuito. Pois bem, a empresa irá custear as despesas (deslocamento, pedágio, alimentação, hospedagem etc.) para os proprietários que precisem viajar até a concessionária mais próxima para atender o recall? 

MB – A Mercedes-Benz tem cerca de 180 pontos de atendimento espalhados por todo o Brasil. Dessa forma, o cliente consegue fazer o reparo dessa peça perto de sua instalação/ operação.

Despesas

Sobre a questão do custeio das despesas, em um novo contato por meio da assessoria de imprensa, a Mercedes-Benz informou que, por conta da rede de concessionárias ser ‘muito grande’ e o deslocamento dos proprietários ser, em 99% dos casos, pequeno, a empresa não custeia a operação dele [proprietário] até a concessionária.

Segundo a Mercedes-Benz, ‘o custo do cliente é tão mínimo, que não é um custo’. A reportagem do Estradas.com.br disse que há casos de proprietários que têm que se deslocar centenas de quilômetros, entre ida e volta, o que demanda um custo considerável.

A Mercedes-Benz respondeu que é muito difícil uma cidade ser tão longe de um concessionário que demande um dia inteiro, por exemplo. A empresa informou também que em casos onde o cliente tenha que ficar um ou mais dias para reparar o problema, o concessionário local já tem a expertise de perceber que é preciso levar a peça até a operação do cliente ou não. Segundo a Mercedes-Benz, tudo é pensado porque o concessionário local entra em contato com o cliente e acerta a melhor logística.

Cálculos

A reportagem do Estradas.com.br fez uma simulação de gastos com dois caminhoneiros que tivessem que se deslocar de suas residências até o concessionário mais próximo para atender ao recall.

Um deles sairia de Palmas, no Tocantins, para ir até Araguaína, no interior do Estado, para reparar a peça. Levando em conta os cerca de 785 quilômetros, ida e volta, na viagem, esse motorista iria desembolsar um valor de aproximadamente, R$ 720,00, sendo R$ 568 de diesel; R$ 100 por uma noite de hospedagem e R$ 50 em alimentação. Sem contar os prejuízos pelos dias de trabalho perdidos. Nesse trajeto não há pedágios.

O  outro exemplo é de um caminhoneiro saindo de Rosana, no extremo Oeste de São Paulo, com destino a Dracena, onde fica o concessionário mais próximo. Neste caso, são aproximadamente 500 quilômetros de extensão, ida e volta, e o motorista teria um gasto aproximado de R$ 530,00; sendo R$ 368,00 com o diesel, R$ 100 com uma noite de hospedagem e R$ 60 com alimentação. Assim como no exemplo acima, neste trecho não há pedágios.

Portanto, a resposta oficial da Mercedes-Benz de que o motorista não tem custo com o deslocamento até o concessionário mais próximo não condiz com a verdade. Afinal, os valores estão exemplificados foram baseados levando em conta os dados fornecidos pelo próprio site da Mercedes-Benz.

Para o Coordenador do SOS Estradas, Rodolfo Rizzotto, autor do único livro sobre recall no Brasil, o Código do Consumidor garante o ressarcimento dessas despesas. “Recomendo que os proprietários peguem nota de todas as despesas que tiverem com combustível, pedágio, alimentação, eventual hospedagem e peçam ressarcimento. Caso a montadora não providencie o reembolso, procurem o Procon da sua cidade. ”

Direito ao reembolso

A reportagem conversou com o advogado do Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC), Igor Marchetti, que nos deu o seguinte posicionamento:

“Em regra, o artigo 10 do Código de Defesa do Consumidor determina que as empresas que identifiquem que colocaram produtos inseguros no mercado devem chamar para conserto os veículos do modelo e ano identificados. A Portaria Conjunta nº 3 de 2019 disciplinou recentemente no artigo 2º, §2º que é dever de todos os fornecedores assumirem os custos inerentes ao chamamento. Em regra geral, os custos dizem respeito ao conserto e não ao deslocamento dos veículos.

Entretanto, o Idec entende que pelo fato da empresa ter responsabilidade por ter colocado o produto no mercado, deve arcar também com eventuais prejuízos que o consumidor tenha sofrido por esse motivo. Em casos como o narrado, é comum que o motorista tenha que se deslocar por uma distância significativa, não sendo correto pela sistemática de defesa do consumidor que ele fique com o prejuízo de eventuais gastos de deslocamento, sabendo ainda que em casos de recall o consumidor deve providenciar o envio do veículo o mais rápido possível para evitar riscos de morte, inclusive.

Caso o motorista encontre problemas para o ressarcimento poderá ingressar com ação no Juizado Especial Cível para em causas de até vinte salários mínimos exigir os danos materiais sofridos decorrentes do recall.”  

Convocação no Comunicado Oficial da empresa

O recall da Mercedes-Benz do Brasil inclui cerca de 11 mil caminhões dos modelos Atego 8×2 (números de série 9BM958186JB061451 a 9BM958184KB145279 – não sequenciais), Atron HSK (9BM695053JB086051 a 9BM6950531H145249) e linha Axor, rodoviários e fora de estrada (9BM958260JB084505 a 9BM958208KB145282), fabricados entre janeiro de 2018 e junho de 2019.

Segundo o comunicado, a Rede de Concessionários Mercedes-Benz realizará a inspeção dos veículos e, se necessário, fará a substituição gratuita dos suportes de fixação do tanque de ar. Os donos dos veículos envolvidos nessa convocação podem agendar o serviço de reparo diretamente no concessionário de Veículos Comerciais ou no Posto de Serviço Autorizado Mercedes-Benz de sua preferência.

Os proprietários estão sendo convocados por correspondência direta e também por divulgação na mídia. Com essa iniciativa, a Mercedes-Benz do Brasil visa assegurar a máxima segurança e satisfação de seus clientes, garantindo a qualidade e a confiabilidade dos veículos da marca. Informações: 0800 970 90 90 ou www.mercedes-benz.com.br.

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