Mortalidade dispara nas pistas que cortam o estado de maior malha viária do país. Desde a saída para o recesso escolar, foram 31 óbitos nas rodovias, 10 deles somente ontem

O movimento de retorno das férias escolares do mês de julho nem começou nas rodovias, mas a violência nas estradas que cortam Minas Gerais já avança em números assustadores. Desde o dia 13, uma sexta-feira, quando o fluxo de veículos começou a aumentar em função do recesso do meio do ano, pelo menos 31 pessoas morreram, o que significa média de 2,5 óbitos a cada dia em BRs e MGs que cortam o território mineiro. Ontem, um dia depois da morte de três policiais militares em uma batida violenta na BR-262, colisões frontais voltaram a tirar vidas. Na BR-040, três pessoas morreram quando o carro em que estavam bateu de frente com um caminhão em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, motivando inclusive o deslocamento da cabine do cavalo mecânico, que ficou praticamente pendurada após o impacto.

Também ontem, outras sete pessoas morreram em desastres nas rodovias mineiras. Um deles aconteceu na BR-040, em Juiz de Fora, na Zona da Mata, outro na BR-135, em Corinto, na Região Central, outro na BR-381, em Itatiaiuçu (Grande BH), e um quarto na BR-116, em Teófilo Otoni (Vale do Mucuri). De todas essas ocorrências, apenas a registrada na região metropolitana da capital ocorreu em rodovia duplicada. Desde o início do mês de julho, segundo levantamento extraoficial feito pela equipe do Estado de Minas, pelo menos 41 pessoas perderam a vida em estradas que cortam o estado, a maioria delas desde que aumentou o movimento nas rodovias devido às férias escolares (veja quadro). Considerados os dois primeiros dias úteis desta semana, foram 13 mortes em seis acidentes – e em apenas dois deles não foram batidas frontais.

Das dez mortes registradas ontem, sete foram em estradas sob jurisdição da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e três na BR-135, onde atualmente quem faz a fiscalização é a Polícia Militar Rodoviária (PMRv). Um dos casos que mais chamaram a atenção foi o desastre ocorrido em Nova Lima, na BR-040, bem próximo à entrada para o Condomínio Retiro do Chalé. Uma carreta e um carro de passeio seguiam para Belo Horizonte quando a carroceria do veículo pesado fez um “L”, jogando o carro para a pista contrária. A pancada contra o caminhão que vinha em sentido contrário, em direção ao Rio de Janeiro, foi tão forte que o carro menor foi parar praticamente embaixo do outro veículo.

Três pessoas que estavam no veículo de passeio, com placas de Conselheiro Lafaiete, na Região Central do estado, morreram na hora e ficaram prensadas entre as ferragem. Dois dos mortos são Rafael Dias Amorim, de 36 anos, e Tatiana Silvia Ribeiro, de 32. A identidade da terceira vítima não foi informada. Um longo congestionamento se formou na BR-040 devido ao fechamento parcial das pistas para que socorristas, peritos e bombeiros trabalhassem na área.

Ainda ontem, na mesma BR-040, outra cena de destruição assustou motoristas. Segundo a PRF, um carro e um caminhão carregado de copos de plástico bateram, provocando um incêndio. Um dos ocupantes do carro, com placas de Petrópolis (RJ), morreu no local e o veículo de carga ficou completamente destruído pelo fogo. Outras duas pessoas ficaram feridas.

As tragédias rodoviárias se repetiram em outras duas rodovias ontem. Na única das ocorrências registrada em rodovia duplicada, uma pessoa morreu em um engavetamento na BR-381, em Itatiaiuçu, na Grande BH. Já na BR-135, em Corinto, na Região Central de Minas Gerais, foram mais três óbitos em uma batida entre carro e carreta. Segundo a Polícia Militar Rodoviária (PMRv), o motorista do veículo de carga, com placas de Pernambuco, disse que o condutor de um Prisma de São Paulo tentou fazer uma ultrapassagem, mas perdeu o controle da direção e invadiu a contramão, causando a batida frontal. Com o impacto, duas pessoas foram arremessadas para fora do carro e morreram. A terceira morreu presa às ferragens. Não foi divulgada a identificação das vítimas. Por volta das 9h, o local do acidente passava por perícia. Ainda segundo a polícia, como os dois veículos ficaram fora da pista, o trânsito não foi interditado.

FRANCISCO SÁ A batida mais violenta do período de férias aconteceu na semana passada, em Francisco Sá, no Norte de Minas. Oito pessoas morreram em um acidente que envolveu 11 veículos. Segundo a PRF, houve uma retenção no trânsito, provocada por uma carreta carregada com sal, que estava quebrada e parada na pista. Durante a formação da fila, uma carreta com carga de melões bateu na traseira de um Doblô, que foi arremessado para fora da pista em chamas, matando seis pessoas carbonizadas. Outros dois carros também foram arremessados, vitimando mais duas pessoas.

De frente para o perigo
Confira a lista dos acidentes que mataram pelo menos 41 pessoas nas estradas mineiras neste mês, 31 delas desde a sexta-feira, 13, quando aumentou o movimento nas rodovias devido às férias escolares

» 2 de julho – Três mortos na BR-135, em Curvelo (Região Central)
» 7 de julho – Seis mortos na BR-365, em Uberlândia (Triângulo)
» 11 de julho – Um morto na BR-265, em Lavras (Sul de Minas)
» 13 de julho – Dois mortos na MGC-122, em Janaúba (Norte de Minas)
» 15 de julho – Dois mortos na BR-116, em Santa Rita de Minas (Vale do Rio Doce)
» 16 de julho – Oito mortos na BR-251, em Francisco Sá (Norte de Minas)
» 18 de julho – Um morto na BR-135, em Montes Claros (Norte de Minas)
» 18 de julho – Um morto na LMG-679, em Claro dos Poções (Norte de Minas)
» 20 de julho – Três mortos na BR-381, em Periquito (Vale do Aço)
» 22 de julho – Um morto na BR-381, em Antônio Dias (Vale do Aço)
» 23 de julho – Três PMs mortos na BR-262, nos limites entre Nova Serrana e Araújos (Centro-Oeste de Minas)
» 24 de julho – Três mortos na BR-040, em Nova Lima (Grande BH)
» 24 de julho – Um morto na BR-040, em Juiz de Fora (Zona da Mata)
» 24 de julho – Três mortos na BR-135, em Corinto (Região Central)
» 24 de julho – Um morto na BR-381, em Itatiaiuçu (Grande BH)
» 24 de julho – Dois mortos na BR-116, em Teófilo Otoni (Vale do Mucuri)

Minas acumula características propícias a acidentes

Um estado com a maior malha viária do país, caminho para grande parte das cargas e passageiros que se deslocam entre estados, com relevo montanhoso e pistas sinuosas, cortado por estradas sem duplicação e malconservadas. A combinação explosiva de ingredientes para acidentes rodoviários conta com um estopim decisivo, na opinião de especialistas: a imprudência. “A violência dos acidentes nas estradas mineiras tem como causa principal a postura dos motoristas ao volante. As condições climáticas e de conservação das vias podem ser responsáveis por algumas ocorrências, mas nem sempre com a gravidade que temos visto recentemente.” A avaliação é do tenente Pedro Aihara, da assessoria de comunicação do Corpo de Bombeiros, que alerta para a necessidade de mudança de comportamento dos condutores para evitar as tragédias.

“Minas Gerais tem a maior malha rodoviária do país. A posição geográfica central torna o estado passagem obrigatória para a maioria de veículos de carga. Tem ainda as características de relevo de montanhas, que tornam rodovias sinuosas e com pouca visibilidade em muitos dos trechos. Neste período de férias cresce o fluxo de veículos e, diante da postura imprudente de muitos condutores, é inevitável o aumento dos casos de mortes”, destacou Aihara.

Para o tenente, as principais causas dos acidentes violentos são o excesso de velocidade e ultrapassagens em locais proibidos. “Dois veículos a 140km/hora cada, ainda que os condutores pisem no freio e a velocidade se reduza pela metade, quando batem de frente o impacto é enorme e certamente vai produzir traumas e ferimentos fatais”, explica.

Pedro Aihara chama atenção também para os casos de motoristas que usam drogas para se manterem “acesos” ao volante. Segundo oficial, há um conjunto de cuidados que os motoristas deveriam ter, especialmente quando encontram condições adversas como pouca visibilidade, chuvas e estradas esburacadas, mas também em condições normais de tráfego. “A postura de cuidado deixa de ser observada em pistas com asfalto bom, durante o dia, e os condutores trafegam em altas velocidades.” Aihara lembra que nas rodovias mineiras, segundo pesquisa recente da Confederação Nacional de Transportes (CNT), morreram 12 mil pessoas entre 2007 e o ano passado.

ESCALADA 
O número de mortes durante o mês de julho nas rodovias de Minas sob responsabilidade da Polícia Rodoviária Federal registrou aumento no balanço consolidado dos últimos dois anos. Em 2016, o mês que marca o recesso escolar de meio de ano registrou 73 óbitos em 1.129 acidentes, que resultaram ainda em ferimentos em 1.238 pessoas. Já no ano passado, o período atingiu a marca de 104 mortes, um aumento de 42%. A situação é ainda mais grave quando se considera que a quantidade de desastres foi menor em 2017: foram 1.038 colisões, que deixaram ainda 1.138 feridos, segundo dados da PRF.

Fonte: www.em.com.br