Paramédicos tentavam salvar a vida de Daniel. Simultaneamente a equipe atendia outro ciclista ferido pela roda do caminhão Foto: Mídias Sociais

Segundo a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) pelo menos 5% dos sinistros com vítimas em rodovias concedidas têm como causa
primária condição inadequada de veículo envolvido no sinistro (acidente).

Numerosos são os casos graves por todo o país, envolvendo veículos, principalmente, os de carga, que – por falta de manutenção – perdem rodas/pneus e acabam provocando acidentes (sinistros), muitas vezes fatais.

O Código de Trânsito Brasileiro (Lei nº 9.503/1997) prevê desde a sua entrada em vigor em janeiro de 1998 a inspeção veicular obrigatória: “Art. 104: Os veículos em circulação deverão ser submetidos à inspeção de segurança veicular periódica, obedecidas as normas estabelecidas pelo CONTRAN.”

Ou seja, a inspeção periódica obrigatória (também chamada de inspeção técnica veicular) já está prevista legalmente há quase 30 anos mas até hoje não foi aplicada no país. Enquanto isso, vidas são perdidas por negligência dos proprietários e autoridades.

Apesar da ABCR estimar em 5% os sinistros com veículos em condições precárias de manutenção, especialistas acreditam que esse número é muito maior.

Vítimas fatais revelam a gravidade da situação

O caso do ciclista Daniel de Almeida Dahia é um exemplo recente. Em 6 de julho do ano passado, ele e alguns colegas estavam pedalando no Parque Ecológico do Tietê, próximo da Rodovia Ayrton Senna da Silva (SP-070), quando foi atingido por uma roda de um caminhão.

Segundo o Boletim de Ocorrências (B.O.), Daniel faleceu no hospital, devido à gravidade dos ferimentos; já o outro ciclista ficou gravemente ferido.

Em 14 de janeiro deste ano, a jovem Maria Cícera da Silva Costa estava na margem da rodovia PE-218, em Brejão (PE), quando foi atingida pelo pneu que se soltou de um caminhão. Ferida gravemente, foi socorrida pelo SAMU, em Garanhuns (PE) mas não resistiu aos ferimentos e faleceu logo depois.

Outro caso fatal ocorreu em 27 de março, e envolveu o motorista de aplicativo Eder Lopes, de 39 anos, que morreu após ser atingido por uma peça metálica que se soltou de um caminhão na BR-153, em Goiânia (GO).

Segundo a concessionária responsável pela rodovia, o caso aconteceu no km 493, sentido Goiânia-Anápolis. O cubo de freio se desprendeu do caminhão e atravessou o para-brisa do Chevrolet Cruze.

Em Minas Gerais, uma roda de uma carreta se soltou atingindo uma Kombi e matando uma pessoa e deixando outras sete feridas em 19 de agosto do ano passado, em Cássia(MG) na MGC-444.

Após soltar do caminhão, a roda atingiu a kombi matando uma pessoa e ferindo sete Foto: Mídias Sociais

No Paraná, uma roda de um caminhão 3/4, tipo frigorífico, se soltou na madrugada do dia  19 de outubro, na altura do km 625 da BR-376/PR, pista sentido Curitiba (PR), em São José dos Pinhais (PR), e atingiu um ônibus, da Viação Penha, que trafegava no sentido oposto, provocando a morte de um passageiro e ferimentos em outros dois.

Já em Pernambuco, uma criança, de 3 anos, morreu após ser atingida por um pneu que se soltou de um caminhão e o acertou em um campo de futebol, em Igarassu, na Grande Recife (PE). Ela brincava com seu irmão, de 6 anos.

Nesta quinta-feira (3), em Campinas, no interior de São Paulo, a roda dianteira de um ônibus se soltou por volta das 5h30, com quase 100 passageiros a bordo. Felizmente ninguém se feriu.

Para o Coordenador do SOS Estradas, Rodolfo Rizzotto, o Brasil ainda não implementou a inspeção veicular obrigatória devido à pressão política de grupos econômicos.

“Cerca de 30% a 40% dos veículos de carga em circulação apresentam manutenção precária ou inadequada. Além disso, muitos motoristas dirigem sob excesso de jornada e, frequentemente, em velocidades incompatíveis, em rodovias muitas vezes precárias. Estão conduzindo verdadeiras armas de destruição em massa, em péssimas condições, cuja manutenção não é controlada pelas autoridades. O discurso para evitar a inspeção é sempre o mesmo: a necessidade de reduzir custos para os proprietários de veículos. Mas, afinal, quem paga pelas vidas perdidas? A resposta é simples: as famílias!”

Para Rodrigo Kleinubing, perito especialista em sinistros de trânsito, a situação é extremamente grave:

“Qualquer país que leva a sério a segurança viária adota a inspeção veicular obrigatória. Isso é ainda mais urgente em um país como o nosso, com uma frota de veículos pesados envelhecida e com manutenção precária. O índice real dos sinistros causados por falta da inspeção veicular é muito maior do que 5%.” Saiba mais no artigo de Rodrigo Kleinubing: Sobre a Inspeção Técnica Veicular

Homenagem a Daniel e campanha pela inspeção veicular

Neste domingo (6), data em que completa um ano da morte de Daniel de Almeida Dahia, a família do ciclista, o pai Elias Dahia, a mãe Karla Mathias de Almeida, e os dois irmãos mais novos, farão ação no Parque Ecológico do Tietê, em São Paulo, a partir das 10h, para prestar uma homenagem ao filho, vítima do acidente que o matou, quando pedalava no parque.

A família mora na capital  paulista, desde 1997. Desde o acidente com o filho Dan, como é carinhosamente chamado, a família tem vivenciado dias tristes. Elias Dahia relembra o 6 de julho do ano passado:

Dan já vinha praticando triatlo há alguns meses. Estava muito apaixonado pela escolha dele. No dia 6 de julho, ele acordou bem cedo. Ele deixou filmes, inclusive, gravado ele saindo de casa. Filmou ele no elevador com a bicicleta. Isso tudo no dia 6 de julho de 2024. Como ele fazia todos os finais de semana, ele foi treinar com a turma dele no Parque Ecológico do Tietê, que fica à margem da rodovia Ayrton Senna. Por volta das 6h30, um caminhão que trafegava na Ayrton Senna soltou um dos pneus. O motorista viu a roda se soltar. A roda seguiu pela estrada, entrou no parque e atingiu Dan e mais um colega.

Tinha um batalhão de pessoas na ciclovia treinando e essa roda atingiu Daniel e mais um colega. Dan sofreu muitos ferimentos graves na coluna, na cabeça, ele teve paradas cardíacas ainda no parque, recebeu o socorro da Ecorodovias, e ele foi sendo massageado até o hospital que fica próximo, é um hospital chamado Vermelhinho, e eu acho que mais três ou quatro horas de tentativas e não conseguiram salvar Dan.”

De acordo com o pai, de lá para cá, a família, passou por um momento de necessidade de reestruturação, e, diante disso, decidiu – baseado nessa dor e no luto que está experimentando – usar toda essa dor para alertar a sociedade, de alguma forma, para que outras famílias não sintam o mesmo.

Nós decidimos, mais recentemente, fazer uma campanha para levar essa mensagem de ampliação da segurança nas rodovias e nos parques. Fomos muito bem acolhidos pelas concessionárias de rodovias, e eles toparam nos apoiar neste evento que vai acontecer no dia 6, neste domingo, às 10 da manhã, para homenagear o Dan e também fazer ações de conscientização, de forma a levar uma mensagem de ampliação de segurança para os ciclistas, motoristas de forma geral e público de forma geral. Essa ação que irá acontecer no parque, no parque ecológico do Tietê, no início da ciclovia, a gente tem como objetivo plantar algumas mudas de árvores, a ideia da plantação dessas mudas é de que elas sirvam ao longo do tempo como uma barreira física para aumentar a segurança e trazer um pouco mais de beleza para o parque.

Nós também faremos a instalação de uma bicicleta branca, um conceito que a gente aprendeu nos últimos meses, de que se colocar um marco no local do acidente, isso traz um pouco mais de consciência para as pessoas que usam o parque, que usam as ciclovias.

Nós fomos apoiados pela SPÁguas, que administra o Parque Ecológico do Tietê, que autorizou a instalação da bicicleta. Além disso, conseguimos também apoio de uma construtora, que vai instalar esse marco – um poste de ferro com uma bicicleta soldada, uma bicicleta toda pintada de branco. Colocaremos uma placa que foi feita com uma mensagem importante para Dan, e essa placa será colocada nesse poste

Além desses apoios, temos também a solidariedade da Associação das Concessionárias de Rodovias, a ABCR, da Polícia Militar Rodoviária, que estará no evento também fazendo uma ação de conscientização de educação voltada para crianças. Vamos distribuir um folder, feito pela empresa do meu filho Dan. É uma forma de fazer com que ele também participe dessa campanha.

O compromisso das rodovias é de que isso se torne uma campanha no calendário de cada uma delas, um calendário da área de segurança nas vias. Entendo que tenha sido um passo importante, porque eu senti que eles estão abraçando a causa.

Eu convido as pessoas para participarem desse evento, que a gente espera que seja um evento bonito e possa ser repercutido nos canais sociais e na mídia.”

Acesse aqui o material da campanha: Campanha inspeção veicular em memória do Daniel

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