O número de motociclistas mortos nas estradas e nos perímetros urbanos do Paraná cresceu 4,5 vezes mais do que a frota de motocicletas, entre outubro de 2009 e outubro deste ano. Enquanto as motos passaram de 767.851 para 828.433 no período, aumento de 7,8%, o número desses condutores mortos subiu 35% – 345 perderam a vida e outros 18.089 ficaram feridos entre janeiro e outubro.

Proporcionalmente à frota, morre mais gente sobre duas rodas do que dentro de carros de passeio. A média é de um motoqueiro morto para cada 2.400 motos; já entre os carros o índice não passa de uma morte a cada 3,6 mil veículos.

Até outubro, um total de 36.376 acidentes com vítimas foram registrados nas ruas, avenidas e rodovias do Paraná. O número é 6,9% maior em comparação ao mesmo período do ano passado. Entre­­tanto, apesar do crescimento, os acidentes acompanharam o ritmo da frota, que no mesmo período sofreu um acréscimo de 7,1%. À taxa de uma morte por dia, os motociclistas destoam desse ritmo. As estatísticas do Departa­­mento de Trânsito do Paraná revelam que o motociclista que morre ou se acidenta no trânsito é homem, de 30 a 39 anos, que usa a moto não apenas como um meio de transporte, mas para trabalho.

Sequelas são eternas para quem sobrevive
A churrasqueira cheia de entulhos da residência de Tereza Chalamai dos Santos, de 50 anos, e do marido João Batista dos Santos, em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, é um indicativo das sequelas sofridas por uma família vítima da morte no trânsito.

“São os motofretistas, principalmente os entregadores. Deles é exigido velocidade, rapidez, e isso gera acidentes. Os donos de pizzaria exigem que os motoboys entreguem uma pizza em 15 minutos. Eles não fazem ideia do perigo que os motofretistas e as outras pessoas estão correndo”, afirma o coronel David Antônio Pancotti, diretor-geral do Detran-PR.

Segundo os especialistas, a morte no trânsito não é fatalidade. Quase 90% dos acidentes são gerados pelo ser humano e poderiam ser evitados.

Na opinião do especialista em trânsito José Mario de Andrade, diretor da Perkons, empresa que desenvolve e aplica tecnologia para segurança de tráfego, a maior parte das ocorrências envolvendo motocicletas se deve ao comportamento irresponsável do motociclista. “Se se dirige de forma perigosa com frequência, começa a cometer ações perigosas, como realizar conversões à esquerda onde não se pode e para de se respeitar o limite de velocidade. Quando o respeito acaba, o motociclista tende a se colocar em situações de risco”, afirma. Andrade considera a propaganda para vender motocicletas, focada nas facilidades de mobilidade, e o fato de se trafegar “no corredor” outros fatores responsáveis pelo elevado índice.

Outra explicação para o aumento dos acidentes está no crescimento da frota. De acordo com Pancotti, o número de motos circulando subiu quase 30% nos últimos três anos. “Com as facilidades de aquisição, como financiamentos de até 60 meses, as parcelas de uma motocicleta custam menos do que uma pessoa gastaria com passagens do transporte coletivo em um mês”, explica. Segundo ele, a frota paranaense é a terceira do país. “É inevitável que isso gere um índice maior de brutalidade no trânsito. Quanto mais carros, motos, mais acidentes. É um desafio que nós precisamos vencer.”

Na opinião dele, é preciso que o Ministério das Cidades e o Ministério do Trabalho se integrem para capacitar melhor os motofretistas. “Oferecendo cursos de capacitação para uma mão de obra cada vez mais utilizada nas grandes necessidades. É necessário que o Conselho Nacional de Trânsito altere algumas regras de formação. Muitas vezes um aluno chega aqui, faz uma prova com uma moto de 125 cilindradas e no dia seguinte vai viajar com uma de 1200 cilindradas. Eu defendo um curso para cada tipo de moto.”

A presidente do Instituto Paz no Trânsito, Cristiane Yared, afirma que em razão de sua mobilidade a moto, em muitos casos, não é observada pelo condutor de carros ou ônibus. “Às vezes a freada brusca ou o posicionamento em um ponto cego acaba causando um acidente, muitas vezes sem intenção”, diz. Ela sugere aos motociclistas travarem o capacete para diminuir a violência da batida. “É normal o capacete acabar de um lado e o condutor no outro.”

Para André Caon, presidente da Sociedad Peatonal (ONG curitibana voltada para questões de mobilidade urbana), a motocicleta é uma alternativa ao transporte público caro e de péssima qualidade. “Se tivéssemos um transporte coletivo de qualidade e subsidiado, se tivéssemos metrô, provavelmente não teríamos essa quantidade estrondosa de motociclistas mortos”, diz.