Foram mais de 13 milhões de multas em 2017 na capital. Pouco mais de 700 mil infrações foram para motociclistas
É raro ver um motociclista dar seta antes de mudar de faixa nas vias de São Paulo. E comum, por outro lado, se deparar com uma moto fazendo um retorno em local proibido. “Quando a gente está rápido, precisa ser ágil. Não dá tempo de pensar, dar a seta”, reconhece, em meio a risos constrangidos, o motoboy Paulo André Reimer, de 41 anos, há 22 deslizando entre carros para entregar documentos.
Apenas 2,2 mil multas por deixar de dar a seta ao mudar de faixa foram aplicadas aos motoqueiros da capital em 2017, ou 2,5% do total de infrações do tipo anotadas pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Responsáveis por metade dos acidentes de trânsito com vítimas, os motociclistas receberam em 2017 apenas 5,5% de todas as multas de trânsito aplicadas pela Prefeitura. Foram 744,5 mil das 13,3 milhões de infrações anotadas.
Os dados de multas de trânsito são publicados pela CET na internet e foram compilados para o jornal O Estado de S. Paulo pelo consultor de trânsito Horácio Augusto Figueira. A partir desses números, além de afirmar que há pouca fiscalização, ele aponta que o controle também não foca na redução de acidentes.
“Se você considera apenas as multas manuais, aplicadas pelos agentes, vê ainda que um terço são de infrações ligadas à fluidez ou estacionamento. Só 66% são para infrações ligadas à falta de segurança”, diz o consultor. Entre os carros, o porcentual é ainda menor: 39% das multas são aplicadas para punir infrações relacionadas à falta de segurança.
Só quando a fiscalização é pelos radares é que essa relação é diferente. No caso das motos, 91% das multas são relacionadas à insegurança. Das 555,9 mil multas aplicadas contra motoqueiros por radares, 407 mil foram por excesso de velocidade.
A falta de fiscalização é tida como fator-chave para entender as 797 mortes no trânsito de motoqueiros só em 2017. A proporção – 39% do total de mortes no trânsito – é estável há décadas.
“Temos poucos agentes de trânsito. Acreditamos que a cidade deveria ter ao menos duas vezes mais do que os 1.250 que temos hoje”, afirma o presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Sistema de Fiscalização e Planejamento Viário, Reno Ale.
Mesmo com a evolução tecnológica dos radares, que podem apontar 12 tipos de infração, “é difícil fiscalizar as motos”, opina o engenheiro de trânsito Luiz Célio Bottura, ex-ombudsman da CET.
“Os motoqueiros tampam as placas, que já são pequenas; e alguns aparelhos não leem em duas linhas”, diz. Para ele, “se bolassem novas formas de captar as infrações cometidas pelas motos, as multas aumentariam”.
E não é preciso contar com a percepção do dia a dia para cravar que motoqueiros desrespeitam mais as regras e poderiam ser mais multados.
Em uma rodada anterior entre junho e agosto, o porcentual foi de 63%. Para comparação, entre os carros esse índice chegou a 44% na amostra que mais pegou infrações.
Quem não concorda muito com isso são os motoqueiros. “Já somos fiscalizados demais. Há muito mais blitzes para motos”, diz o presidente do SindimotoSP (Sindicato dos Mensageiros, Motociclistas e Mototaxistas do Estado de São Paulo), Gilberto Almeida dos Santos.
“Não é só mais fiscalização que reduz acidentes. Há uma série de fatores: melhor condição das vias, mais campanhas de educação, melhor formação dos condutores”, aponta. “Tem um monte de motoqueiros que respeitam regras.”
Um deles é o motoboy Elias Barbosa Monteiro, de 33 anos. Condutor de moto há oito anos, e trabalhando como motoboy há 15 dias, ele diz que nunca foi multado. “Procuro manter a atenção”, afirma.
Rigor
A CET rebate o baixo porcentual de multas para motos dizendo, em nota, que “mantém total rigor na fiscalização para coibir abusos de velocidade e a imprudência de motociclistas”. “O que precisa ser analisado é o comportamento do condutor, que é determinante para o cumprimento das regras de trânsito.”
A companhia afirma que o total de multas aplicados aos motociclistas está em ascensão. “Em 2018 (jan-fev) foram 6,70% do total de penalidades ante 5,57% em 2017 e 5,25% em 2016.” A CET ainda cita a compra de radar-pistola para fiscalização específica, a proibição do tráfego na pista central da Marginal do Tietê de madrugada e as blitzes com a PM.
Fonte: www.noticias.r7.com