Rodrigo Kleinübing

Entre as tantas questões polêmicas levantadas nesse governo federal que se inicia, está a de “acabar com a indústria da multa no trânsito”. Em um país onde são ceifadas em torno de 60.000 vidas por ano, segundo dados não oficias que consideram os óbitos ocorridos até 30 dias, recomendado pela OMS e pela ABNT, sendo a maioria jovens e sem falar na legião de incapacitados, temos que ter o cuidado de não reduzir esta discussão ao senso comum.

Sem me referir à multa mal aplicada, por óbvio, fato é que a multa se constitui numa importante ação de curto prazo do chamado Enforcement (esforço legal), o qual juntamente com a engenharia (viária e veicular) e a educação (e não apenas a educação) constituem-se nos pilares da prevenção aos acidentes de trânsito.

Em um país que não consegue nem ao menos implantar a inspeção técnica veicular, constante do CTB desde 1997 e já implantada a muito tempo nos países que realmente se preocupam com mortalidade no trânsito, a ausência de um programa de prevenção de acidentes de trânsito faz com que a multa acabe desempenhando um papel fundamental no tratamento do fator humano, preponderante como causa dos acidentes de trânsito.

Importante se faz salientar que os acidentes de trânsito, além da tragédia social e familiar, representam custos superiores a 50 bilhões de reais por ano, segundo dados do IPEA, o que nos permite concluir que o prejuízo gerado pelos acidentes de trânsito no Brasil tem maior impacto que a tão discutida reforma da previdência social.

E com relação à extinção das lombadas eletrônicas, vale lembrar que as mesmas em muito contribuíram para reduzir as estatísticas de mortes por atropelamento no Brasil, inclusive em frente a escolas e hospitais, porém com redução do número total de vítimas fatais encobertas pelo vertiginoso aumento promovido pelas motocicletas. Na minha opinião, a maneira mais sensata de se “acabar com a indústria da multa no trânsito” seria aplicar no trânsito o máximo de recursos gerados pelas próprias multas. Teríamos, por exemplo, estradas muito melhores.

Eng. Rodrigo Kleinübing

Perito Criminal Especialista em Acidentes de Trânsito

1 COMENTÁRIO

  1. Não sou contra os radares, mas sim sobre as inconsistências de limites de velocidades, exemplo: posto policial rodoviário em Bauru (pista duplicada) 80km/h. Posto policial Presidente Prudente (Raposo Tavares, pista duplicada) 40km/h. Vários trevos de cidades 40 e 60 km/h, sendo que nem tem casas aos redor, enquanto dentro de cidades Bauru e Prudente se anda a 60km em avenidas e 50km em ruas simples.

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