Comerciantes vivenciaram momentos de terror, quando o ônibus em que viajavam para São Paulo foi assaltado na rodovia Marechal Rondon, por volta das 22h30 dessa terça-feira, no município de Guarantã – SP, próximo a Lins – SP. A crueldade dos assaltantes traumatizou a maioria dos 42 passageiros que pretendia ir até a capital paulista fazer compras para abastecer o estoque de suas lojas.

Uma passageira que não quis se identificar descreveu como foi a ação dos bandidos. Segundo ela, um bandido com uniforme laranja e faixas refletivas sinalizou a pista com cones e interceptou o ônibus. Em seguida, dois assaltantes entraram no veículo. “O pessoal estava dormindo e acordou sem saber do que estava acontecendo. E foram surpreendidos com a voz de assalto: mão na cabeça, isso é assalto!”, contou.

Ela relata que o ônibus seguiu até uma estrada vicinal. Os passageiros foram orientados a tirar a roupa (ficar só com as peças íntimas) e colocar todo o dinheiro em uma sacola. As pessoas que só tinham cartão de crédito apanharam. Uma senhora levou uma coronhada na cabeça e sangrou muito. Os bandidos comunicavam-se o tempo todo via rádio. A vítima acredita que havia dois veículos seguindo o ônibus. “Ouvi quando um deles falou: abre a porteira da fazenda”. O ônibus parou em meio a uma plantação de eucalipto. Todos os lojistas desceram. “Os bandidos ameaçavam atear fogo nas vítimas”, contou.

Segundo a lojista, a turma de comerciantes foi trancada dentro do bagageiro do veículo. Apenas uma pessoa ficou do lado de fora. E foi ele quem conseguiu soltar os colegas de viagem. “Foram duas horas de terror. É triste perceber que sua vida não vale nada. Estou traumatizada. Perdi a coragem de viajar de ônibus para fazer compras para minha loja”, frisou.

O prejuízo da lojista foi de R$ 2,5 mil, além de um celular e um tablet. Porém, segundo ela, somando a perda de todos os passageiros, o valor é superior a R$ 70 mil – sem contar os equipamentos eletrônicos.

SEGURANÇA
O proprietário da empresa de ônibus Ivitur de Três Lagoas e vítima do assalto, Vinicius Nitta Conti Ferreira, no ramo desde 2004, disse que essa foi a segunda vez que um ônibus da sua empresa foi assaltado. O primeiro caso aconteceu em 2010. Nessa época, para driblar os bandidos, ele alterou o horário de saída para as 16h. Porém, por reclamação dos clientes, mudou, recentemente, para as 17h30. Mas, agora, vai alterar novamente. Ele acredita que sair mais cedo daqui de Três lagoas é uma das maneiras de evitar assaltos. “Não viajar à noite pelas rodovias paulistas evita os assaltos. Porém, se não resolver o problema, o jeito é parar de fazer esse tipo de viagem”, informou Ferreira. E continuou: “Minha revolta é que pago cerca de R$ 4,5 mil de pedágio por mês, e o retorno é esta falta de segurança. Estas rodovias precisam de mais fiscalização por parte das polícias e também da concessionária que administra a rodovia Marechal Rondon. Além de câmeras de monitoramento”, ressaltou.

ASSALTOS
Esse tipo de problema não é comum nas rodovias sul-mato-grossenses. Segundo dados da Polícia Rodoviária Federal de Mato Grosso do Sul, em 2012, foi registrado somente um assalto a ônibus no estado. O crime aconteceu na BR-267, próximo a Bataguassu. Entretanto, em anos anteriores, ocorreram alguns casos na região nordeste do estado nas rodovias que dão acesso às cidades de Paranaíba, Chapadão do Sul, Camapuã, Ribas do Rio Pardo, Água Clara e Três Lagoas. Mas, essas quadrilhas foram desarticuladas com a prisão de todos os integrantes pela Polícia Rodoviária Federal em operações realizadas em conjunto com o Ministério Público Estadual (Gaeco) e Garras (Polícia Civil). Neste ano, nenhum roubo a ônibus foi registrado.

Segundo o chefe da 8º delegacia da Polícia Rodoviária Federal de Três Lagoas, Luis Carlos Gratão, os ônibus que transportam sacoleiros com destino a São Paulo são os principais alvos dos bandidos. “O motivo é que esse público tem dinheiro, pois está indo às compras”, disse.

De acordo com a assessoria de imprensa da PRF, os bandidos utilizam várias táticas, porém, todas elas com um só desfecho: abordagem sempre em locais ermos e em período noturno. Algumas quadrilhas infiltram integrantes como passageiros do ônibus para facilitar o assalto. Os bandidos, geralmente, após anunciar o assalto, obrigam o motorista a sair da rodovia e entrar em uma estrada vicinal para efetuar o saque às bagagens e roubar os demais passageiros.