Desde que o trecho Norte da BR-101 foi totalmente duplicado, em 2002, um rastro de crescimento se estabeleceu ao longo dos cem primeiros quilômetros, entre Garuva e Piçarras.

Percorrer este trajeto é ter a certeza que a paisagem vai se alternar entre os morros de mata atlântica, praias, terrenos vazios, casas isoladas, vilas inteiras, comércios, construções e empresas de grande porte.

O impacto imediato das obras é o primeiro capítulo da série de reportagens que “A Notícia” inicia nesta segunda. Até quinta serão mostrados os empreendedores à margem da rodovia, os novos investimentos e os desafios que estão chegando.

Com a duplicação, houve um acelerado processo de crescimento das cidades que estão em seu entorno. A economia dos cinco municípios cortados pela rodovia – Garuva, Joinville, Araquari, Barra Velha e Balneário Piçarras – cresceu, em média, 6,2% ao ano, segundo o IBGE, entre 2000 e 2007, os últimos dados disponíveis. Só para comparar, no mesmo período, a economia de SC se expandiu a um ritmo médio de 4,2% ao ano e a brasileira, 2,3%.

A duplicação estimulou mais de R$ 3 bilhões em investimentos feitos desde 2000 e a criação de mais de 80 mil novos empregos. Segundo a professora de economia regional da Univille, Eliane Martins, com a duplicação se encurtaram as distâncias e o tempo de deslocamento entre as cidades vizinhas.

— As relações de negócios ficaram mais fáceis.

Pelo menos um grande empreendimento surgiu, ao longo do período, em cada município próximo à BR-101. A Marcegaglia, fabricando tubos em Garuva; a Mabel, produzindo biscoitos em Araquari; a indústria de vidros Cebrace, em Barra Velha; e a Takata, que fabrica cintos de segurança para exportação em Balneário Piçarras.

Só para instalar estas empresas foram aplicados US$ 200 milhões. E mais investimentos estão a caminho, como a GM, em Joinville, e a Havan, em Barra Velha.

A duplicação foi decisiva para os planos da italiana Marcegaglia de se instalar no Norte do Estado. Ela chegou a Garuva em 1999, quando as obras na BR-101 estavam em andamento. Um ano depois, a empresa foi inaugurada.

— A duplicação contou para a escolha e nos facilitou nas questões logísticas —, explica o diretor industrial Luiz Dalry. A fábrica tem 50 mil m² e desde 2008 está em ampliação.

O diretor comercial da Döhler, Carlos Alexandre Döhler, diz que não dá para imaginar o que seria a região sem ter o trecho Norte da BR-101 duplicado.

— A região não teria atingido este grau de desenvolvimento.

A rodovia é fundamental para a fabricante de artigos de cama, mesa e banho: é por onde passa 92% da produção.

UMA ROTINA MARCADA POR ACIDENTES

Assistir a acidentes que terminavam em mortes era rotina para quem ou trabalhava às margens do trecho Norte da BR-101 antes da duplicação. Caminhões, carros, ônibus ou bicicletas: não importava o meio de transporte, mas as condições precárias da rodovia e uma dose de imprudência resultavam em desfecho desastroso.

A comerciante Ida Gomes, que trabalha há 36 anos no km 28 da 101, no distrito de Pirabeiraba, em Joinville, relembra com tristeza de algumas tragédias.

— Lembro de ter visto quatro acidentes com mortes na rodovia antes da duplicação. Foram pessoas que tentaram cruzar a BR e acabaram atropeladas —, conta.

O dono de restaurante Gilmar Steuernagel ainda guarda na memória o que presenciou vivendo e trabalhando próximo à rodovia.

— Vi muita gente morta. Só na fase de construção, morreram cinco vizinhos atropelados —, conta.

Os acidentes também estão na lembrança do auxiliar de serviços gerais Ilton Gaspareto. Quando o senhor grisalho saiu de Joinville, para morar às margens da rodovia uma das cenas que ele observava do quintal eram carros em alta velocidade trafegando pela rodovia.

— Uma vez, foram duas batidas no mesmo dia. Em uma delas, o motorista do caminhão ficou preso na cabine e ajudei a quebrar o vidro para conseguir retirá-lo. Depois uma caravana estava vindo de São Paulo, bateu e o ônibus pegou fogo —, conta.

Hoje, para ele, a situação da vizinha 101 é mais tranquila.

Os acidentes aumentaram com a duplicação. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, entre 2004 e 2009, o número mais do que dobrou o no trecho entre Garuva e Piçarras.

Grande parte do crescimento está relacionado ao crescimento no fluxo do tráfego, motivado pelo aumento na frota nacional.

A boa notícia é que os acidentes estão menos mortais: em 2004, havia uma vítima fatal a cada 33 acidentes, No ano passado, esta proporção passou para uma morte a cada 39 acidentes.