Muitos motoristas não se enganam mais ao verem os postes com radares inoperantes do km 410 da BR-381, em Roças Novas. De perto fica nítido que um está sem câmeras e que a caixa que protege o outro ainda está tampada com o adesivo do fabricante. “No início, o radar ajudou. Mas muita gente viu que são uma enganação e voltou a correr e a bater nos que ainda acreditam”, afirma o borracheiro que trabalha em frente ao detector de velocidade, José da Fonseca Costa, de 56 anos.

Na reta do km 419, também em Roças Novas, caminhoneiros que param num largo para descanso e reparos descobriram que o cabo que deveria fornecer energia ao radar está enrolado no alto do poste. Por isso, passam por ali sem alterar sua velocidade e precisam frear para não bater na traseira de quem ainda teme uma multa e reduz.

A situação se repete no km 433 e nos dois pontos de radares após a ponte do Rio da Piedade, sentido João Monlevade, em Caeté. Ali, além de os cabos de energia elétrica estarem soltos, os equipamentos não contam com flash.

“Os radares deram uma aliviada boa nos acidentes. Só que as pessoas vão descobrindo que eles não funcionam e a confusão de quem reduz e de quem continua correndo traz de novo esse perigo”, alerta o sargento José Afrânio Alves, da 2ª Companhia do Corpo de Bombeiros de Nova União. De acordo com o militar, que opera resgates na BR-381, os radares diminuíram as mortes por imprudência. “Aqui era duro. Muitas vítimas e batidas graves. Com os radares isso se reduziu muito. Depois do acidente com o ônibus da banda 14 Bis, por exemplo, com um morto, só houve duas batidas graves”, conta.

Apesar de ter seu tempo de viagem ampliado em uma hora, o comerciante Wellington Márcio Miranda Gonçalves aprova os radares. “Eles só não podem ser armadilhas, porque aí não desempenham aquilo que foram comprados para fazer. Hoje, levo cinco horas para chegar a Ipatinga (Vale do Aço), mas com tranquilidade”, afirma. O caminhoneiro Wanderley Aparecido de Paulo, de 39, também aprova a redução de velocidade, mas não dessa forma. “Radar é melhor que quebra-molas. mas tem caminhões aí com mais de 40 toneladas que levam mais de cem metros para parar. Se um carro reduz por causa de um radar de mentira e você vem atrás, pode acontecer uma tragédia”, disse.

Radares funcionando de verdade representam segurança, como pôde ser comprovado pela reportagem durante as 24 horas em que a BR-381 foi percorrida. Apenas um capotamento ocorreu nesse tempo. O Polo dirigido pelo mecânico José Paulo Gonçalves Rosa, de 22, invadiu uma cerca, rodopiou e quase foi parar num buraco de 15 metros de profundidade. “Vinha de Vitória fazer uma surpresa de Dia dos Pais para meu pai e a surpresa para ele foi me envolver num acidente por causa da má sinalização na bifurcação que leva a João Monlevade”, reclama.

SEM DATAS

Procurado para dar explicações sobre os radares inoperantes, o Dnit, que já havia informado que todos os equipamentos estavam em funcionamento no trecho, desde abril, admitiu que “alguns ainda não estão em operação por não terem recebido a ligação elétrica. Eles dependem de extensão de rede da Cemig, o que já está sendo providenciado”. Sem apresentar datas, o departamento afirma que “os trabalhos de implantação desses dispositivos de controle de velocidade estão adiantados em relação ao cronograma previsto no contrato”.

A imprudência, por outro lado, prossegue. Ansiosos para chegar aos destinos com o feriado prolongado em BH, muitos carros ultrapassavam em faixas contínuas, sobre pontes e em curvas fechadas. “A irresponsabilidade é o pior. E nem sempre é o imprudente quem paga com a vida”, diz o caminhoneiro Robson Rogério Nunes, de 38, que penava para transferir a carga de óleo de máquina de sua carreta de seis eixos para uma de quatro, limite aceito para a travessia da ponte no Rio das Velhas, em Sabará.

Armadilha oficial

Sem funcionar, parte dos radares da BR-381 se tornou armadilha para os motoristas. Fica que a confusão entre os motoristas que sabem que os equipamentos estão desativados e aceleram nos trechos onde eles estão instalados e os que reduzem a velocidade pode causar acidentes graves, justo quando as batidas e atropelamentos vinham diminuindo. Enquanto isso, o Dnit insistia que todos os aparelhos estavam em funcionamento, colaborando para a indignação de quem percebia que estava sendo enganado e acelerava. É como se nstalar aparelhos falsos apenas para iludir os motoristas e gastar menos. Apesar da redução no número de acidentes, os radares são uma solução precária, sem a duplicação da via. A previsão é de que o edital para o projeto executivo saia neste mês.