De acordo com a deputada federal, Brasil tem uma cultura de desrespeito às regras de trânsito, e algo precisa ser feito
A deputada federal Christiane Yared (PL-PR) transformou a dor de perder o filho, Gilmar Rafael Souza Yared, de 26 anos, em um acidente de trânsito em força para lutar por um trânsito mais seguro. A parlamentar defende pautas relacionadas à segurança e educação no trânsito e, no último dia 5 de fevereiro, apresentou o Projeto de Lei 130/2020, que dispõe sobre punições para pessoas que cometam infrações e divulguem nas redes sociais ou outros meios digitais, eletrônicos ou impressos.
Entre as punições previstas no projeto está a de quem praticar infrações de circulação de natureza gravíssima e publicá-las nas redes sociais terá por 12 meses a cassação do documento de habilitação. No caso de reincidência no prazo de dois anos, será cassado o direito de dirigir.
No texto do projeto, quando se justifica o motivo da criação da Lei, o documento ressalta que, anualmente, cerca de 40 mil pessoas morrem em decorrência de acidente de trânsito. Nos últimos 10 anos, quase 400 mil pessoas morreram, o que equivale a população inteira de Macapá. “Infelizmente, nosso país é um dos maiores assassinos no trânsito,sem que tenha tomado as medidas necessárias para amenizar esse estigma. Associado a isso, temos uma cultura de desrespeito às regras de trânsito, como se essa conduta fosse algo banal e até mesmo elogiável. Algo precisa ser feito”, diz parte do projeto.
Com outras propostas dentro do tema “trânsito” tramitando na Câmara, a expectativa de Yared é deixar um legado de conscientização e mudança de cultura nas ruas e estradas do país. Confira abaixo a entrevista.
1. A Sra. acabou de apresentar o Projeto de Lei 130/2020, que dispõe sobre aplicação de penas e suspensão da CNH para quem praticar e divulgar imagens das infrações de trânsito. Você acredita que iniciativas como essa são determinantes para uma mudança de cultura no trânsito brasileiro?
Com toda certeza! Costumo dizer que o país que não pune, não educa. Infelizmente, vivemos nesta realidade, em que só conseguimos mudar a cultura do trânsito com leis severas, punição. Tudo seria mais fácil se tivéssemos uma consciência maior dos riscos e deveres no trânsito. O que acontece é que tais postagens diminuem essa profundidade dos riscos. Quem assiste, acha normal tal conduta e acredita que, assim como nas imagens, sairá ileso se fizer o mesmo. E sabemos que não é bem assim.
2. Os números de 2019 e pagamento de indenizações do Seguro DPVAT mostram que a faixa etária mais atingida pelos acidentes de trânsito continua sendo a de 18 a 34 anos. Como você acredita que o Poder Legislativo pode ajudar a mudar esse cenário?
Com a aprovação de leis mais severas como, por exemplo, a do uso do celular ao volante, de minha autoria, já que esse mal atinge, principalmente, essa faixa etária. Contudo, precisamos deixar de ser apenas reativos e nos antecipar. Por isso, tramita na Casa um outro projeto de lei de minha autoria que dispõe sobre a educação do trânsito nas escolas. Se educarmos as crianças, não teremos tantas mortes de jovens adultos. A consciência precisa vir desde pequeno, devemos construir essa nova cultura desde a base.
3. A tragédia pessoal pela qual você passou te inspirou a iniciar um projeto transformador. Quais são as principais conquistas da ONG “Instituto Paz no Trânsito”?
Não há um único dia que não pense no meu Gilmar Rafael. Porém, com muita dor, transformei meu luto em luta. Não podia ver mais filhos serem tirados das suas mães, isso não é natural. Por isso, decidi criar o Instituto Paz no Trânsito ao lado do meu marido. Infelizmente, nossa ONG está parada devido meu trabalho na Câmara dos Deputados, já que não é permitido manter as atividades enquanto for deputada. Entretanto, há cinco anos tenho a honra de representar a população e estar numa posição onde posso criar leis, mudar essa realidade de guerra tão triste que vemos nas vias do nosso país. Até o momento, já são três Projetos de Lei aprovados e quase 40 proposições em tramitação na Casa.
Fonte: Seguradora Líder