DESINTERESSE: A jovem Carolina Cheres, de 27 anos, professora, mora na Grande SP e não tem habilitação. Ela prefere se locomover por aplicativos, taxi, ônibus e metrô. Foto: Divulgação/Detran-SP

Levantamento do Departamento de Trânsito do Estado de São Paulo (Detran-SP) aponta queda de 10,5% nos últimos seis anos

Foi o tempo em que o maior sonho dos jovens ao atingirem a maioridade era o de “tirar a carta”. Esse desejo está sendo deixado de lado nos últimos anos, como mostra um levantamento do Departamento de Trânsito do Estado de São Paulo (Detran-SP), realizado recentemente com esse público na faixa de 18 a 30 anos.

De acordo om o estudo, houve uma redução de 4.872 milhões de pessoas habilitadas nessa faixa etária em 2015 para 4.356 milhões no mesmo período deste ano no Estado, o que representa queda de 10,5%.

“Fatores culturais e econômicos influenciam o perfil dos motoristas com o passar dos anos. Hoje temos uma geração que se preocupa mais com a questão ambiental e a facilidade oferecida pelos aplicativos de transporte. Os jovens hoje têm outras expectativas. Essa discussão sobre mudanças dos modais é mundial”, ressalta Neto Mascellani, diretor-presidente do Detran-SP.

De acordo com especialistas, fatores culturais, econômicos e sociais explicariam esse declínio do interesse dos jovens por possuírem sua habilitação e a optarem muitas vezes pelo uso de aplicativos, do transporte coletivo, ou mesmo de outros veículos, como a bicicleta.

José Montal, diretor da Associação Brasileira de Medicina do Trabalho (Abramet), afirma que alterações culturais e comportamentais tiraram do automóvel o apelo que o tornou objeto do desejo de várias gerações de jovens que chegavam na idade em que podiam se habilitar como motorista. Segundo ele, o conceito que os jovens tem hoje do transporte leva mais em conta a questão da mobilidade, muitas vezes privilegiando outros modais mais saudáveis, como a bicicleta e mesmo o pedestrianismo.

Para Márcia Menezes, diretora-executiva da Federação Nacional das Cooperativas de Trabalho dos Médicos e Psicólogos Peritos de Trânsito (Fenactran), vários fatores explicam o interesse decrescente dos jovens em se habilitar, entre eles se destaca o preço do carro e os custos para sua manutenção. “Muitos optam por aplicativos de uso temporário. Mudou também a representação social sobre veículos, vistos como essenciais pelos mais velhos, acostumados a enxergar no carro um símbolo de independência, conquistas e poder”, explica Márcia.

A professora Carolina Cheres, de 27 anos, mora na Grande São Paulo e não é habilitada. Ela prefere se locomover por aplicativos, taxi, ônibus e metrô. “Não me preocupo com IPVA, gasolina, multas, pedágios, problemas mecânicos, estacionamento ou brigas de trânsito. Sem falar que ainda contribuo com a redução de gases poluentes”, esclarece ela.

AJUDA DO PAI: Quando precisa sair, o universitário Milton Souza, de 21 anos, recorre ao pai para levá-lo. 

Milton Souza, universitário de 21 anos, afirma não ter interesse no momento em tirar CNH ou necessidade de aprender a dirigir. “Com a pandemia saio muito pouco de casa, então não ter uma CNH interfere quase nada na minha rotina. Quando preciso ir a algum lugar peço para meu pai me levar ou utilizo um aplicativo”, afirma.

Com informações da assessoria de imprensa do Detran-SP