Deputado federal e médico, Osmar Terra enfrentou epidemias e contesta quarentena -Foto : Wilson Dias/Ag. Brasil

O Deputado Federal Osmar Terra é médico e foi Secretário de Saúde do Rio Grande do Sul, onde foram registrados os primeiros casos da gripe do H1-N1 quando estava no comando da Saúde no estado. Viveu na prática as pressões para fechar escolas, comércio e tomar outras medidas extremas. Também atuou na epidemia do Zika Vírus que causava microcefalia. Tem trabalhos publicados sobre epidemia, com opiniões fortes, mas fundamentadas cientificamente. Além de baseadas na rara experiência de enfrentar na linha de frente uma epidemia, Osmar Terra é contra a quarentena para toda população. “Não adianta nada”, afirma o deputado.

Há vários anos, Osmar Terra é conhecido como defensor dos caminhoneiros e destaca a importância desses profissionais para manter o país funcionando. Na sua atuação profissional e parlamentar, assim como na condição de ex-Ministro da Cidadania, do atual governo Bolsonaro, Terra foi sempre atuante no combate às drogas. Ele alerta que os usuários de drogas fazem parte do grupo de risco, independente da idade e a mídia não está dando atenção a isso.

Osmar Terra é contundente nas suas convicções e esclarece que seu ponto de vista não é político: “Eu falo como médico e só me baseio em evidências científicas.”

Independente da opinião de cada um sobre o tema e este momento que o mundo atravessa, a voz de Osmar Terra precisa ser ouvida. Como ele mesmo observa, falta espaço para o debate científico e o contraditório na maioria dos grandes veículos de comunicação. O nosso portal tenta contribuir abrindo esse espaço. Leia e mande sua opinião.

Estradas.com.br: O senhor sempre esteve ao lado dos caminhoneiros, inclusive fazendo uma ponte quando ocorreram as paralisações da categoria no passado. Como avalia a situação desses profissionais que precisam trabalhar inclusive para manter o país funcionando?

Osmar Terra: Caso os caminhoneiros parem de trabalhar agora, acabou o país. Eu publiquei no twitter uma manifestação há pouco sobre o heroísmo dos caminhoneiros e dos nossos profissionais de saúde. Apesar de toda paranoia que parte da imprensa está criando, o que acho um absurdo, os caminhoneiros estão trabalhando para não faltar o essencial para a família brasileira.

Estradas.com.br: Qual sua posição sobre a quarentena?

Osmar Terra:  Eu sou totalmente contra a quarentena, não adianta nada. Eu posso falar isso porque, como Secretário de Saúde do Governo do Rio Grande do Sul, enfrentei três epidemias e são pouquíssimos no Brasil com essa experiência. Não estou falando apenas como médico, muito menos acadêmico, mas como quem enfrentou epidemias graves.

É um absurdo como a televisão, a Rede Globo, está tratando o tema. Não deixam aparecer nenhum debate científico, não existe contraditório, nada. Só colocam para falar quem assusta mais a população. Alguns políticos querem se aproveitar do momento. Tomam decisões erradas, querendo fechar tudo, proibir tudo, em função da pressão da população que está assustada e quer medidas urgentes.

Não existe a menor possibilidade de a quarentena alterar o curso da epidemia. Principalmente quando o vírus já está circulando até na casa das pessoas. Além do mais, é um desastre para a economia. A China não está fazendo isso e caso continue o isolamento nos EUA, no final do ano o PIB da China vai superar o americano. O Brasil não pode parar.

Eu falo como médico e só me baseio em evidências científicas. Insisto, eu enfrentei epidemias. Quem tem a experiência de estar no front decidindo se fecha ou não fecha as escolas, o comércio, aumentar a capacidade das UTIs como eu tive com a H1N1? A epidemia é uma força da natureza e o vírus só se altera quando contamina mais de 50%, 60% da população. E 99% das pessoas com vírus não vão ter sintoma nenhum. Aí você forma uma parede de pessoas com anticorpos que não deixam contaminar quem não tem anticorpos nenhum. Como termina uma epidemia que não tem remédio, não tem vacina e de repente ela acaba? É pelo contágio geral.

As pessoas com menos de 50 anos, que não tenham nenhuma doença crônica, diabetes, hipertensão, ou seja, que afete sua imunidade, correm mais risco de serem atropeladas na rua que morrer de Covid-19. Elas devem trabalhar e naturalmente tomar todos os cuidados que estão sendo divulgados pelas autoridades de saúde. Acredito que atualmente cerca de ¼ da população já está contaminada e 99% não vão sequer perceber que tiveram a doença. Não vão ter nem dor de cabeça.

Estradas.com.br: Além da H1N1, o senhor também enfrentou a epidemia da Zica Vírus que afetava brutalmente mulheres grávidas. Como foi essa experiência?

Osma Terra: Fui gestor e atuei no combate a epidemias como presidente da Frente Parlamentar da Saúde. O Ministro Mandetta era meu vice, quando explodiu a epidemia do Zika Vírus. Nasciam muitas crianças com encefalia, uma situação catastrófica. Eu e Mandetta fomos ao Nordeste e acompanhamos a epidemia do Zika Vírus. Na época, tínhamos cerca de 2.000 casos e fizemos uma projeção de que em seis meses teríamos 20 mil. Cheguei a escrever um artigo sobre isso. Pouco mais de uma semana depois de ter publicado, a epidemia acabou. Fomos tentar entender o que aconteceu e descobrimos que todas as mulheres do grupo de risco que foram contaminadas geraram anticorpos. Praticamente, não surgiu mais nenhum caso de lá para cá.

Estradas.com.br: O caso da Itália tem sido usado todos os dias pela grande imprensa. Qual sua avaliação disso?

Osmar Terra: Quando optaram pela quarentena na Itália, as pessoas já estavam contaminadas e não sabiam, e explodiu o número de casos. O vírus circula dois meses antes de aparecer o primeiro caso confirmado. Foi assim na China e na Itália. Já o caso italiano não vai acontecer outro igual no mundo. São três fatores que explicam a situação do norte da Itália. Em primeiro lugar, o comércio intenso com a China. Os chineses compraram muitos negócios na região da Lombardia, inclusive grandes grifes italianas. Têm muitos operários chineses trabalhando na região norte da Itália para as empresas da China. Além disso, muitos italianos viajam á negócios para a China. Esses operários chineses foram para a China no final do ano e depois voltaram contaminados. Além do mais, a Lombardia é uma região muito fria com o maior contingente de pessoas acima de 80 anos proporcionalmente à população.

Estradas.com.br: O senhor falou na falta do contraditório, ou seja, dos grandes veículos de comunicação não darem espaço para opiniões diferentes. Aconteceu a mesma coisa quando o Ministério da Saúde do governo Dilma se manifestava contra o exame toxicológico para motoristas das categorias C, D e E. Eram contra sem conhecer o assunto. Os usuários de drogas fazem parte do grupo de risco?

Osmar Terra: Os que eram contra o exame toxicológico faziam parte da turma dos que defendem a liberação das drogas. Evidente que os usuários de drogas, independente da faixa etária, fazem parte do grupo de risco.  A maconha causa mais doenças pulmonares que o tabaco. O pulmão do usuário da droga é mais vulnerável. Além disso, se alimentam mal, tem comportamento de risco. Veja a cracolândia em São Paulo, as pessoas têm mais casos de Aids, tuberculose e outras doenças. É um grupo de alto risco assim como os idosos.

Estradas.com.br: Quando o país voltará à normalidade?

Osmar Terra: Essas epidemias têm uma curva, elas crescem e de repente começam a cair, parece um sino. Ela termina pelo efeito rebanho, quando pelo menos 50% da população está contaminada sem sintoma nenhum, cria-se uma espécie de barreira de anticorpos, de imunidade, e o vírus não consegue mais progredir com a velocidade inicial, e começa a declinar. Isso é uma curva de 12 semanas com o pico na sexta semana. Estimo que a epidemia termine no final de maio início de junho.

Estradas.com.br: Os caminhoneiros, funcionários de postos de rodovia, pedágio, que precisam trabalhar, ficaram temerosos de pegar o coronavírus. O que o senhor recomenda para essas pessoas?

Osmar Terra: Todos os brasileiros devem tomar os cuidados básicos. Manter distância de 2 metros das outras pessoas porque o vírus vem pelas gotículas da saliva e não alcança mais de 1,5m. Lavar várias vezes as mãos. O sabão é melhor que álcool em gel, mas é bom ter porque não dá para lavar a mão em todo lugar. Os restaurantes em geral, mas os de estradas em particular, devem higienizar as mesas depois que os clientes saírem. As recomendações são àquelas que todos já conhecem. Mas os que têm até 50 anos e não apresentam doença pré-existente podem ficar tranquilos.

No inverno do Rio Grande do Sul costumam morrer 1.200 idosos de gripe. Inclusive no Sul, tem uma expressão que diz que o velho que passar de agosto vive mais um ano. Eu garanto que vão morrer mais idosos no inverno deste ano no Rio Grande do Sul do que de coronavírus em todo país.

1 COMENTÁRIO

  1. Pra ele ter este embasamento todo certamente ele é imunologista e esta lendo todas as publicações no mundo sobre o Covid-19. Sabemos que é algo diferente de tudo o que vimos anteriormente. Ele não sabe que estamos com poucas unidades de UTI’s e se muitas pessoas ficarem doentes entramos no colapso??? Não é só uma questão de economia… É uma questão de humanidade e empatia.

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