Cuidado redobrado e manutenção do veículo em dia para transitar pelas rodovias mineiras. Ou seja, a responsabilidade inteira recaindo sobre os ombros do motorista em mais uma temporada de grande movimento nas estradas que cortam o estado.

A recomendação de especialistas para estar com o automóvel nos trinques e manter o alerta nas vias é para todos que pretendem sair de Belo Horizonte para as festas de Natal, réveillon e as férias, e precisam vencer obstáculos em rodovias repletas de buracos, pista simples e sinalização precária e escondida pela vegetação. Os problemas, retratados recentemente pelo Estado de Minas em ruas da capital, são comuns também nas saídas da cidade para as BRs, sendo mais evidentes para quem usa a BR-040, no sentido Belo Horizonte/Rio de Janeiro, onde o condutor vai encontrar pelo caminho uma colcha de retalhos.

Nem mesmo a operação tapa-buraco feita recentemente pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) foi suficiente para afastar os perigos em uma estrada que tem fluxo intenso de veículos de carga, traçado sinuoso, faixas de trânsito em mau estado de conservação e placas sujas.

Mesmo com os remendos, quem passa pela BR já se depara com o cenário de buracos reabertos pelas chuvas das últimas semanas. Além de atenção, será preciso paciência, pois soluções adotadas pelo escritório regional do Dnit em Minas para a rodovia são apenas paliativas. Mesmo com o triste título de traiçoeira e ostentando números trágicos de mortes, medidas definitivas para os problemas da BR-040 ainda estão engavetadas no Dnit, em Brasília, sem data para implantação.

Em outros trechos problemáticos, como a BR-381, sentido BH/João Monlevade, buracos são percebidos, mas não são capazes de superar outros obstáculos mais perigosos como as 200 curvas em um percurso de 100 quilômetros de pista simples. No sentido contrário da 381, saída para Betim, a Polícia Rodoviária Federal diz que a via está em boa condição.

Anteontem, uma equipe do Estado de Minas foi conferir as condições da BR-040, considerada mais problemática quanto ao quesito buraco e ouviu muitas reclamações de motoristas sobre a via onde 136 pessoas perderam a vida somente entre janeiro e agosto. “É uma rodovia tensa. Passar por aqui exige que a gente fique muito atento porque há muitos buracos.

Atualmente, eles são pequenos porque os maiores estão tampados, mas se não tivermos cuidado podemos desviar e perder o controle da direção”, reclamou o pastor Rafael Elian Brasileiro, de 25 anos, que viaja frequentemente pela 040 e no sábado seguia da capital para o Rio. O condutor ressaltou a intensidade do tráfego de caminhões no trecho mais próximo a BH. “São muitas carretas de minério, com motoristas que cometem imprudências, fazem ultrapassagens arriscadas. Isso tudo, somado ao mau estado de conservação das faixas de sinalização no asfalto, deixa o motorista sempre em estado de alerta e aumenta o risco de acidentes”, disse.

Para quem trafega diariamente pela estrada, como o carreteiro Warley Lima Prates, de 30, o problema está na falta de investimento dos órgãos públicos com a rodovia. “Falam sempre que a culpa da BR-040 em ter tanto buraco é dos caminhoneiros, mas eles não investem como deveriam. Próximo a Congonhas, tem lugar que foi recapeado anteontem e os buracos já estão abertos. É desperdício de dinheiro.” Para ele, o imbróglio não está no tipo de fluxo que a rodovia tem, mas na qualidade da pavimentação usada.

O colega de estrada Carlos Augusto Rodrigues, de 40, conta que a precariedade da 040 coloca a vida de quem passa por ali em risco constante. “Nesses últimos dias em que a chuva apertou e com a proximidade das férias, o risco de acidente é muito grande”, disse.

Qualidade do asfalto criticada

Para o doutor em planejamento de transportes e professor da Fundação Dom Cabral Paulo Resende, o motorista só encontrará segurança na BR-040 quando um projeto de reformulação da rodovia for executado. Entre as medidas, ele lista como urgente a duplicação de todo o trecho, além de completa troca do pavimento.

“Fazer tapa-buraco para o trecho da 040 entre Belo Horizonte e Conselheiro Lafaiete, onde o tráfego de carretas de minério é muito grande, não resolve nada. A rodovia não está preparada para receber esses veículos que geram um impacto muito grande no asfalto, especificamente pelo peso, mas também pelo tipo de estrutura”, afirma.

Segundo ele, em períodos de chuva prolongados, como o que estamos passando, o problema é agravado e o remendo não dura metade do tempo que resistiria sem a água. “A 040 tem bueiros muito tímidos, metade do que realmente seria necessário. Com isso, o solo fica encharcado e o asfalto estoura todo de novo”, acrescenta Resende. Outra falha, segundo o especialista, é a cobertura asfáltica da estrada, cujas base e sub-base (o que está por baixo do asfalto) são muito fracas. “Para suportar o peso dos caminhões que passam por ali, a BR-040 deveria ter piso de concreto, como o da Linha Verde, na Grande BH”, cita.

Diante da falta de sinalização do Dnit em adotar medidas que realmente garantam segurança para o motorista na rodovia, o professor vai além: “Acredito que está passando da hora de este trecho rodoviário de Minas ser concedido à administração da iniciativa privada, já que a privatização garante investimentos permanentes e o poder público, não”, afirma.

Contrato permanente

De acordo com o órgão federal, há dois anos é mantido contrato para operações permanentes de manutenção na 040, o que inclui serviços de tapa-buraco, limpeza de dispositivos de drenagem (bueiros e sarjetas), capina e roçada. Um projeto de restauração da rodovia já foi elaborado, segundo o órgão, para o trecho entre o trevo de Ouro Preto e Ressaquinha, o que corresponde a cerca de 120 quilômetros.

A obra, que custaria R$ 360 milhões, inclui restauração e duplicação das travessias urbanas em Congonhas e Lafaiete, cada uma com oito quilômetros, e a implantação de trevos de acesso às cidades de Moeda e São João del-Rei. Mas tudo isso, segundo a própria regional do órgão em Minas, “depende de vontade política”. Enquanto isso, regionalmente, só há condição de fazer aquilo o que é paliativo, como a conservação da rodovia, porque regionalmente tem-se muito pouco poder”, informou a assessoria do Dnit.