Carreta da FedEx flagrada com motorista portando drogas é autuada menos de 72 h depois
DE NOVO! Carreta da FedEx flagrada com motorista portando drogas é autuada menos de 72 h depois. Foto: Divulgação/PRF-TO

Na sexta-feira (8), por volta das 20h30, a PRF de Tocantins flagrou no km 666 da BR-153 um motorista, a serviço da FedEx, dirigindo em excesso de jornada e com drogas a bordo; ele admitiu que era para uso próprio.

Na ocasião, foi autuado por dirigir mais de 1.500 km sem o descanso obrigatório e por “Conduzir o veículo sem equipamento obrigatório”. Surpreendentemente, menos de 72 horas depois, mais precisamente às 8h40 da segunda-feira (11), o mesmo veículo foi autuado novamente no km 666 da rodovia por “Desobedecer às ordens emanadas da autoridade competente de trânsito ou de seus agentes”.

No sábado (8), o Estradas.com.br procurou a FedEx para esclarecimentos sobre o primeiro caso, principalmente porque envolvia o uso de drogas. Ao mesmo tempo, foi procurada a Rodobinho Transportes, que presta serviço para a FedEx. Até esta tarde de quarta-feira (13), a Rodobinho não prestou nenhum esclarecimento.

Já a FedEx enviou nota oficial sobre o caso:

Estamos cientes deste incidente envolvendo um motorista contratado por um dos nossos prestadores de serviços terceirizados. Exigimos que os membros de nossa equipe e contratados independentes cumpram os mais altos padrões de segurança e conduta profissional, o que inclui o cumprimento de todas as leis aplicáveis. Estamos trabalhando diretamente com o fornecedor do serviço para resolver esse problema com seu motorista e tomar as medidas apropriadas para que não ocorra novamente.”

A autuação pela PRF, na segunda-feira (11), do mesmo veículo – embora não seja possível afirmar se é o mesmo condutor – revela que os “altos padrões de segurança e conduta profissional…”, mencionados pela FedEx na nota oficial, não parecem ser tão altos. O Estradas levou o caso ao conhecimento do procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT), dr. Paulo Douglas Almeida de Moraes, que tem atuado no combate à exploração de motoristas profissionais.

Ele lembrou que o MPT, junto com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), estão empenhados em fiscalizar as condições de trabalho, o excesso de jornada, fruto, em muitas ocasiões, da exploração dos embarcadores e das empresas, fato que muitas vezes induz ao uso de drogas para suportar longas jornadas sem descansar. “São situações como essa que caracterizam bem o tipo de contexto em que poderíamos ter um acidente trágico, devido ao excesso de jornada de um condutor usando drogas.”

Moraes recorda ainda que o STF decidiu pela inconstitucionalidade das jornadas excessivas, previstas na Lei 13.103/15, e enfatizou que o MPT, PRF e Ministério do Trabalho estão empenhados em fiscalizar o cumprimento dessa decisão do Supremo.

Já Bolivar Lopes Brambila, assessor da presidência da Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam), esclareceu que a entidade acompanhava o caso e esperava a manifestação da FedEx sobre o caso. “Para nossa surpresa, foi um posicionamento muito superficial, que falou, falou, mas não esclareceu nada.”

Ele afirma que é um absurdo um motorista dirigir por mais de 24 horas e 1.500 km sem descanso. Ele enalteceu ainda a PRF que pode ter evitado uma tragédia. “É preciso rever os procedimentos imediatamente, inclusive com relação à transportadora que atende a FedEx. Essa situação é inaceitável, e vamos cobrar providências e os devidos esclarecimentos sobre o que foi feito para sanar este problema,” enfatizou Brambila.  Ele lembrou ainda que têm ocorrido muitos acidentes (sinistros) por excesso de jornada, que leva muitas vezes ao uso de drogas.

Importante esclarecer que a manifestação do Procurador do MPT e representante dos caminhoneiros ocorreu antes de apurarmos que o mesmo veículo foi autuado menos de 72 horas depois, na mesma rodovia e posto da PRF.

Já para Fernando Diniz, presidente da TrânsitoAmigo, entidade de vítimas, também fez questão de valorizar o trabalho do policial rodoviário federal, que pode ter evitado mais uma tragédia. “Agora, é inaceitável que uma multinacional, que deveria se pautar por normas de segurança rigorosas, divulgue uma nota tão genérica sobre um caso tão grave.”

Ava Gambel, do Movimento Não Foi Acidente, que também representa vítimas de trânsito, acrescentou: “O dia em que nossas autoridades reconhecerem que as empresas, juntamente com os motoristas, têm responsabilidade nas infrações e mortes nas estradas, não vamos mais ler notas como essa da FedEx, que se isenta das responsabilidades.”

No site oficial, a Rodobinho Transportes afirma que a frota é nova, o que garante o transporte com mais segurança: “Nossos veículos são do tipo baú e 100% da frota é rastreada por satélite e localizadores WRSAT. Além disso, nossa frota tem idade inferior a 2 anos, cumprindo sempre o programa de manutenção preventiva, garantindo dessa forma ótimas condições operacionais dos veículos.

Indício de que a empresa estava absolutamente ciente do excesso de jornada do seu motorista. Da mesma forma, é importante lembrar que a FedEx também consegue rastrear onde estão suas encomendas e, portanto, eventuais abusos de jornada e velocidade.

Colisão grave envolveu duas carretas FedEx e um ônibus no Dia dos Mortos

No dia 2 de novembro de 2023, segundo informações obtidas na ocasião com a PRF, por volta das 3h40, no km 135 da BR-153, entre Mara Rosa e Estrela do Norte, no estado de Goiás, uma carreta da FedEx com semirreboque, transportando eletrônicos, tombou.

Carreta da FedEx flagrada com motorista portando drogas é autuada menos de 72 h depois
NOVEMBRO: Em 2 de novembro de 2023, duas carretas da FedEx se envolverem em acidente na BR-153 com um ônibus da Montes Belos. Foto: Reprodução/Redes Sociais

A segunda carreta, também da FedEx, que seguia no sentido contrário, e o ônibus da Montes Belos acabaram colidindo contra a carga tombada na rodovia. O ônibus da Montes Belos saiu do Tocantins com 34 passageiros e seguia viagem para Goiânia (GO). A empresa precisou providenciar outro veículo.

Os passageiros feridos foram encaminhados para os hospitais da região, e o motorista da primeira carreta da FedEx, que tombou, ficou em estado grave. O Estradas.com.br já solicitou mais detalhes da PRF sobre o caso.

Seminário Transporte Rodoviário Socialmente Responsável

Ainda durante o período com restrições da pandemia, o SOS Estradas organizou em Brasília (DF), na sede da Procuradoria Geral do Trabalho, o evento Transporte Rodoviário Socialmente Responsável. O objetivo era discutir o que fazer para reduzir as tragédias com veículos pesados nas rodovias e combater a exploração dos motoristas profissionais.

Rodolfo Rizzotto, coordenador do SOSEstradas, lembra que um dos aspectos destacados foi exatamente a responsabilidade dos donos da carga. “A exploração dos caminhoneiros começa no dono da carga que, por ação ou omissão, permite que motoristas trabalhem sem o devido descanso, dirijam em excesso de velocidade e até fechem os olhos para o uso de drogas. Infelizmente, nos surpreende que empresas como a FedEx, na sua nota oficial, tratem um episódio tão grave de forma absolutamente superficial. Completamente diferente, por exemplo, do que assistimos na apresentação da Raízen no evento.”

Para Rizzotto, o caso merece atenção especial do Ministério Público do Trabalho, dos auditores fiscais do Ministério do Trabalho e das autoridades de trânsito. “Quando ocorrem as tragédias, jogam toda a responsabilidade no motorista. O dono da carga e a transportadora contratada não são, na maioria dos casos, sequer ouvidos. Precisamos de um trabalho de prevenção e não apenas após as mortes ocorrerem.”

A autuação registrada no dia 11 de março, dois dias depois da abordagem da PRF, revela que não houve mudança, ao menos não há indício, no comportamento da FedEx ou da transportadora que a atende.