ALERTA: Montadoras nem sempre transportam caminhões novos no Brasil com o mesmo padrão que realizam na Europa. O risco de acidentes tem aumentado. Foto: Divulgação; Arquivo pessoal

Há alguns dias, o Estradas.com.br recebeu vídeo de um caminhoneiro sobre o transporte improvisado de um caminhão novo, que, claramente, colocava vidas em risco. No vídeo, é possível ver que as críticas de quem filmava eram procedentes. Mas o pior é que esse tipo de transporte ocorre com frequência nas rodovias brasileiras.

Pelo que o Estradas.com.br apurou, para todo veículo de carga com excesso é necessário portar AET (Autorização Especial de Trânsito). Além de cumprir várias normas quanto ao tamanho , altura , sinalização, pára-choque.

Nas imagens do vídeo, é possível perceber que existe excesso de comprimento, falta de parac-hoque e sinalização. Além disso, todo veículo de carga com excesso deve ter placa zebrada na traseira dizendo qual medida.

O para-choque tem que ser homologado pelo Inmetro e, no caso flagrado pelo caminhoneiro, sequer podemos chamar de para-choque. Sem contar o risco do chamado efeito guilhotina, o qual ocorre quando um carro entra embaixo da traseira nessas condições.

Cabe acrescentar que, no caso do transporte de veículos, a legislação exige que todas as rodas do veículo transportado devem estar devidamente amarradas com cintas específicas na plataforma de carga. O que também não foi feito, como é possível identificar no vídeo de denúncia do caminhoneiro.

Apesar de tudo isso, existem algumas contradições nas normas vigentes que podem fazer com que os agentes de trânsito tenham interpretações diferentes para esse tipo de transporte que é conhecido no setor como remonta.

Consultamos a Polícia Rodoviária Federal que não entrou em detalhes sobre possíveis interpretações diferentes, apenas respondeu sobre a legislação pertinente.
“O posicionamento da PRF tem sempre como base a legislação vigente. O vídeo em questão trata de uma situação chamada de remonta (transporte de veículo automotor novo por outro similar). Essa situação é prevista na resolução do CONTRAN 911, em seu capítulo 5. “

Ao analisar a Resolução 911/22 do CONTRAN, observamos que o Capítulo 5, no seu Artigo 8 e parágrafos estabelece várias condições especiais:
§ 3º O serviço de montagem (veículo transportado sobre o veículo transportador) deverá ser executado de acordo com as recomendações técnicas dos fabricantes dos veículos em obediência ao projeto de um engenheiro mecânico que se responsabilizará, junto com a empresa transportadora, pelas condições de estabilidade e de segurança operacional do conjunto.
§ 4º O veículo transportador deverá possuir todos os equipamentos obrigatórios estabelecidos no Anexo II, inclusive para-choque traseiro projetado especialmente para este tipo de conjunto, instalado no chassi do veículo transportado e ancorado no chassi do veículo transportador, obedecendo o que dispõe a Resolução do CONTRAN referente a para-choques.

PERITO DIZ QUE ESSA PRÁTICA PRECISA SER ABOLIDA

Para Rodrigo Kleinubing, perito especializado em sinistros de trânsito, principalmente envolvendo veículos pesados, essa prática precisa ser abolida. Porque no mundo real das rodovias ela existe e parece ser tolerada inexplicavelmente, beneficiando montadoras e concessionários de caminhões novos.

“O veículo não foi projetado para isso. Neste vídeo fica evidente que a segurança ativa é precária. Fica evidente a falta estabilidade e risco de tombamento. Com relação a segurança passiva esse para-choque favorece o efeito de cunha que vai multiplicar os danos. Pode causar decapitação de vítimas, multiplicações de lesões“, explica Kleinubung.

O caminhoneiro Airton Briotto Poleto confirma a observação do perito. “Eu já vi um acidente com essas remonta na Fernão Dias (BR-381). Matou o motorista que bateu na traseira e o chassis entrou dentro da cabine.”

Muitos caminhoneiros consideram que essa situação ocorre porque as montadoras são protegidas pelas autoridades. O caminhoneiro Sergio Luís Medeiros diz: “Alguns tem a permissão pra burlar leis.”

A sua opinião deste caminhoneiro é compartilhada por vários outros estradeiros que escrevem nas mídias sociais afirmações muito duras e algumas claramente sem provas sobre as autoridades de trânsito, sempre insinuando privilégios das montadoras.

Mas as imagens são indiscutíveis e o risco evidente. Portanto, as autoridades precisam impedir esse tipo de transporte. Assim como regulamentar o transporte de caminhões novos, para que tenhamos padrões de segurança semelhantes aos que as montadoras adotam nos seus países de origem.

Conforme o Estradas.com.br já mostrou em outras matérias, enquanto na Europa montadoras que também estão sediadas no Brasil, utilizam sempre caminhões pranchas e seguem rígidas normas de segurança, aqui entregam caminhões novos nas mãos de motoristas que saem pelas rodovias em comboios que mais parecem estar em corridas de Fórmula Truck.

Veja duas matérias produzidas pelo Estradas

O transporte perigoso de caminhões novos coloca vidas em risco nas estradas

Caminhões novos da Mercedes são flagrados em excesso de velocidade na Via Anchieta (SP-150)

Além da velocidade excessiva, como esses “cavalinhos” foram concebidos para tracionar toneladas, é comum os motoristas perderem o controle do veículo, principalmente em dias de chuva exatamente por estar dirigindo apenas o caminhão -trator.

Conforme ocorreu na semana passada quando um desses “cavalos trator” rodou em trevo entre rodovia estadual e federal, próximo de Ijuí (RS). Curiosamente, depois da saída de pista , com risco para o condutor e demais usuários da via, o veículo foi transportado de forma adequada.

DEPOIS: Somente depois do acidente o cavalo-trator foi transportado da forma correta. Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

Para o coordenador do SOS Estradas, Rodolfo Rizzotto, é preciso que as empresas utilizem os mesmos padrões de segurança que adotam na Europa. “Não há justificativa para montadoras transportarem caminhões novos aqui com padrões de segurança muito inferiores aos utilizados na Europa, onde estão suas matrizes. Até porque nossas rodovias são muito mais precárias, portanto, o risco de acidente aumenta.”

Rizzotto lembra ainda que essa postura não é somente com relação ao transporte de caminhões novos. Como autor do livro ‘Recall – O que as montadoras não contam’, investigou como montadoras escondem defeitos graves de fabricação dos proprietários dos veículos. “Observe que modelos de caminhões que são vendidos no Brasil e na Europa, são convocados pelas montadoras no velho continente por defeito grave e várias delas nunca fizeram um recall no Brasil. Será que o mesmo modelo só é fabricado com defeito na Europa e no Brasil é perfeito?

7 COMENTÁRIOS

  1. Incapacidade, estradas ruins e mal remuneração .Isso causa um efeito cascata falta de bons profissionais ,e capacitação zero assim como os veículos trafegados e fiscalização das montadoras deveria ser intenso começando por capacitação e valorização de quem está na área.

  2. Pura dor de cotovelos, um veiculo desse pesa em torno de 3,5 mil kilos ja fui gerente de uma transportadora desse ramo, nao tem nada a ver o que o falastrão ai diz, mola arqueadas para que, ele esta vendo um caminhão original que tem licença para ser transportados, quando o camarada é ruim de roda fala pelos cotovelos

  3. Saliento que não e só o perigo dos transportes da remonta e do cavalo-trator , não precisamos ir muito a fundo para ver que os condutores destes veículos de cargas tem uma remuneração ridícula, e muitas vezes desumanas, sendo assim acaba que estás transportadoras utilizam de mão de obra não qualificada, muitas vezes motoristas sem nenhuma experiência rodoviária seguem em rotas muito perigosas sem nenhum treinamento real, simplesmente dão orientações verbais, e o pior estas orientações são dadas por pessoas sem nenhum tipo de conhecimento real

    • Prezados Senhores Editores desta publicação, a qual não encontrei o expediente diretivo desta coluna.
      Acredito que todo o órgão de imprensa , visa informar e esclarecer fatos e informações .
      Ao ler algumas matérias publicadas nesta coluna , nota-se a preferência em CRIMINALIZAR um setor de transporte rodoviário bem antigo em nosso país e no continente Sul-americano. Falo aqui do transporte de CAMINHÕES ZERO KM RODANDO .
      Vamos partir em primeiro lugar, do volume de caminhões produzidos em nosso país nos ÚLTIMOS QUATRO ANOS , por todas as montadoras instaladas no Brasil , sejam elas, VOLVO , que a cada DEZESETE MINUTOS , FINALIZA QUALQUER MODELO DA MARCA , EM SUA LINHA DE MONTAGEM , isso em três turnos diários , SCANIA / MERCEDES BENZ / MAN / DAF/ VOLKSWAGEM , que produzem CAVALOS MECANICOS / SOBRE CHASSIS/ e ONIBUS . Foram resultados históricos nunca vividos antes, por estas montadoras sediadas no Brasil , confesso que não disponho destes números, mas há um fato peculiar neste cenário de absoluto sucesso em nossa economia, TODA ESSA PRODUÇÃO DE VEICULOS DE CARGA, EM TORNO DE 98% DELES , CHEGARAM AO SEUS DESTINOS RODANDO.
      Portanto é LEVIANO tomar como base , ocorrências pontuais de acidentes de trânsito, aqui ou ali , ou haver um veículo em desconformidade as normas do CTB, em prática GENERALIZADA !!!
      Vou montar aqui um paralelo , TRANSPORTE AÉREO ,considerado o meio de transporte mais seguro de nosso planeta . Mas de onde vem esta afirmação, simples , eles contabilizam o número de voos realizados no ano corrente , e dividem pelo número de acidentes AÉREOS ocorridos no mesmo período, da-se aí o número percapta da segurança nos voos .
      Lanço aqui um desafio aos senhores Editores desta coluna…!!!
      Façam o levantamento da produção nacional de caminhões nos últimos QUATRO anos , e dividam pelo número de ocorrências em acidentes de trânsito, envolvendo CAMINHÔES ZERO KM RODANDO .
      Concerteza o número será próximo a zero acidentes percapta , envolvendo CAMINHOES ZERO KM RODANDO , nas estatísticas globais , nas rodovias do Brasil e nas rotas do Mercosul .
      * Ler uma matéria jornalistas bem feita , é admirável, com seriedade fica eternizada …! Muito Obrigado pelo espaço…!!! Abraço a todos …!!!
      Nabor
      25.05.2023

      • Agradecemos sua contribuição. Entretanto, quando conversamos com responsáveis por outras montadoras que não Scania, Volvo e Mercedes não foi essa versão que encontramos. Veja o que disse o Diretor da DAF em entrevista que realizamos com ele, em que destacamos o trecho abaixo (link na íntegra: https://estradas.com.br/daf-caminhoes-vive-seu-melhor-momento-no-brasil/ )
        Transporte de caminhões novos com responsabilidade
        Um outro diferencial da DAF Caminhões é a forma como transporta os veículos novos, quando saem da fábrica em Ponta Grossa, no Paraná.

        De acordo com Fernandes, acima de tudo está a segurança de todos os envolvidos no processo, do início ao fim. “Nosso processo de entrega do produto é muito simples. Nós temos dois transportadores, que fazem a entrega para toda nossa rede de concessionárias no Brasil, que nós chamamos de ‘caminhões embarcados’, em pranchas. Nós entendemos que esse é um modelo que tem diversas vantagens, e dentre elas, a própria segurança, do motorista, a integridade do veículo e a agilidade na entrega ao cliente.”
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        Portanto, a não ser que o senhor prove de que o diretor da DAF deu informação que não procede, preferimos acreditar em quem adota procedimentos de segurança compatíveis com os que utiliza no seu país de origem. Demonstrando que os brasileiros merecem o mesmo padrão.
        Cabe ressaltar que não criminalizamos o setor de produção de caminhões e ônibus. Entretanto, não vamos tratá-los com ingenuidade. Até porque, a investigação feita por nosso editor sobre Recall, objeto do único livro sobre o tema (O QUE A MONTADORAS NÃO CONTAM) revelou que montadoras de veículos pesados como Volvo e Scania, realizam recall por defeito grave de fabricação nos seus países de origem mas aqui, os mesmos modelos nunca são convocados para recall. Por fim, nós lançamos um desafio ao senhor, prove que o transporte rodando é mais seguro e melhor para quem recebe o veículo do que o transporte em caminhão prancha. Porque as imagens que temos, os vídeos com verdadeiros comboios de “Fórmula Truck” usando estrada como pista de corrida provam justamente o contrário. Como nosso foco é segurança viária, até porque somos ligados a entidades de vítimas, acreditamos que empresas que usam a segurança como marketing há décadas, tem obrigação de realizar o transporte dos seus veículos de forma segura. Porque o transporte rodando tem apenas uma justificativa: REDUZIR CUSTOS. Muitas vezes pressionando, direta ou indiretamente, os motoristas a jornadas pesadas e com excesso de velocidade. Quanto aos dados e estatísticas, gostaríamos que realmente as autoridades disponibilizassem números confiáveis.

  4. Ainda bem que vc concorda que arquear as molas e isso é errado , isso porque consegui ver o erro .viu como e ser humano sabe quando erra .

  5. OS ACIDENTE ACONTECE POR CAUSA DA FALTA DE ATENÇÃO DOS MOTORISTA E TAMBÉM OS EXCESSO DE VELOCIDADE DOS MESMO 99 POR CENTO DOS ACIDENTES SÃO FALHA HUMANA E POR FALTA DE OBEDECER AS PLACAS DE SINALIZAÇÃO E TAMBÉM OS ACIDENTE ACONTECE EM PISTA EM BOA CONDIÇÕES DE TRÁFEGO.

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