Especialista em Trânsito, Roberta Torres, fala da importância em educar as crianças sobre as questões de Trânsito, desde cedo, nas escolas. Foto: Divulgação

Especialista em Segurança e Educação no Trânsito, Roberta Torres é autora do livro “Campanhas Educativas de Trânsito: uma metodologia de classificação”

Mestre em promoção da saúde e prevenção da violência pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pós-graduada em Gestão, Segurança e Educação no Trânsito, a professora Roberta Torres é autora do livro “Campanhas Educativas de Trânsito: uma metodologia de classificação”, da coleção A Escola e o Trânsito.

Torres apoiou a pesquisa e revisão técnica dos conteúdos pedagógicos para a minuta da Resolução que substituiria a de nº168/2004, do Conselho Nacional de Trânsito (Contran). A Resolução 168 estabelece normas e procedimentos para a formação de condutores de veículos automotores e elétricos; a realização de exames; a expedição de documentos de habilitação; e os cursos de formação, especializados e de reciclagem; entre outras providências.

A atualização da 168 acabou sendo suspensa em 2008, mas um novo normativo voltou à pauta do Governo Federal recentemente. Segundo Roberta, “não é preciso reinventar a roda” para reduzir a violência no trânsito, situação que qualifica como um problema de saúde pública.

“É preciso vontade política para agir”, defende, destacando que o Código de Trânsito Brasileiro, por exemplo, já prevê, desde a sua regulamentação, que a educação para o trânsito deva ser promovida pelas escolas, embora a medida não tenha avançado. Confira a entrevista completa.

1. Como avalia a formação de condutores no Brasil?

Conseguimos evoluir nos últimos anos com a determinação de cargas horárias obrigatórias, melhoria da estrutura dos CFCs (Centro de Formação de Condutores), e o avanço da tecnologia, que contribui para a celeridade dos procedimentos administrativos e de segurança da informação. Mas ainda há muito o que melhorar. Atualmente, temos uma matriz curricular escrita.

No entanto, os objetivos educacionais dessa matriz não estão estabelecidos, tanto na parte teórica quanto na pré-prática (simulador) e prática de direção. As avaliações não são padronizadas e também não buscam os mesmos objetivos educacionais da formação. Além disso, a formação dos profissionais que atuam nos CFCs e Detrans carece de uma mudança em sua estrutura pedagógica.

Isso tudo já foi desenvolvido, nos últimos anos, por meio da minuta da Resolução que substituiria a Resolução 168 do Contran, mas está parado há algum tempo. Não podemos perder todo o trabalho que foi desenvolvido e muito bem embasado.

2. Em 2018, a Seguradora Líder pagou 328.142 indenizações nas três coberturas oferecidas pelo Seguro DPVAT: morte, invalidez permanente e reembolso médico hospitalar. Como reduzir o número de acidentes fatais e graves, com sequelas permanentes, e tornar o trânsito menos hostil?

Não existe uma fórmula mágica. É preciso um conjunto de ações de vários setores para se chegar ao resultado que se espera. Desde ações de engenharia que visam a manter as vias e os veículos seguros, passando pela fiscalização eficiente e pelas ações educativas, tanto dentro das escolas quanto por meio das campanhas educativas.

Mas, para tudo isso, é necessário ter vontade política para agir. Planejar é importante, avaliar as metodologias idem, mas ambas, sem ação, permanecerão no papel e de nada adiantarão. Enquanto os governos não assumirem que a violência no trânsito é um problema de saúde pública, que precisa ser tratado como tal, e pararem de apenas querer agradar parte da sociedade, não iremos avançar muito.

Isso porque, quando se cria uma Política Pública de melhoria da vida da sociedade como um todo, uma parcela dela necessariamente vai ficar incomodada, porque muitas pessoas querem continuar agindo como se fossem as únicas do universo.

3. O que falta para tornar a educação para o trânsito mais efetiva?

Reforço que é preciso haver vontade política. Investir naquilo que já está previsto na legislação. Não é preciso reinventar a roda. O Código de Trânsito Brasileiro já prevê, desde quando foi regulamentado, que a educação para o trânsito deva ser promovida dentro das escolas e até hoje isso não foi posto em prática. É preciso criar planos de segurança que sejam integrados e desenvolvidos com base em pesquisas e estudos de outros países, que já tenham tido resultados.

Claro que adaptações são necessárias para atender as necessidades e características do país, mas, por exemplo, se os países com baixos índices de mortes no trânsito seguem a orientação da OMS sobre redução de velocidade nas vias ou investimentos em educação, por que ir na contramão? Hoje, faltam estudos que analisem os prós e contras das atitudes tomadas e das consequências de uma determinação ou mudança.

Fonte: Seguradora Líder

2 COMENTÁRIOS

  1. Como sempre, excelentes considerações de Roberta Torres.

    Redação, no terceiro parágrafo há uma pequena falha de digitação, em “A atualização da 168 acabou sendo suspensa em 2008, mas um novo normativo voltou à pauta…”.
    O ano precisamente é 2018.
    Parabéns pela matéria!

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