O SOS Estradas realizou pesquisa inédita com a análise de 1.000 (mil) acidentes rodoviários com participação de caminhão ou carreta, com vítima fatal e registrados pela imprensa entre os dias 01 de novembro de 2015 e 11 de fevereiro de 2017, por grandes veículos de comunicação. O levantamento, que não teve a preocupação de identificar os culpados, permitiu identificar que 50% dos ocupantes de caminhão morrem em acidentes sem o envolvimento de nenhum outro veículo. Outros 32% morrem em acidentes com participação apenas de caminhões. Apenas 18% dos ocupantes de caminhão morrem em acidentes com outros veículos. Por outro lado, em 363 acidentes envolvendo 1 caminhão e 1 automóvel morreram 17 ocupantes de caminhão e 605 ocupantes de automóvel. Média de 1 ocupante de caminhão morto para 35 ocupantes de automóveis, sete (7) vezes maior que a americana onde essa proporção é de 1 por 5.

Quem mata caminhoneiro é caminhoneiro

Foram analisados 175 acidentes de caminhão, em que aparentemente não houve a participação de nenhum outro veículo. Portanto, somente um único caminhão envolvido. Nestes casos morreram 217 ocupantes de caminhões, entre motoristas e outros ocupantes da cabine (ajudante, esposa, filho, etc). Já nos demais 825 acidentes, com a participação de outros veículos, ciclistas, pedestres e até trator, morreram 214 ocupantes de caminhão. Portanto, apesar de representar apenas 17,5% dos acidentes apurados, 50,3% das mortes de ocupantes de caminhões ocorreram quando não havia nenhum outro veículo envolvido. Além disso, os acidentes de caminhões com outros veículos, sem contar caminhões, apesar de representar 70,8% dos acidentes produziram apenas 18,2% do total de mortos dos ocupantes de caminhão.

 Acidentes Mortos    % Total mortos
Um Único Caminhão 175 217             50,3%
Dois caminhões 99 114             26,4%
De 3 até 5 caminhões 18 22               5,1%
Caminhões e outros veículos 708 78              18,2%

Total                                              1.000                431                         100%

Dentre os vários tipos de acidentes entre caminhões/carretas e outros veículos, o segundo caso com maior índice de mortes de ocupantes de caminhão foram acidentes envolvendo dois caminhões. Nestes casos, 99 acidentes apurados produziram 114 mortes de ocupantes das cabines desses veículos, o que representa 26,4% das mortes desses profissionais e seus acompanhantes, em 11,4% dos acidentes levantados. Somente nestes dois tipos de acidentes: caminhão sozinho ou acidente com dois caminhões, registramos 331 mortes, ou seja, 76,8% dos óbitos de ocupantes destes veículos.

Outro aspecto importante a ser considerado é o número de feridos. No caso dos acidentes de caminhão, sem envolvimento de nenhum outro veículo, apesar de provocarem 217 mortes deixam apenas 74 feridos nos caminhões. Isto revela que a maioria dos casos os motoristas estão dirigindo sozinhos, o que aumenta os riscos da fadiga.

Somando-se ainda os acidentes com três , quatro e cinco caminhões, sem outro tipo de veículo envolvido, são mais 22 mortes, totalizando 353 mortes de caminhoneiros ou ocupantes desses veículos. Portanto, podemos afirmar que 82% das mortes com ocupantes de caminhões ocorrem em acidentes em que não há nenhum veículo de outro perfil envolvido. Isto revela que caminhoneiros morrem, em mais da metade dos casos, quando estão sozinhos e mais de 32% quando se chocam com outro caminhão, ou seja, quem mata caminhoneiro nas estradas é o caminhoneiro.

Acidentes entre carro e caminhão deixam 35 mortos nos leves para cada morto no pesado

No levantamento foram apurados 363 acidentes com presença de 01 caminhão e 01 automóvel. Estes acidentes produziram 17 mortes nos caminhões e 605 nos automóveis. Foram 86 feridos nos caminhões e 176 nos carros. O que significa que, em média, em cada acidente envolvendo 01 caminhão e 01 automóvel, teremos 35 mortos nos automóveis para cada ocupante de caminhão morto. É interessante observar que a mesma relação não existe entre feridos. Foram pouco mais de 2 feridos em automóveis para cada caminhoneiro ferido. O que indica que os acidentes de carros com caminhões são tão violentos que é mais provável o ocupante do carro morrer do que ficar ferido.

Acidentes de caminhões com motocicletas, pedestres e pick ups

Outro caso impressionante é de acidentes com motocicletas. Foram registrados 159 acidentes com 01 caminhão e 01 motocicleta. Nesses acidentes morreram 04 ocupantes de caminhão e 169 de motocicleta. Foram 8 caminhoneiros feridos e apenas 28 ocupantes de moto. O que revela o enorme grau de letalidade dos acidentes de caminhões com motos. O mesmo ocorre com pedestres. Nos 19 acidentes entre 01 caminhão e 01 pedestre foram 19 mortos pedestres e apenas 01 caminhoneiro ferido.

Nos 24 acidentes entre 01 caminhão e 01 ônibus encontramos 9 mortos nos caminhões e 49 nos ônibus.  Feridos foram 02 ocupantes de caminhão e 266 nos ônibus. Portanto, 11 vítimas entre feridos e mortos nos caminhões e 315 nos ônibus. Nestes caso, como ambos os veículos envolvidos são pesados, a letalidade é semelhante. A diferença está no número de passageiros mortos, já que os ônibus carregam muito mais gente.

Foram encontrados 30 acidentes entre 01 caminhão e 01 pick up que deixaram 01 morto nos caminhões e 52 nas pick ups. Foram 10 feridos nos caminhões e 16 nas pick ups. Portanto, é semelhante ao caso dos acidentes com automóveis e 01 caminhão, onde a possibilidade do ocupante da pick up morrer é muito maior do que ficar ferido.

Outro tipo de acidente importante são os que envolvem caminhões e vans. Nesse caso apuramos 13 acidentes com 1 caminhoneiro morto e 22 passageiros de van, além de 4 ocupantes de caminhão feridos e 20 nas vans.

Para o Coordenador do SOS Estradas, Rodolfo Rizzotto, a pesquisa demonstra que é preciso uma política rigorosa na fiscalização dos veículos pesados. “Independente da culpa essa proporção de 1 morto no caminhão para 35 no carro é inaceitável. Precisamos fiscalizar com rigor os veículos pesados e ao mesmo tempo conscientizar os condutores de veículos leves que é preciso respeitar os caminhões e tomar muito cuidado ao compartilhar a estrada com eles. Afinal, a possibilidade de morrer é 35 vezes maior.”

Na avaliação de Rizzotto, deve-se destacar a importância da realização dos exames toxicológicos de larga janela como forma de combater a exploração dos profissionais das estradas. ” Vários estudos já comprovaram o aumento do uso de drogas por parte de motoristas profissionais. Na maioria dos casos eles usam essas substâncias para suportar a jornada e acabam cedendo as pressões de maus embarcadores e maus transportadores para realizarem viagens que praticamente os obrigam a usar drogas para ficar acordados. Isso explica em parte que mais de 50% dos acidentes ocorrem sem o envolvimento de nenhum outro veículo. É o caminhoneiro sózinho na estrada que cochicla pela fadiga ou simplesmente apaga quando passa o efeito da droga. Na medida que o exame se tornou obrigatório e, como detecta o uso nos últimos 90 dias, muitos caminhoneiros estão se recusando a usar rebite ou drogas. Isso reduz o risco de acidentes com motoristas sobe efeito de substâncias psicoativas. O que estamos convictos é da necessidade de melhorar as condições de vida dos motoristas profissionais, sejam eles autônomos ou empregados. Porque a exploração dessa mão de obra beneficia alguns segmentos econômicos mas está custando vidas humanas nas estradas.”

Leia mais sobre o estudo clicando aqui : Pesquisa dos 1000 acidentes mortais de caminhão do SOS Estradas