Mesmo que existisse uma mureta no local, o desfecho do ônibus que despencou de uma ribanceira no dia 22 de dezembro do ano passado, na rodovia Régis Bittencourt, em São Lourenço da Serra (SP), não teria sido diferente. A informação foi prestada por um responsável da área de engenharia da concessionária Autopista Régis Bittencourt, que detém a concessão da estrada. O acidente matou 15 pessoas e feriu mais de 30.

O testemunho de um representante da concessionária foi uma das poucas novidades nas investigações nas últimas semanas. Em entrevista ao R7, delegado Flavio Luiz Teixeira, que conduz os trabalhos da polícia, explicou que todos os laudos de responsabilidade do IC (Instituto de Criminalística) e do IML (Instituto Médico Legal) ainda não foram entregues, passados 43 dias da tragédia.

— Acredite ou não, nenhum laudo chegou ainda. O que acontece é aquilo: depois de um prazo de um mês sem a chegada dos laudos, o que posso fazer é outro pedido de urgência, de agilidade. Mais do que isso não há o que fazer, tem que aguardar. Nem os exames necroscópicos das vítimas fatais chegaram ainda.

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Delegado afirma que documentos de empresa não apontam irregularidades

Apenas a chegada dos laudos pode alterar a linha de investigação, que desde o início aponta para uma “fatalidade”. Assim, o motorista Oseas dos Santos Gomes, de 56 anos, que conduzia o ônibus da Viação Nossa Senhora da Penha no momento do acidente, tende a ser indiciado por homicídio culposo, ou seja, quando não há intenção de matar. Isso só mudará se o laudo toxicológico ou o referente ao tacógrafo apontarem irregularidades, como ingestão de drogas ou alta velocidade.

Enquanto isso, a polícia já encaminhou mais de 30 cartas precatórias para diversos pontos do País, a fim de obter os relatos de todas as pessoas que ficaram feridas no acidente. O processo, que depende do auxílio da polícia de cada região para avançar, deve levar meses, segundo Teixeira. Com isso, o delegado prefere não estimar prazos para a conclusão do inquérito, ou definir se a empresa de ônibus ou a concessionária da Régis serão responsabilizadas, em algum grau, pela tragédia.

— (O responsável da concessionária) disse que, devido ao tamanho e peso do ônibus, qualquer defensa metálica não impediria o ônibus de cair ali. Mas é óbvio que é o lado da concessionária. Vou esperar a chegada do laudo referente ao tacógrafo do ônibus, para saber a velocidade que estava no momento do acidente, e ver com o nosso perito aqui, para que ele faça uma análise no local dos fatos e comprove ou não que uma defensa faria diferença ou não.

O acidente

Um ônibus da empresa Nossa Senhora da Penha saiu às 20h15 de sábado (21) de Curitiba (PR) e seguia para o Rio de Janeiro (RJ), onde deveria chegar por volta das 9h30 de domingo (22). O veículo de dois andares levava 54 pessoas — 53 passageiros mais o motorista —, quando capotou em uma ribanceira em São Lourenço da Serra, na Grande São Paulo, por volta das 2h de domingo.

Treze passageiros morreram na hora. Ao todo 32 pessoas foram levadas a hospitais da região. Dessas, uma morreu a caminho do hospital e outra algumas horas depois, na UTI. De acordo com a funerária que fez o translado dos corpos, seis vítimas foram levadas para Curitiba, outras seis para o Rio de Janeiro, uma para o Acre, uma para Santa Catarina e o corpo de um jovem de 19 anos foi cremado na capital paulista.