O Estradas.com.br entrevistou o novo Diretor Geral da Polícia Rodoviária Federal, Renato Antônio Borges Dias.

Ele foi presidente do Sindicato da PRF de Goiás e exercia o cargo de diretor parlamentar da FenaPRF. Natural de Cristianópolis/GO, o novo Diretor-Geral entrou na corporação em 1994. Ele falou sobre suas metas e dificuldades, dentre elas a falta de efetivo. Segundo estimou seriam necessários cerca de 20 mil patrulheiros para atender as necessidades da fiscalização das rodovias federais.  Dias também informou que a PRF , apesar de ser originalmente uma polícia de trânsito, é atualmente a corporação que mais apreende drogas no país.  Leia a íntegra da entrevista exclusiva.

1-Quais são as prioridades da sua gestão?

R: São inúmeros desafios. Mas, dentre as prioridades, podemos elencar que estão o reforço do policiamento nas fronteiras, com inteligência, tecnologia e efetivo; o fortalecimento do policiamento no eixo Rio-São Paulo, para combater, sobretudo, a alta incidência de roubo de cargas na região;  é importantíssimo incrementar nosso orçamento, melhorando a estrutura da PRF em todo o país, principalmente na região norte e em locais menos favorecidos.

Em linhas gerais, precisamos ainda sensibilizar o governo pra aprovar concurso, direcionando verbas e condições mínimas pra melhorarmos o policiamento das rodovias, visando um serviço de segurança pública de excelência a toda a sociedade brasileira, com cidadania, presteza, e dignidade, entregando resultados mais eficientes a cada dia.

2- O que é necessário para que a PRF possa cumprir na plenitude?

R: Precisamos de apoio governamental, seja para nos conceder um orçamento digno das responsabilidades que cumprimos, seja para conseguirmos efetivo para o desenvolvimento de todas nossas atribuições, sempre com foco na prestação de um serviço público de excelência ao cidadão brasileiro.

3) Atualmente quantos patrulheiros estão na pista diariamente por quilômetro de rodovia fiscalizada?

R: Tal número é bastante variável, considerando os inúmeros trechos de rodovias e estradas federais que cobrimos, com cerca de 71.000km, para serem policiados por cerca de 10.000 PRFs. Considerando as demandas administrativas, os regimes de escala, bem como as complexidades de cada trecho, dificilmente temos mais de 2.000 homens ou mulheres por dia, para toda a malha viária federal. Mas a alocação destes policiais é feita de forma estratégica, considerando a sensibilidade e particularidade de cada local.

4) Com frequência a mídia debate a suposta indústria da multa. Na sua avaliação temos uma indústria da multa ou uma fábrica de infratores?

R: Absolutamente não. O policial não ganha absolutamente nada para lavrar um auto de infração, de qualquer natureza. Existem, obviamente, indicadores de trabalho para avaliar o trabalho do servidor, que influenciará nas férias, promoções e oportunidades de cursos para os policiais, mas a quantidade de autuações é somente um entre muitos indicadores. Da mesma forma, a PRF não recebe um centavo sequer pelas multas arrecadadas, sendo todos os valores recolhidos diretamente ao Tesouro da União. O que existe, sem dúvida, é uma política de efetiva fiscalização das Leis de trânsito nas rodovias federais, sempre pensando em diminuir índices de acidentalidade, e visando tornar o trânsito mais respeitado e, principalmente, mais seguro.

5) Como combater os abusos cometidos nas rodovias pelos maus condutores?

R: Acreditamos que é necessário um misto de ações. Educação, fiscalização, e conscientização, certamente estão entre os pilares para que o índice de abusos diminua. Os condutores precisam saber dos riscos que correm ao cometer abusos, e também ter a certeza de que podem ser punidos por isto. Além da atuação direta dos policiais, ferramentas tecnológicas e de inteligência também podem contribuir muito para a diminuição dos abusos.

6) Uma das principais causas dos acidentes com veículos pesados é o excesso de jornada desses profissionais. Como a sociedade pode contribuir para que essa exploração diminua?

R: A contribuição da sociedade pode se dar na conscientização e cobrança de leis mais rígidas que limitem o tempo de jornada e também impliquem punições a quem descumpri-las. Além disso, é importante que a própria categoria profissional se conscientize que o excesso de trabalho, apesar de teoricamente mais rentável, gera consideráveis riscos de acidentes e prejuízos a longo prazo que implicam diretamente na saúde do motorista. Há de se trabalhar em conjunto com as empresas para evitar situações de abuso da legislação aplicável.

7) Nos 1.000 acidentes de caminhão com vítima fatal que pesquisamos ficou comprovado que mais de 50% dos ocupantes de caminhão morrem em acidentes sem a presença de nenhum outro veículo. Outros 32% dos ocupantes de caminhão morrem em acidentes entre caminhões. Portanto, quem mata caminhoneiro é caminhoneiro. Qual sua avaliação sobre esses dados?

R: De acordo com as estatísticas, percebe-se o grande risco da atividade de motorista profissional, aliado a fatores, em princípio, decorrentes de suas próprias atitudes, que podem ser evitados. Evidente que nestas estatísticas também há questões de falhas mecânicas e fatores alheios ao condutor, mas, de fato, muitos acidentes são atribuídos a sono, excesso de carga horaria, uso de drogas ou medicamentos, e também a desrespeito às leis e sinalização de trânsito.

8) Por outro lado, nos 363 acidentes envolvendo 1 automóvel e 1 caminhão registramos a morte de 17 ocupantes de caminhão e 605 ocupantes de automóvel. Portanto, a proporção é de 35 ocupantes de automóvel mortos para cada ocupante de caminhão que perde a vida nesses acidentes. O que é possível fazer para mudar esses números?

R: É uma discussão bastante sensível. Por questões físicas, naturais, é claro que os veículos de menor porte ficam sujeitos a maiores danos quando em colisão com veículos de maior porte. Além do incentivo à construção de rodovias com mais pistas, situações de restrições de trafegabilidade em dias, locais e horários de pico, a redução do índice geral de acidentalidade deve ser buscada para minimizar as mortes no trânsito, de uma maneira geral.

9) O uso de drogas por motoristas profissionais é muitas vezes estimulado pela exploração dessa mão de obra. Ao mesmo tempo, a proximidade com os traficantes faz com que os caminhoneiros sejam assediados para dar informações sobre cargas valiosas de colegas, transportar pequenas quantidades de drogas e depois grandes quantidades, disfarçadas em meio a cargas legalizadas, ou seja, passam a fazer parte da logística do crime. Na sua avaliação isso explica porque hoje a PRF apreende mais drogas somente nas rodovias que a Polícia Federal em todo território nacional?

R: A PRF é responsável pela apreensão de mais de 80% da maconha no país todo, com significativa participação na apreensão de cocaína, estimulantes, e outras drogas. Sem dúvidas, a logística criminal encontra larga disseminação junto ao transporte de cargas, e é alavancada quando em conjunto com o uso e tráfico de drogas, de um modo geral. Os fatores relatados contribuem sobremaneira para a maior apreensão de drogas pela PRF nas rodovias, mas existem também outros fatores associados, que vão desde a lógica econômica do país, ao modelo de segurança pública adotado, às políticas criminais de um modo geral, o fluxo de valores envolvidos, passando também pelo próprio trabalho de inteligência desenvolvido pela PRF, além da expertise dos nossos profissionais, dentre outros fatores envolvidos.

10) Qual a importância do exame toxicológico de larga janela, que já é exigido dos patrulheiros no ingresso na corporação, para evitar acidentes provocados por motoristas portadores de habilitação C, D ou E, que são usuários regulares de drogas?

R: Vital importância! Pesquisas têm sido desenvolvidas e estatísticas coletadas no sentido de que, com a exigência do exame de larga janela, a tendência é que menos condutores façam uso de drogas e, consequentemente, menos acidentes ocorram nas rodovias. Além disto, tal mecanismo ajuda no controle de doenças que acometem os motoristas, desde vício em drogas até outras que são desencadeadas ou prejudicadas pelo consumo de drogas.

11) Qual seria o efetivo ideal da PRF para realizar o seu trabalho na plenitude nas rodovias federais?

R: Legalmente temos mais de 13.000 vagas. O ideal seria muito mais que isso, todo tanto que recebermos de efetivo, podemos retribuir em serviços bem prestados à sociedade, e damos retorno! Difícil dizer um ideal, mas talvez algo em torno de 20.000. Mas sabemos das limitações orçamentárias do governo, e infelizmente temos feito o melhor para prestar o serviço público decente, mesmo com atualmente cerca de somente 10.000 policiais.

12) No início do processo de concessão de rodovias houve muita preocupação em melhorar as condições das estradas mas pouco em exigir das concessionárias que melhorassem as condições das instalações da PRF. Nas novas concessões de rodovias o que deveria ser incluído como obrigação contratual para apoiar e garantir melhores condições da PRF realizar seu trabalho?

R: Muito tem se trabalhado neste sentido. Estamos em tratativas com o governo para melhorar estruturas básicas, como instalações, viaturas, equipamentos, e também mecanismos de utilização de tecnologia e inteligência para melhorar nossa eficiência. Sempre com vistas à entrega social. Desta maneira, seria de muita valia o apoio de todas as categorias aqui representadas para que a PRF receba, de fato, investimentos das concessionárias quando das licitações de trechos de rodovias.