De acordo com Alysson Coimbra, é preciso adotar medidas de segurança para jovens motociclistas
Em entrevista para a newsletter Líder Informa, o médico Alysson Coimbra, diretor da Associação Mineira de Medicina de Tráfego (Ammetra) falou sobre a importância da implementação de medidas de segurança para jovens motociclistas. Preocupado com o cenário violento, o médico diz que o trânsito cria um “exército de jovens com sequelas permanentes”. Sobre os números do Seguro DPVAT, ele afirma que “os dados divulgados pela Seguradora Líder sempre direcionam nossas ações e divulgações sobre o trânsito”. Confira abaixo a entrevista completa.
1. Como você analisa os impactos da pandemia no trânsito e a retomada das atividades?
A partir da flexibilização do isolamento, percebemos duas curvas elevadas: de novos casos de contaminação pela COVID-19 e de acidentes de trânsito. Se nenhuma delas for contida através da retomada de medidas protetivas e redução da circulação de veículos, o Sistema de Saúde poderá entrar em colapso. O trânsito continua com sua característica epidêmica de letalidade, de gravidade e de necessidade de hospitalização.
2. De acordo com dados da Seguradora Líder, quase 80% das indenizações no primeiro semestre deste ano foram pagas para jovens motociclistas. Por que as motos ainda estão envolvidas na maioria dos acidentes?
Esse fenômeno das duas rodas se deve, principalmente, a dois fatores: o baixo custo de aquisição dos veículos e a baixa necessidade técnica para a condução. Além disso, a forma de avaliação desses condutores é outro ponto que merece atenção. Na maioria das vezes, são usadas pistas já programadas, circuitos pré-definidos e não os seus locais de atuação como vias de trânsito rápido e estradas. Essa privação de uma boa eficiência técnica para condução está refletida no alto número de acidentes.
Um exército de jovens com sequelas permanentes, incapacitados, que oneram não só o Sistema Único de Saúde, no tratamento das feridas e nas hospitalizações prolongadas, mas também nas solicitações precoces de aposentadoria junto à Previdência Social. Sem falar no dano pessoal de uma vida produtiva que se interrompe por um acidente grave de trânsito. Precisamos de políticas mais direcionadas para os motoristas e que garantam um trânsito mais seguro e também a existência de avaliação psicológica em intervalos regulares, não é aceitável que esse laudo seja definitivo. Estes condutores, em sua maioria jovens, ainda estão em suas formações intelectuais e mentais e, muitas vezes, por falta de medo, se arriscam e se envolvem em acidentes graves, colocando também em risco a vida de todos os outros integrantes do Sistema Nacional de Trânsito.
3. Como tornar o trânsito menos violento, reduzindo o número de acidentes fatais?
Nós acreditamos que somente a partir do envolvimento de todos os integrantes do Sistema Nacional de Trânsito, que são os motoristas, passageiros, pedestres e ciclistas isso poderá acontecer. Cada um entendendo seu papel e sua função, convivendo de maneira harmônica, respeitando espaços coletivos, seus direitos e deveres. Nenhuma necessidade pessoal pode ser mais importante que a segurança viária.
É preciso um espírito coletivo, em que as pessoas entendam seu papel. É necessário que as pessoas compreendam a necessidade de realizarem exames de rotina para o cuidado de sua saúde, e entender que a avaliação de motoristas e candidatos a motoristas deve ser feita somente por médicos especialistas em medicina de tráfego e psicólogos especialistas em psicologia do trânsito. Só isso vai efetivamente garantir que o condutor tenha aptidão física e mental para condução veicular.
Precisamos que nossos governantes defendam leis mais rígidas e que o Poder Judiciário cumpra seu papel punitivo. Estamos num momento em que se prioriza muito a flexibilização das leis de trânsito, mas é necessário olhar para medidas que reduzam o número de acidentes, mortos e feridos. A população já não aguenta mais pagar com a própria vida.
Fonte: Seguradora Líder